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Reeleição

Plano de Bolsonaro para 2022 passa pela escolha de um novo vice. Saiba quem tem chance

O vice-presidente Hamilton Mourão ao lado do presidente Jair Bolsonaro
Hamilton Mourão ao lado de Bolsonaro: atual vice com relativa frequência expressa opiniões diferentes das do bolsonarismo. (Foto: Bruno Batista /VPR)

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O vice-presidente Hamilton Mourão disse, no último dia 30, ser contra o "instituto da reeleição". “Não ficou bem. Vejo que os nossos gestores são eleitos já pensando na eleição seguinte: ‘tenho que ficar esses quatro anos e depois mais quatro anos’. Seria melhor se tivéssemos mandatos de cinco anos e depois dava um interregno. Isso favoreceria a alternância no poder”, declarou, durante uma transmissão na internet. Mourão pode ser poupado de confrontar sua consciência. O presidente Jair Bolsonaro, que já pensa em se reeleger, estuda escolher outro nome para compor sua chapa na disputa de 2022 como parte de sua estratégia eleitoral. Mas quem então seria o "futuro" vice de Bolsonaro?

Segundo reportagens de veículos de imprensa como a revista Veja e os jornais Correio Braziliense e O Estado de S. Paulo, Bolsonaro estaria à procura não apenas de outro nome para o lugar de Mourão, mas também de uma alteração no perfil da vice-presidência.

Para o lugar do General Mourão, Bolsonaro pode optar por uma pessoa ligada ao segmento evangélico, grupo que dá suporte ao seu mandato, ou uma representante de um partido tradicional – em um movimento que serviria ainda para neutralizar uma possível corrente de oposição.

A força do agro pode emplacar um nome na vice

O nome da política tradicional que vem sendo cotado nos bastidores é o da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Ela foi destacada como possível vice também em comentário no Canal Rural do jornalista Alexandre Garcia, que também é colunista da Gazeta do Povo.

Tereza Cristina é deputada federal licenciada pelo Mato Grosso do Sul e integra o governo Bolsonaro desde o início da gestão. Seu trabalho à frente do ministério figura entre os mais aprovados da Esplanada. Tem perfil técnico e mantém, até o momento, sua pasta alheia a polêmicas. Ela foi considerada recentemente por líderes do Congresso Nacional como a melhor ministra do governo Bolsonaro, deixando Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) na segunda posição, em levantamento feito pelo site Congresso em Foco.

Uma credencial para a ministra ser escolhida como vice reside exatamente em sua aprovação. Ela também representaria o aval do agronegócio, um segmento de peso para a economia e também para a política.

Além disso, a ministra é filiada ao DEM, partido de relevo na política nacional que tem integrantes que compõe o chamado Centrão da Câmara.

Caso Tereza Cristina – permanecendo no DEM – seja a vice de Bolsonaro, o presidente também impede que o partido da ministra integre outra coligação ou lance candidatura própria (em 2018, a legenda apoiou formalmente a candidatura de Geraldo Alckmin, agregando tempo de rádio e TV na propaganda eleitoral gratuita do tucano).

O DEM é também a legenda do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), que deixou o governo Bolsonaro por desentendimentos com Bolsonaro na condução das políticas de enfrentamento da pandemia de coronavírus e que já admitiu que pode concorrer à Presidência em 2022.

Vice-líder do governo no Senado e correligionário de Tereza Cristina, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) diz não estar a par de especulações em torno do nome da ministra como vice-presidente, mas declarou que apoiaria a escolha. "Se for essa a escolha do presidente Bolsonaro, será algo muito bem decidido. Ela é uma ministra de um desempenho fantástico e é também muito disciplinada em termos políticos", afirma ele. O parlamentar diz que defende a reeleição do presidente Bolsonaro.

"Terrivelmente vice": a possibilidade de ser um evangélico

Outra ideia de Bolsonaro para o lugar de Mourão pode ser a de escolher um representante dos evangélicos. O presidente é católico, mas a primeira-dama Michelle é evangélica. E ele teve nos evangélicos uma importante base de apoio durante o período eleitoral. Grande parte das lideranças desse segmento religioso prossegue dando sustentação ao chefe do Executivo.

As especulações em torno do vice evangélico para a chapa de Bolsonaro apontam nomes como o do deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP) e dos ministros Damares Alves (Direitos Humanos) e André Mendonça (Justiça).

Mendonça é também cotado para ser o primeiro indicado de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente fará a nomeação em novembro, quando ocorrer a aposentadoria compulsória do ministro Celso de Mello. Em mais de uma ocasião, Bolsonaro disse que gostaria de escolher um nome "terrivelmente evangélico" para a corte.

À Gazeta do Povo, o deputado Marco Feliciano declara considerar "muito cedo" para se discutir sobre um nome para a vice-presidência. O parlamentar diz, contudo, que a escolha de um evangélico para o cargo seria mais do que bem-visto pelo grupo: "nós evangélicos formamos uma das maiores bases sociais de apoio ao governo Bolsonaro; representamos 30% da nação. Um vice evangélico daria legitimidade ao apoio em massa do nosso segmento".

Mas qual evangélico seria escolhido?

Caso Bolsonaro queira realmente levar à frente o projeto de escolher um evangélico para ser seu vice, uma das principais dificuldades que deve encontrar é a de tentar agradar as diferentes correntes que formam o eleitorado do segmento. O Brasil tem hoje igrejas evangélicas de grande porte, como Universal do Reino de Deus, Igreja da Graça, Igreja Mundial do Poder de Deus, Assembleia de Deus e outras. São grupos que não têm vínculo de subordinação entre si e, com alguma frequência, rivalizam em busca dos eleitores.

"Eu sei que não posso buscar votos em uma igreja que tenha um candidato apoiado pelo pastor de lá. Cada igreja quer que o seu membro que é político se destaque", diz, sob condição de sigilo, outro deputado que integra a bancada evangélica da Câmara.

Hoje, a bancada reúne formalmente 195 deputados, distribuídos por 20 partidos. O coordenador do grupo é Silas Câmara (Republicanos-AM), que está em seu sexto mandato federal.

Um dos integrantes da bancada é Marcos Pereira (Republicanos-SP), que é presidente nacional do seu partido e figura como um dos favoritos para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Presidência da Câmara nas eleições agendadas para fevereiro de 2021. Mas, apesar de a bancada evangélica ser numerosa, o grupo sofre na hora de desenvolver sua articulação política, declara o deputado que pediu à reportagem para não ter seu nome divulgado.

"Em ocasiões como a votação para presidente da Câmara, nós não votamos como bancada. Nós acabamos votando cada um de acordo com o seu partido. Então, não necessariamente um nome evangélico terá o apoio massivo de todo o grupo. Além disso, nós sempre votamos com o governo em matérias de costumes. Então, é um apoio que o governo tem 'de graça'."

Fora da vice, mas não das eleições: qual pode ser o futuro de Mourão

O vice-presidente Hamilton Mourão costuma entrar em choque com posições de Bolsonaro e de bolsonaristas de forma relativamente frequente – o que também diminui suas chances de continuar como vice num eventual segundo mandato.

O mais recente atrito de opiniões ocorreu na segunda-feira (17). Em entrevista à BBC, Mourão disse que o aborto realizado na criança de 10 anos que engravidou após ter sido estuprada pelo tio é "mais que necessário, é recomendado". Mourão recordou que o aborto em casos de estupro está previsto pela legislação nacional.

O posicionamento do vice-presidente contraria o que têm exposto outras lideranças relacionadas ao presidente Jair Bolsonaro, que condenam o aborto mesmo em casos de estupro. Deputados como Chris Tonietto (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR) e Caroline de Toni (PSL-SC) estiveram entre as personalidades que se opuseram ao procedimento.

O choque em pontos de vista do campo ideológico foi uma constante durante o primeiro ano da gestão Bolsonaro-Mourão. O vice expôs opiniões que contrariaram o dito pelo presidente em diferentes ocasiões, o que o levou a receber críticas de Marco Feliciano, do escritor Olavo de Carvalho e até mesmo de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos. Entre as falas divergentes estão a crítica à ideia de e o Brasil mudar a sede da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e o lamento à renúncia do ex-deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), arqui-inimigo de Bolsonaro.

Mourão foi a quarta opção de Bolsonaro para a vice-presidência. Antes dele, o presidente pensou no ex-senador Magno Malta, na advogada e hoje deputada estadual Janaina Paschoal (SP) e no deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança, herdeiro da família real brasileira.

Apesar de hoje estar bem mais distante de ser o "futuro vice" de Bolsonaro, Mourão está nos planos eleitorais de seu partido, o PRTB. Há a expectativa em sua legenda que ele se candidate, em 2022, ao Senado ou ao governo do Rio Grande do Sul, seu estado natal.

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