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Pouco mais de um ano após deixar o PSL e sem perspectivas concretas de viabilização do Aliança pelo Brasil, o presidente Jair Bolsonaro tem na mesa propostas para se filiar ao PP, ao Republicanos e até mesmo ao nanico Patriota de olho nas eleições gerais de 2022. O PR também está de olho no presidente e nem mesmo um eventual retorno ao PSL é descartado.
Aliados do presidente da República têm aconselhado Bolsonaro a definir o quanto antes seu rumo político e iniciar um trabalho de base e coeso para as próximas eleições, com o intuito de voltar a fortalecer candidaturas consideradas de direita e/ou conversadoras.
A Gazeta do Povo mostrou que integrantes da bancada bolsonarista na Câmara atribuem a falta de uma unidade partidária, aliada a uma queda da popularidade de Bolsonaro em determinados estratos sociais, como fator que dificultou a eleição de políticos identificados com a pauta da direita conservadora em todo o país.
Apesar disso, a tendência é que Bolsonaro defina isso apenas no início do ano que vem. O presidente da República sinalizou a aliados que ainda não é momento de se falar em uma nova filiação. Ele pretende observar como ficará a divisão de forças no Congresso após o processo de sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Câmara e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) no Senado.
O presidente deixou o PSL em novembro do ano passado, após conflitos com o presidente do partido, Luciano Bivar, por conta do controle do fundo partidário da sigla. Integrantes da chamada ala bolsonarista do PSL queriam ter mais acesso a recursos do fundão, o que foi vetado por Bivar. Assim, Bolsonaro deixou o partido e encabeçou a criação do Aliança pelo Brasil.
Hoje, um ano depois, o Aliança pelo Brasil conseguiu homologar apenas 42 mil assinaturas das 492 mil necessárias para que o partido saia do papel. Sem um apoio claro do presidente, entusiastas do Aliança já falam nos bastidores que as chances de que a sigla seja instituída são diminutas.
Entre os partidos que negociam a filiação de Bolsonaro, PP, Republicanos e Patriota são apontados como favoritos. Membros do Palácio do Planalto, contudo, ressaltam que essa é uma decisão de caráter exclusivo do presidente. E que, como já ocorreu em outros momentos do governo, é possível que Bolsonaro adote um caminho que surpreenda a todos.
Ele, porém, já deixou claro a aliados que busca por uma legenda com boa estrutura partidária, em que tenha liberdade para comandar os rumos da sigla e que também possa abrigar deputados aliados que vem apoiando o seu governo.
Estrutura partidária favorece retorno de Bolsonaro ao PP
Em relação ao PP, dois fatores pesam favoravelmente ao partido. O Partido Progressista foi a sigla pela qual Bolsonaro passou mais tempo na política – 11 anos, entre 2005 e 2016 – e é a legenda que tem o maior capital político eleitoral entre as citadas. Em 2020, o partido teve à disposição R$ 140 milhões para disputar as eleições municipais, por exemplo.
Além disso, quando Bolsonaro deixou o PP, houve um comum acordo entre ele e o presidente da sigla, o senador Ciro Nogueira (PP-AL). Na época, o partido não acreditava em uma candidatura própria a presidente da República e foi por esse motivo que Bolsonaro buscou abrigo em outras agremiações.
Alguns membros do PP já admitem nos bastidores que, após ganhar 682 prefeituras em 2020 (184 a mais que em 2016), é chegado o momento de se disputar uma eleição majoritária para Presidência da República e Bolsonaro seria um nome ideal. Uma disputa majoritária, na visão de alguns caciques, colabora para aumentar o número de cadeiras na Câmara e no Senado. Por outro lado, há receios entre membros da sigla de que o histórico conflituoso de Bolsonaro possa trazer problemas para o partido.
O deputado Fausto Pinato (PP-SP) é um dos maiores críticos de um eventual retorno de Bolsonaro para a sigla. “Ele tem que se enquadrar a uma direita moderada, racional e reformista. O PP não pode ser centro de terapia para olavistas (seguidores do escritor Olavo de Carvalho), pois essa linha já está implodindo o Brasil no exterior”, disse.
Republicanos e Patriota têm ideologia mais alinhada ao bolsonarismo
O Republicanos, do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, é a sigla de preferência do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente da República. Desde o ano passado, o partido tem feito acenos a Bolsonaro e nas eleições de 2020 apoiou nomes indicados pelos filhos do presidente na disputa municipal, como o de Rogéria Bolsonaro, ex-esposa do presidente da República.
Do ponto de vista ideológico, o Republicanos também seria uma sigla que poderia abrigar deputados que racharam o PSL. Entre outras afinidades, a agremiação tem ligação direta com a bancada evangélica, por exemplo. Além disso, a amizade de Bolsonaro com o presidente do partido, o deputado Marcos Pereira (SP), favorece o ingresso de Bolsonaro. Porém, assim como ocorre no PP, o estilo bélico do ex-capitão do Exército também não é bem visto pela base do partido.
Se depender da bancada bolsonarista na Câmara, o Patriota será o próximo partido de Bolsonaro. Aliados do presidente, como o deputado Bibo Nunes (PSL-RS), têm defendido essa alternativa caso o Aliança pelo Brasil não saia do papel. No Patriota, Bolsonaro teria uma liberdade maior que no PP e no Republicanos. Além disso, a legenda é vista como uma boa alternativa para abrigar deputados conservadores e mais alinhados à direita.
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A criação de um partido próprio, o Aliança pelo Brasil, era o plano A de Bolsonaro. Contudo, as dificuldades de mobilização e a possibilidade de a legenda ter pouca estrutura partidária para 2022 desagradam o presidente da República. O partido hoje é defendido basicamente pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e por alguns artífices da sigla, como a advogada Karina Kufa.
O receio de Jair Bolsonaro é que o Aliança seja criado apenas às vésperas das eleições de 2022, o que pode comprometer a sua própria eleição. "Formar o Aliança ou ter um partido verdadeiramente conservador torna-se cada dia mais fundamental, seja para o embate nas casas legislativas, seja para a eleição. Os diferentes grupos e pessoas de direita poderiam estar em maior contato, melhor comunicação e amadurecer para não se enxergarem como adversários nas eleições", defendeu Eduardo Bolsonaro.
Em relação ao PSL, o vice-presidente do partido, o advogado Antonio Rueda, tem buscado a todo custo uma reaproximação com Bolsonaro. Essa ideia desagrada a bancada bolsonarista na Câmara e a própria base política do PSL. Porém, membros do partido já admitem internamente que as eleições de 2020 comprovaram que o PSL depende mais de Bolsonaro do que se imaginava e que um retorno do presidente, agora, torna-se questão de sobrevivência política para 2022.