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Corrupção no Rio

Queda de Witzel e do Pastor Everaldo é “vitória tripla” para Bolsonaro. Saiba por quê

O governador afastado Wilson Witzel e Jair Bolsonaro: presidente conseguiu colocar governadores da oposição na defensiva, ficou mais perto de fechar aliança defintiva com o PSC e ainda pode esfriar o caso das rachadinhas.
O governador afastado Wilson Witzel e Jair Bolsonaro: presidente conseguiu colocar governadores da oposição na defensiva, ficou mais perto de fechar aliança defintiva com o PSC e ainda pode esfriar o caso das rachadinhas. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

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A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que determinou o afastamento imediato do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e a prisão temporária do presidente do PSC, Pastor Everaldo, é vista por deputados, tanto da base quanto da oposição, como uma tripla vitória política do presidente Jair Bolsonaro.

Integrantes do governo admitiram que a queda de Witzel ratificou as acusações do presidente da República de que alguns governadores vêm se aproveitando da pandemia do coronavírus para criar um clima de instabilidade política, desestabilizar Bolsonaro e ainda desviar recursos públicos.

Além disso, a Operação Tris in Idem, que afastou Witzel e prendeu Everaldo, na visão de parlamentares, minou o atual comando da executiva nacional do PSC. Isso pode acelerar a entrada do partido na base de Bolsonaro no Congresso.

De quebra, esse cenário ainda pode resultar no arrefecimento das investigações relacionadas ao suposto esquema da rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que implica o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente da República.

"Recado" para outros governadores de oposição a Bolsonaro

Integrantes do Palácio do Planalto afirmam que a investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) foi um recado claro a outros governadores que hoje estão no campo de oposição ao presidente – entre os quais, o de São Paulo, João Doria (PSDB); do Amazonas, Wilson Lima (PSC); do Pará,  Helder Barbalho (MDB); e do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

Além disso, a operação desta sexta-feira (28) não somente minou o sonho de Witzel em concorrer ao Palácio do Planalto em 2022, como pode reduzir o ímpeto de outros governadores em uma eventual disputa presidencial contra Bolsonaro, caso de Flávio Dino e de Doria.

Em grupos de WhatsApp de deputados, por exemplo, parlamentares compartilharam a notícia da operação com a seguinte frase: “Witzel is dead” (Witzel está morto) em referência ao sonho dele de ser presidente da República.

Já os adversários de Bolsonaro alegam que há um aparelhamento da Procuradoria-Geral da República, na figura da subprocuradora-geral da República Lindora Araújo, comandante da Lava Jato na PGR. Segundo esses oposicionistas, ela está perseguindo governadores não alinhados ao Planalto. O próprio Witzel usou essa argumentação para se defender da acusação de que lidera uma organização criminosa.

Os bolsonaristas, por sua vez, afirmam que operações como a desta sexta-feira confirmam as críticas feitas pelo presidente à forma como os governadores ou mesmo o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta agiram durante a pandemia.

“Os governadores vão ter que nadar muito agora para tentar recuperar sua credibilidade. Eles apostaram na queda do presidente e perderam. Eles apostaram no vírus e perderam”, disse o deputado José Medeiros (Podemos-MT), um dos vice-líderes do governo. “Bolsonaro deu dinheiro e a corda para os governadores se enforcaram. Os próprios governadores morderam a isca. Bolsonaro estava certo”, complementou.

“O presidente Bolsonaro falava sobre desvios de recursos, confiando que a Justiça seria feita – principalmente após esses contratos emergenciais [de combate à Covid-19] fraudulentos. Ficou tudo muito exposto. A convicção do presidente era a nossa também de que um dia essas quadrilhas seriam pegas”, afirmou o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), um dos principais aliados do presidente, que faz parte do partido de um dos presos nesta sexta, o Pastor Everaldo.

Mas oposicionistas lembraram das relações entre o pastor e Bolsonaro. “Pastor Everaldo, também preso na mesma operação, batizou Bolsonaro no Rio Jordão. São todos iguais”, contemporizou a líder da minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Prisão de Everaldo pode facilitar adesão definitiva do PSC à base de Bolsonaro

No aspecto partidário, deputados do PSC afirmam que, ao contrário do que se imaginava, o afastamento de Witzel e a prisão do Pastor Everaldo podem facilitar o embarque de deputados do partido na base bolsonarista. Com Everaldo preso, o ex-senador e ex-deputado federal pela Paraíba Marcondes Gadelha, vice-presidente do partido, assumiu provisoriamente o cargo.

Integrantes do PSC admitem que Everaldo era visto como uma “pedra no sapato” nesse processo de aproximação do partido com o Planalto. Everaldo e Witzel são aliados e o presidente do PSC nunca perdoou Bolsonaro pelo fato de ele ter trocado a sigla pelo PSL, em 2018, na disputa pela Presidência da República.

Hoje, o PSC tem nove deputados federais e pelo menos sete deles são apontados como favoráveis ao presidente e ao governo. Dois deles são aliados de primeira linha do presidente: Otoni de Paula e Aluísio Mendes (MA). Agora, ambos têm caminho livre para tentar levar toda a bancada para a base governista.

Outra mudança pode ocorrer na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro. Otoni de Paula quer entrar na briga pelo Poder Executivo municipal, com apoio de Bolsonaro, mas nunca recebeu as bênçãos do Pastor Everaldo. Agora, Otoni ganha força dentro do partido para encampar esse projeto.

Investigação das rachadinhas pode esfriar

Uma outra consequência apontada desse afastamento temporário de Witzel, segundo conversas dos bastidores da Câmara e do Planalto, é um eventual esfriamento das investigações relacionadas ao suposto esquema da rachadinha da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Tanto o presidente quanto seus aliados creditavam a Witzel a intensificação das investigações que implicavam o senador Flávio Bolsonaro no chamado caso Queiroz.

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), o senador foi beneficiado com depósitos da ordem de R$ 2 milhões nas contas do ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz.

Com Witzel afastado, aliados do presidente esperam que possam ocorrer mudanças na cúpula tanto do MP-RJ quanto da Polícia Civil fluminense, que são responsáveis pelas investigações.

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