Ao desembarcar nesta quinta-feira (27) no Japão para o encontro do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), o presidente Jair Bolsonaro rebateu a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e disse que o Brasil "tem exemplo para dar para a Alemanha" sobre meio ambiente. Na quarta-feira (26), Merkel havia dito ver com grande preocupação as ações de Bolsonaro sobre o desmatamento e que a situação do Brasil é "dramática".
"O presidente do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores, que vieram aqui para ser advertidos por outros países, não. A situação aqui é de respeito para com o Brasil. Não aceitaremos tratamento no passado como alguns chefes de Estado tiveram aqui", disse Bolsonaro a jornalistas na chegada ao hotel em Osaka, onde irá se hospedar pelos próximos dois dias.
Bolsonaro e Merkel: ouça o que o presidente disse
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Bolsonaro e Merkel: brasileiro diz que não vê problema em se encontrar com ela
Apesar de criticar a alemã, o presidente brasileiro disse que não vê "problema nenhum" em ser abordado por Merkel para falar sobre desmatamento. "Nós temos exemplo para dar para a Alemanha sobre meio ambiente. A indústria deles continua sendo fóssil, em grande parte de carvão, e a nossa não. Então eles têm a aprender muito conosco", disse Bolsonaro. Não há previsão de encontro oficial entre os dois durante o G20 até o momento.
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O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, também comentou nesta quinta-feira (27) sobre as declarações de Angela Merkel. Ele disse que países como a Alemanha têm interesse em explorar florestas brasileiras no futuro e, por isso, dão "palpite" na política ambiental do Brasil.
Visivelmente cansado e irritado, Bolsonaro culpou a imprensa ao comentar a fala de Merkel. "Eu vi o que está escrito e, lamentavelmente, em grande parte o que a imprensa escreve não é aquilo", disse. Advertido por um jornalista que as observações de Merkel foram publicadas pela imprensa estrangeira, e não brasileira, Bolsonaro respondeu: "Não interessa que foi alemã, e deixa eu terminar o raciocínio. Então tem que fazer a devida filtragem pra não se deixar contaminar por parte da mídia escrita, especialmente".
"O que não pode é país dar palpite no Brasil. A gente não dá palpite em ninguém. Por que a gente não dá palpite no meio ambiente da Alemanha? Quais são as florestas que o europeu preservou? Vejam o que a Europa tinha de floresta no início do século e o que tem hoje. Nunca lembraram disso, agora vêm pra cima do Brasil? É muita coincidência, né, um país rico como o Brasil é e eles vêm cobrar a preservação do meio ambiente da gente", disse o ministro.
Ele disse não ter "nenhuma dúvida" de que há uma estratégia econômica por trás da preocupação com o meio ambiente no País. "Estratégia para preservar o meio ambiente do Brasil para eles mais tarde explorarem. Cheio de ONG por trás deles, ONG sabidamente a serviço de governos estrangeiros, vocês têm que ler mais um pouco sobre isso, viu? Vocês estão muito mal informados", afirmou. "Veja quantas ONGs têm na Amazônia, o número até hoje ninguém conseguiu calcular, mas eu garanto que é muita ONG", afirmou, dizendo que é preciso "limitar a atuação" das organizações não governamentais.
"O que o Brasil não pode é abrir mão das riquezas em prol de mais tarde essas riquezas serem exploradas pelo estrangeiro. Número dois: hoje pela lei, 80% das propriedades da Amazônia têm que ser preservadas. É justo você comprar uma propriedade e 80% você não poder mexer? Não poder fazer nada?", criticou o ministro.
Bolsonaro terá 7 reuniões bilaterais no G20
Durante a breve entrevista com jornalistas em Osaka, Bolsonaro deu respostas curtas a perguntas sobre a participação do Brasil na reunião das 20 maiores economias do mundo. "Vamos ouvir e falar", disse Bolsonaro sobre o G20. Questionado sobre o que pretende dizer, Bolsonaro devolveu a pergunta a um jornalista: "O que você quer que eu fale?". Na sequência, o presidente brasileiro disse que irá falar sobre indústria, internet e meio ambiente.
Na programação do G20 há previsão de que ele se manifeste duas vezes: a primeira em um pronunciamento de 5 minutos e a segunda, de 3 minutos. "Tudo o que estiver na pauta nós falaremos, bem como se formos questionados por alguma coisa temos certeza que estamos prontos para resolver", afirmou Bolsonaro.
O presidente terá ainda sete reuniões bilaterais, incluindo encontros com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e com o líder chinês, Xi Jinping. Questionado sobre o tema do encontro com Trump, Bolsonaro se limitou a responder que "se é reservada (a conversa), é reservada". O encontro acontecerá na sexta-feira, 28, e será o segundo do brasileiro com Trump.
Na campanha eleitoral, Bolsonaro criticou a relação comercial do Brasil com a China. Em março, nos jardins da Casa Branca, o brasileiro mostrou alinhamento total de seu governo às políticas de Trump e evitou tomar lado na guerra comercial travada entre o presidente dos EUA e a China – um dos principais temas que o mundo observa com atenção em Osaka. Trump e Xi devem se encontrar no sábado para mostrar em que pé estão as negociações entre os dois países. O resultado terá poder para encerrar ou para intensificar a escalada de tarifas dos dois lados.
Bolsonaro disse que o Brasil não tem lado na disputa e que está buscando "harmonia", apesar de reconhecer que o país se beneficiou com a exportação de commodities no cenário de guerra comercial entre os dois países. "Não (tem lado), lógico que os produtos da China para os Estados Unidos e para cá em parte interessam ao Brasil, porque tem a questão de commodities. Então obviamente a gente não quer que haja briga para gente poder se aproveitar. A gente está buscando paz e harmonia, como estamos trabalhando no caso do Mercosul e na União Europeia", disse.
O ceticismo de Bolsonaro sobre o investimento chinês no Brasil foi explorado na edição especial do jornal The Japan Times sobre o G-20. A publicação traz um pequeno perfil com foto dos líderes que se encontrarão na cidade a partir de sexta.
Nesta quinta-feira, o único compromisso de Bolsonaro em Osaka é um jantar privado.
Porta-voz comenta irritação de Bolsonaro e prisão de militar com cocaína
Após a curta entrevista, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, justificou, por duas vezes, o comportamento de Bolsonaro com jornalistas. "Irritação é porque ele acabou de chegar aqui e tem que descansar para amanhã já estar disposto para cooperar no G20 e no Brics, para que todos os países que aqui estejam tenham oportunidade de sair daqui com coisas que realmente sejam palpáveis", afirmou.
Coube ao porta-voz comentar a prisão do segundo-sargento da Aeronáutica, Manoel Silva Rodrigues. Na terça-feira, o sargento foi detido em Sevilha, na Espanha, ao chegar ao país com 39 quilos de cocaína em sua bagagem pessoal, em um avião da FAB. "O presidente, o Ministério da Defesa, o comando da Força Aérea não admitem em hipótese nenhuma procedimentos desse tipo com relação a seus recursos humanos e desejam que o mais rápido possível isso seja aclarado e a pessoa seja punida devidamente dentro dos trâmites legais", disse o porta-voz.
Rêgo Barros afirmou que um inquérito policial militar vai verificar se houve falha nos procedimentos de segurança. O porta-voz também negou que a prisão seja a razão para a mudança na escala do voo ao Japão, inicialmente previsto para parar em Sevilha. "Não. Foi uma questão técnica, avaliada pelo comando da força aérea junto com o gabinete de segurança institucional, a mudança de Sevilha para Lisboa", afirmou o porta-voz.