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Com máscara no rosto, Jair Bolsonaro concedeu uma coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, na tarde desta quarta-feira (18), para detalhar as ações do governo federal no combate ao coronavírus. Acompanhado de nove ministros de governo, o presidente compilou várias medidas adotadas nos últimos dias para conter a crise causada pela doença, em uma tentativa de mostrar liderança no enfrentamento da covid-19. Ele, no entanto, não admitiu ter subestimado o vírus.
“Num primeiro momento, ninguém ficou preocupado com isso, nem no Brasil, nem no mundo”, disse. Bolsonaro voltou a insistir que existe “histeria” em torno do novo coronavírus no Brasil. Para ele, o “sentimento de histeria” começou após o dia 15 de março, data em que manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) foram registradas em várias cidades do país.
Bolsonaro foi duramente criticado por ter participado de um ato em Brasília, em frente ao Palácio do Planalto, sem máscara e fazendo contato físico com mais de 200 pessoas enquanto ainda aguardava o resultado da contraprova do exame que havia feito para saber se estava com coronavírus. Quase 20 pessoas que integraram a comitiva presidencial a uma viagem aos Estados Unidos foram infectadas.
“O povo, em grande parte, resolveu por livre e espontânea vontade comparecer às ruas. Essa concentração de pessoas em todo o Brasil foi abaixo de 1 milhão, ou próximo de 1 milhão. Isso equivale a menos de 20% das concentrações que existe diariamente, por exemplo, no município de São Paulo por ocasião dos transportes coletivos. Por volta de meio dia do dia 15 eu vim aqui a este prédio e cumprimentei os brasileiros que estavam ali fora, em grande parte meus eleitores. Estive ao lado do povo, sabendo dos riscos que eu corria, mas nunca abandonarei o povo brasileiro”, disse Bolsonaro.
"Isolamento político" de Bolsonaro incomodou
O presidente foi isolado pelos demais poderes na tentativa de encontrar soluções para a crise. Na segunda-feira (16), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, participou de uma reunião com os presidentes do STF, Dias Toffoli, da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O aumento no protagonismo do ministro da Saúde, um dos quadros técnicos do governo, enquanto Bolsonaro chamava o novo coronavírus de “fantasia”, incomodou o presidente, segundo veículos da imprensa nacional.
O presidente também aproveitou a coletiva desta quarta-feira para, como de costume, atacar a imprensa e adversários políticos, como o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que tem adotado medidas duras para combater o avanço da pandemia no estado. “Tivemos há alguns dias o exemplo de um governador que quis impedir os brasileiros de irem à praia. Não só foi um fracasso, bem como aumentou o número de pessoas que foram à praia”, disse o presidente.
“Minha obrigação como chefe de Estado é antecipar problemas e levar verdades, mas que essa verdade não passe o limite do pânico”, disse o presidente. “É uma questão grave, mas não podemos entrar no campo da histeria”, completou Bolsonaro, sobre o coronavírus. “É grave, é preocupante, mas não chega ao campo da histeria ou da comoção nacional”, completou.
Nesta semana, o país registrou as primeiras mortes por causa da doença. Foram três mortes em São Paulo — a primeira anunciada na terça-feira (17).
Mais dois ministros que acompanharam Bolsonaro à viagem aos Estados Unidos tiveram testes positivos para o novo coronavírus nesta quarta-feira (18): o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Por isso, Bolsonaro e os nove ministros que participaram da coletiva desta quarta-feira estavam usando máscaras de proteção.
Participaram da coletiva os ministros da Economia, Paulo Guedes; o presidente da Anvisa, Antônio Barra; o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro; da Defesa, Fernando Azevedo e Silva; da Infraestrutura, Tarcísio Freitas; do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho; da Casa Civil, general Braga Neto; e da Saúde, Henrique Mandetta.
Na coletiva, Mandetta anunciou que o Ministério da Saúde deve lançar ainda nesta semana um serviço de telefone para monitorar pessoas doentes. “Teremos dias duros, teremos semanas cansativas, onde esse assunto vai nos trazer extremo estresse”, disse o ministro. “Vamos passar [por isso], teremos dias difíceis, mas o Brasil já passou por momentos mais dramáticos que esse na sua história”, completou.