Quatro meses após deixar o Palácio do Planalto, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) retomará a agenda de eventos públicos no Brasil ao marcar presença na maior feira do agronegócio no país, a Agrishow, nesta segunda-feira (1º), em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. A escolha pelo evento foi estratégica: além de o setor representar uma das bases eleitorais mais fortes de Bolsonaro, ele poderá explorar o desgaste do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os empresários do agro.
A proximidade do petista com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem aprofundado o distanciamento do agronegócio com o governo. “Essa situação é agravada pelas invasões que foram retomadas desde o início do mandato de Lula, gerando insegurança nos agricultores, e reforçam a identificação dele com o MST”, pontua o cientista político Adriano Cerqueira, da faculdade Ibmec de Minas Gerais.
A própria participação de Bolsonaro na Agrishow também gerou um atrito entre o agro e o governo Lula nesta semana. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), disse que foi “desconvidado” da abertura do evento depois de ser informado que o ex-presidente também compareceria à feira no mesmo dia.
O presidente da Agrishow, Francisco Maturro, no entanto, destacou que “jamais cometeria a deselegância de desconvidar alguém”. A organização da feira também emitiu uma nota reafirmando o convite ao ministro e teceu elogios a Fávaro: “Para a direção da Agrishow, o ministro vem realizando um ótimo trabalho com muita competência para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sua participação na feira é muito importante para todo o setor”.
A Gazeta do Povo tentou contato com o Ministério da Agricultura para saber se Fávaro pretende visitar a feira, mas não obteve resposta. Se confirmada a ausência do ministro de Lula, esta deverá ser a primeira vez que a Agrishow será aberta sem a presença de um representante do governo federal.
Bolsonaro, por sua vez, deve aproveitar o evento para se reunir com empresários do agronegócio, deputados aliados e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O afilhado político de Bolsonaro decidiu prestigiar a Agrishow, em vez de participar de um evento das centrais sindicais em homenagem ao Dia do Trabalhador.
Esta deve ser a primeira agenda pública de Bolsonaro fora de Brasília, desde que retornou das férias nos Estados Unidos. A tendência é de que as viagens se tornem mais frequentes a partir de agora. Segundo aliados do ex-presidente, ele deve ser um importante cabo eleitoral de políticos conservadores nas eleições municipais do ano que vem.
Bolsonaro será recepcionado por apoiadores no domingo
O diretor do Sindicato Rural de Ribeirão Preto e da Associação Rural Vale do Rio Pardo, Paulo Maximiano Junqueira Neto, foi quem convidou Bolsonaro à Agrishow. “Para nós, Bolsonaro foi o melhor presidente que o Brasil já teve. Ele foi fundamental para o agronegócio e estar aqui conosco novamente será um importante momento de agradecimento”, destacou.
Deputados federais paulistas eleitos pelo PL também organizam uma recepção ao ex-presidente. Eles devem acompanhar Bolsonaro desde o aeroporto da cidade até o local da feira. Em sua conta no Instagram, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) confirmou a participação de Tarcísio e Bolsonaro no evento, informando ainda que a recepção será no domingo (30), às 13h, no aeroporto da cidade.
A mobilização em torno da participação de Bolsonaro no evento em Ribeirão Preto gerou ainda a expectativa de uma nova motociata que estaria sendo divulgada por apoiadores nas redes sociais. Em 2022, depois de cumprimentar pessoas que aguardavam na saída do Aeroporto Estadual Leite Lopes, Bolsonaro seguiu de moto para a abertura da 27ª Agrishow, onde também andou a cavalo. Porém, ainda não há confirmação se o ato ocorrerá ou não.
Para o analista político Adriano Cerqueira, a escolha da Agrishow como a primeira participação de Bolsonaro em um evento público “não poderia ser melhor”. “Bolsonaro é muito popular no setor do agronegócio e quando o presidente Lula deixa de participar destes eventos, ou enviar representante, reforça que não é comprometido com o agro. Se o governo Lula realmente tivesse interesse em se aproximar, estaria presente”, opina.
MST afasta Lula do agronegócio
Embora tenha sido o autor do convite a Bolsonaro, Paulo Junqueira, do Sindicato Rural, também citou a ausência de membros do governo no evento, em tom de reclamação. “Nós queremos que representantes do governo federal estejam conosco, afinal, prometeram pacificação e diálogo com o nosso setor”.
O aumento das invasões de terras pelo MST no chamado “Abril Vermelho” deteriorou ainda mais uma relação já desgastada entre Lula e o agro, resultando na abertura de uma Comissão Parlamentar de Investigação na Câmara dos Deputados para apurar as invasões de terra promovidas pelo movimento. De janeiro a abril, o número de invasões a imóveis rurais no Brasil alcançou uma marca maior do que a registrada em cada um dos 5 últimos anos: 33 invasões. O movimento invadiu também 12 sedes estaduais do Incra. São, portanto, 45 invasões no total.
Fávaro criticou algumas dessas ações e classificou a invasão de uma área de pesquisas da Embrapa, em Pernambuco, como "inaceitável". “Invasão de terra produtiva não é concebível. Não vai surtir efeito, terra invadida não é para servir para reforma agrária”, declarou.
Apesar disso, o ministro tem feito acenos favoráveis ao MST ao participar de eventos do movimento. Em fevereiro, acompanhado do ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Paulo Teixeira, Fávaro participou da 1º festa da Colheita da Soja Livre de Transgênico, realizada pelo MST na comunidade Fidel Castro, no Paraná.
A percepção entre o setor do agronegócio é de que o governo, além de não criticar as invasões ilegais de terras, tem cedido às pressões do MST por cargos. Lula nomeou integrantes da cúpula do movimento para cargos importantes, como a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A disposição do governo para negociação fez com que o MST exigisse também a troca de comando das superintendências estaduais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O movimento sugeriu pessoas aliadas às suas pautas para ocupar esses cargos e foi atendido pelo governo. O Incra já nomeou 23 novos superintendentes, em um total de 29 unidades.
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