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A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) informou, no começo da tarde desta quinta (17), que vai apresentar uma queixa-crime contra o hacker Walter Delgatti por conta das declarações dadas à CPMI dos atos de 8 de janeiro durante um depoimento pela manhã.
Na avaliação dos advogados que defendem o ex-presidente, Bolsonaro sofreu calúnia e difamação ao ser acusado por Delgatti de pedir que ele assumisse a autoria de um suposto grampo ao celular do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Delgatti também acusou Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e integrantes da campanha eleitoral do ex-presidente de pedir para que ele forjasse a invasão de uma urna eletrônica. Ainda segundo o hacker, Bolsonaro teria garantido a proteção dele oferecendo um indulto, como o que presidente concedeu ao ex-deputado Daniel Silveira.
O advogado Fabio Wajngarten, que defende Bolsonaro, rebateu as acusações e disse que “nunca, jamais, houve grampo, nem qualquer atividade ilegal, nem não republicana, contra qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do Presidente. Mente e mente e mente”.
Ele afirmou, ainda, que “em nenhum momento sequer cogitaram a entrada de técnicos de informática, muito menos alpinistas tecnológicos na campanha” de Bolsonaro, e que desconhece “quem tenha feito reunião individual com Bolsonaro cuja duração tenha sido de 1 hora e meia”.
Fabio Wajngarten completou dizendo que convive com o ex-presidente desde 2016 e que Bolsonaro “jamais sugeriu qualquer briefing publicitário para produção de qualquer roteiro de filme ou propaganda”. “Para o depoente de hoje, o Presidente seria um Spielberg de temas eleitorais”, completou afirmando que o político “sempre jogou dentro das quatro linhas” e que não pediria para fraudar as eleições.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) disse que, com base nas declarações de Delgatti, vai pedir a quebra dos sigilos telemático e financeiro de Bolsonaro e que, dependendo das informações, pode pedir o indiciamento dele na CPMI.
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A primeira parte do depoimento de Delgatti à comissão, pela manhã, durou cerca de quatro horas. Ele disse que teria participado de reuniões com Carla Zambelli, no ano passado, entre outros membros do PL como o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, e o marqueteiro da campanha de Bolsonaro, Duda Lima.
Ele ainda citou a participação de militares no suposto esquema para forjar um ataque às urnas, como o coronel Marcelo de Jesus, que, diz, fazia a intermediação entre ele e o Palácio do Planalto.
As defesas dos demais citados negaram as declarações de Delgatti.
O advogado Daniel Bialski, que defende Carla Zambelli, afirmou que a deputada "refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas ou imorais", negando o que ele chama de "aleivosias e teratologias" mencionadas por Delgatti.
Ele afirma que o hacker é uma pessoa sem credibilidade que muda de versões e que sua palavra é "despida de idoneidade". Bialski disse, ainda, que não teve acesso aos autos dessa investigação e que vai se manifestar publicamente "assim que possível".
O marqueteiro Duda Lima negou ter se encontrado com Delgatti e disse estar "indignado" com as afirmações. “O rapaz diz que eu teria pedido pra ele fazer uma apresentação no desfile de Sete de Setembro. Pensa comigo: ele iria no carro do presidente com a primeira-dama? Que ideia ridícula, poderia ao menos respeitar a minha inteligência”, disse em entrevista na GloboNews.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, também rebateu as declarações de Delgatti de que tenha pedido a invasão ao celular de Alexandre de Moraes, e que não tinha motivos para isso.
" Tudo conversa mole. Não tinha motivo para grampear celular de Moraes. Só bobagem. Em agosto, eu me dava muito bem com o Alexandre de Moraes, fui até tomar café da manhã na casa dele aqui em Brasília. Nossa briga começou na campanha, depois do primeiro turno das eleições", disse em entrevista à CNN Brasil.
Costa Neto reforçou uma declaração recente de que Delgatti esteve na sede do partido em Brasília, no ano passado, a pedido de Carla Zambelli para falar da fiscalização das urnas. No entanto, em nenhum momento houve tratativas para a invasão. Ele também negou que o marqueteiro Duda Lima tenha participado da reunião -- "disse besteiras", completou.