Pelo segundo ano consecutivo, o presidente Jair Bolsonaro vai defender a soberania do Brasil e sua política ambiental em seu discurso de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), marcada para a terça-feira (22). No pronunciamento de Bolsonaro na ONU, o presidente vai garantir que o Brasil preserva seus biomas; e que as queimadas que assolam a Amazônia e o Pantanal são habituais e não estão fora do controle. A diferença é que, desta vez, a ênfase no meio ambiente será maior do que na soberania, como havia ocorrido em 2019.
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Tradicionalmente, os presidentes do Brasil abrem a Assembleia Geral da ONU. Neste ano, por causa da pandemia de coronavírus, os chefes de Estado gravaram em vídeo seus discursos para a abertura na 75.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
O discurso de Bolsonaro na ONU em 2019 havia sido mais enfático na defesa da soberania brasileira sobre a Amazônia. O Palácio do Planalto entende, contudo, que, para 2020, esse é um assunto mais "pacificado" na comunidade internacional. A aposta desta vez, portanto, é focar mais em reparar a imagem ambiental do Brasil no exterior, segundo apurou Gazeta do Povo com assessores do presidente no Palácio do Planalto e com aliados de Bolsonaro.
Um deles, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), diz que a questão ambiental estará no cerne do discurso, mais do que as ações do governo para conter a pandemia de coronavírus no Brasil – outro assunto que deve ser tratado no pronunciamento de Bolsonaro na ONU. “Até porque essa é uma imagem que precisa ser reparada no Brasil e no exterior”, diz Trad.
O senador Nelsinho Trad diz que sua aposta na temática ambiental é uma leitura pessoal, mas também de um aliado do governo que "ouve" essa informação de pessoas ligadas a Bolsonaro. Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, ele viajou, em 2019, junto com Bolsonaro e a comitiva presidencial para a Assembleia Geral da ONU.
Discurso de Bolsonaro na ONU: presidente deu "pistas" nos últimos dias
Nos últimos dias, Bolsonaro teria até mesmo dado "pistas" sobre o foco de seu discurso para o mundo. A viagem de Bolsonaro ao Mato Grosso na sexta-feira (18), por exemplo, seria um recado de que o governo está sensível às queimadas. O Mato Grosso é um dos estados mais afetados pelos incêndios ambientais.
Um dia antes, na quinta-feira (17), Bolsonaro declarou que o Brasil “está de parabéns na preservação ambiental”. “O Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente e, não entendo como, é o país que mais sofre ataques vindo de fora no tocante ao seu meio ambiente”, declarou, durante visita a Coremas (PB).
Trad afirma, contudo, que a reparação da imagem do Brasil no exterior tem de ser embasada com informações. “Tem que ser uma narrativa de credibilidade embasada em dados incontestáveis que possam passar, realmente, a realidade que está acontecendo”, afirma ele.
Para o senador, a política ambiental e o assunto das queimadas acabou sendo politizado. “Aqueles que torcem pela esquerda falam que tem muito desmatamento e muita queimada. Os que torcem para a direita falam que não tem desmatamento e não tem queimada, que são fatos isolados”, diz Trad. Por isso, segundo o senador. se faz tão necessário Bolsonaro transmitir informações verdadeiras ao mundo.
Desta vez, aposta Trad, dificilmente o governo irá defender que as queimadas de 2020 estão dentro da média dos últimos anos. Trad diz que, “indiscutivelmente” as queimadas no Pantanal, bioma de sua base eleitoral, é a maior que ele já viu. Mas Bolsonaro não vai dar o braço a torcer e usar um tom alarmista. A tendência é reconhecer o problema, mas frisando que as críticas são “desproporcionais” e que os “focos de incêndio” ocorrem “ao longo dos anos” – argumentos que ele já usou na semana passada. Os militares dão respaldo para o uso dessa narrativa no discurso de Bolsonaro na ONU.
Os principais conselheiros do presidente também alertaram também para a importância de atenuar as críticas sobre a Amazônia. O tom foi usado pelo vice-presidente Hamilton Mourão em live na sexta-feira (18) com Sérgio Etchegoyen, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública. “Não é uma floresta em chamas”, afirmou Mourão.
Críticas ao globalismo e auxílio emergencial são apostas para o discurso de Bolsonaro na ONU
No Planalto, interlocutores do presidente apostam em um discurso de Bolsonaro na ONU sem ataques, moderado, mas com críticas veladas a chefes de Estado e ao globalismo.
Internamente, Bolsonaro usa as oportunidades de palanque para atacar os críticos. Na sexta-feira (18), por exemplo, disse que “países que nos criticam não têm queimadas porque já queimaram tudo”.
Mas esse tom não tende a se repetir no pronunciamento na ONU – até mesmo porque o Brasil só sofre grande pressão internacional, com potencial de danos à economia do país, por causa da agenda ambiental (e partir para o confronto não seria uma decisão "estratégica").
Por outro lado, também há a expectativa de que haja, no discurso de Bolsonaro na ONU, "acenos" ao eleitor mais ideológico . Em 2019, Bolsonaro disse não desejar “apagar nacionalidades e soberanias em nome de um ‘interesse global’ abstrato. “Esta não é a Organização do Interesse Global”, declarou, em uma referência ao globalismo.
O analista político Ricardo Mendes, sócio-diretor da consultoria Prospectiva, aposta que algo nessa linha se repita. “Eu acredito que tem muita gente que vai esperar ele rasgar o verbo contra um monte de coisa e falar um monte de barbaridade. Mas não. Vai ser um discurso mais 'morno', com uma ou outra mensagem para a ala ideológica, e alguma linha defensiva no meio ambiente”, diz Mendes.
O especialista em relações exteriores da Prospectiva entende que Bolsonaro consegue ser pragmático quando precisa. Esse mesmo tom mais ameno é previsto por ele também na defesa das ações do governo no combate à pandemia de coronavírus.
“A Covid com certeza vai estar presente. E acho que o presidente vai ressaltar, nessa perspectiva, a questão social, das ajudas e de tudo o que o governo forneceu [o auxílio emergencial]. Não acho que vai entrar na questão do isolamento e vai falar mais sobre a questão da ajuda.”
Na semana passada, por exemplo, Bolsonaro disse que o Brasil foi o país que se saiu melhor na economia durante a pandemia.
Por que o discurso do Brasil abre a Assembleia Geral
A abertura da Assembleia Geral da ONU por um presidente brasileiro é uma tradição. O costume não está previsto no estatuto das Nações Unidas. Mas é um reconhecimento ao Brasil, um dos fundadores e o primeiro a aderir à organização, criada em 1945. Dois anos depois, Oswaldo Aranha, ex-ministro da Justiça, Relações Exteriores e da Fazenda nas gestões de Getúlio Vargas, presidiu a primeira e a segunda sessão.
Com voto favorável do Brasil, a criação de Israel foi aprovada nas duas primeiras assembleias. Desde então, o chefe de Estado brasileiro sempre inaugura a Assembleia Geral, em reconhecimento à diplomacia conduzida por Aranha.
A fala do presidente brasileiro é sucedida pelo discurso do presidente dos Estados Unidos. Ao todo, 193 Estados-membros compõem a Assembleia Geral.
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