O presidente Jair Bolsonaro disse que tem "simpatia inicial" pela ideia de privatização da Petrobras. A declaração, em conversa com a jornalista Natuza Nery, da GloboNews, foi feita quando o presidente foi convidado a comentar a declaração dada na quarta-feira (17), pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que Bolsonaro havia "levantado a sobrancelha" quando foi aventada a ideia de privatizar a estatal.
"Ele [Bolsonaro] declarou, a expressão é do presidente da República, que tem simpatia inicial pela ideia de privatização da Petrobras. Bem verdade que o presidente Jair Bolsonaro não deu uma dimensão de que essa era uma decisão já tomada, com um modelo já fechado, não. Me pareceu algo muito longe disso, o que confira até o que disse o ministro Paulo Guedes ontem [na quarta, 17], de que fazer uma privatização agora seria um salto muito grande", relatou a jornalista da GloboNews.
Segundo ela, a "simpatia inicial" foi celebrada por setores do Ministério da Economia, a começar porque mostra uma uniformidade de pensamentos após o episódio da intervenção de Bolsonaro na Petrobras, quando ele ordenou à estatal que suspendesse um aumento recém-anunciado no preço do diesel. Dias depois, a companhia pôde fazer o reajuste. Ao que caminhoneiros – a quem o presidente tentou atender quando barrou o aumento – imediatamente reagiram ameaçando entrar em greve para os próximos dias.
A fala de Bolsonaro provocou reação na oposição. A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), escreveu no Twitter que o partido "não vai compactuar com a venda da Petrobras porque tem compromisso com o país e com o povo brasileiro". Segundo ela, "a venda da empresa é um desserviço ao Brasil e um escândalo que mostra a intenção de Bolsonaro de colocar o país de joelhos perante os interesses estrangeiros".
Na campanha, Bolsonaro disse que era 'pessoalmente contra'
Durante a campanha, Bolsonaro admitiu a possibilidade de privatizar a petroleira, embora tenha dito que pessoalmente era contra ideia. "Eu entendo que a Petrobras é estratégica. Por isso eu não gostaria de privatizá-la, esse é o sentimento meu. Então é o recado que eu dou para o pessoal da Petrobras: vamos ajudar a buscar uma solução", afirmou. "Se não tiver solução, tem que privatizar."
Guedes tocou no assunto na noite de quarta (17), enquanto comentava sobre o episódio da interferência no reajuste do preço do diesel, em entrevista à GloboNews. "Essa crise do diesel não mostra que o melhor caminho seria privatizar a Petrobras?", perguntou um jornalista da emissora, ao que Guedes respondeu: "Olha, você acabou de dizer um negócio que o presidente levantou a sobrancelha".
Cobrado por explicações sobre esse comentário, Guedes desconversou: "Ué, se o preço do petróleo sobe no mundo inteiro e não tem nenhum caminhoneiro parando no Trump, não tem nenhum caminhoneiro parando na Merkel, não tem nenhum caminhoneiro na porta do Macron, será que tem um problema aqui?".
Pressionado novamente a detalhar esse "levantar de sobrancelha" de Bolsonaro, Guedes disse que o presidente lhe enviou mensagens comparando o número de companhias petroleiras no Brasil e em outros países. "Brasil: veio uma bandeirinha só da Petrobras. Acho que ele quis dizer alguma coisa com aquilo ali", afirmou o ministro.
Questionado mais uma vez se Bolsonaro estaria mais próximo de "concordar" com a privatização da Petrobras, Guedes declarou: "Não, acho que isso seria um salto muito grande. Mas tem uma estatal particularmente que outro dia nós estávamos conversando e ele disse 'PG, você está certo'". O ministro se negou a dizer qual seria a empresa pública mencionada na conversa.
"Na minha interpretação, está ficando muito claro para o brasileiro e para o mundo o seguinte: tem cinco bancos, tem seis empreiteiras, tem uma produtora de petróleo e refinaria, tem três distribuidoras de gás e tem 200 milhões de patos", declarou Guedes.
A privatização em discussão no grupo de WhatsApp
Na edição de quinta, o jornal "O Estado de S. Paulo" revelou que horas antes do anúncio oficial do aumento do preço do diesel, Guedes discutiu privatização da Petrobras e de outras estatais no grupo de WhatsApp "Equipe Econômica". Na conversa fotografada pelo Estado, o presidente do BB, Rubem Novaes, defendeu a privatização irrestrita.
"Se a Petrobras fosse privada, em um ambiente de competição, toda essa celeuma em torno do preço do diesel não aconteceria", afirmou. Ele completa com a frase atribuída ao economista Aba Lerner: "Uma transação no mercado é um problema político resolvido".
Novaes disse que encaminhou a mesma mensagem a Bolsonaro. "Ele precisa perceber que a vida dele seria bem melhor se privatizasse tudo em um ambiente competitivo." O presidente do BB foi além e incluiu o próprio banco que administra na conversa. "Vale também para o BB, obviamente, pois é constante a choradeira nos ouvidos do presidente por questões relacionadas ao banco."
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