O presidente Jair Bolsonaro disse que apenas repassou a "meia dúzia de pessoas" o texto compartilhado por ele na sexta-feira (17) no WhatsApp que diz que o Brasil fora de conchavos é "ingovernável". "O texto? Pergunta para o autor. Eu apenas passei para meia dúzia de pessoas", afirmou, ao ser questionado pela imprensa em frente ao Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência, na manhã deste sábado (18).
O presidente disse a crianças que o aguardavam na porta do Palácio que "há gente ruim no Brasil", mas que o "bem sempre vence o mal". Bolsonaro tirou fotos com um grupo de uma escola do Distrito Federal que fazia um passeio pela cidade.
Ele ficou cerca de 15 minutos conversando com as crianças e se deixando fotografar. Em tom professoral – e próximo às câmaras e profissionais da imprensa – Bolsonaro passou o recado às crianças: "Meu sonho de ser presidente é para ajudar o Brasil. Tem muita gente ruim no Brasil, sabia? Mas o bem sempre vence o mal", afirmou. "Uma coisa muito importante é a verdade."
Mais cedo, Bolsonaro recebeu o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que chegou por volta de 9h40 ao Palácio, onde permaneceu por menos de duas horas. Heleno chegou dirigindo o próprio carro, acompanhou a sessão de fotos do presidente e, ao ser perguntado sobre o texto compartilhado, disse "nada a comentar".
A primeira-dama, Michele Bolsonaro, também acompanhou o marido no rápido encontro com as crianças. Vestindo camisa da seleção brasileira com o número 17 e o nome Bolsonaro grafados, short e chinelo, o presidente abraçou várias crianças enquanto perguntava: "Eu sou um cara legal? Você gosta de mim?". Ele questionou ainda o que elas gostariam que ele fizesse para o Brasil e disse para que obedecessem "primeiro papai e mamãe" e depois as professoras "que ensinam coisas importantes, como português e tabuada".
A maior parte do grupo era formada por crianças de 4 a 12 anos da Escola Classe do SRIA – escola pública do Guará, cidade nos arredores de Brasília – que fazia um passeio visitando pontos turísticos pela cidade. Na conversa, Bolsonaro disse que iria até a escola para hastear a bandeira e cantar o hino nacional. "Ele está querendo ir, disse que a assessora vai marcar", relatou a vice-diretora da escola, Cárita Alessandra Sá, responsável pelas 108 crianças que foram ao local em dois ônibus.
Na tarde deste sábado, Bolsonaro agradeceu no Twitter a hashtag #BolsonaroNossoPresidente, citada quase 16 mil vezes na rede social. Menos, no entanto, que a #Impeachementbolsonaro (sic), com mais de 43 mil tuítes.
Mensagem reforça discurso de que presidente é vítima de sistema corrompido
No texto compartilhado na sexta pelo WhatsApp, revelado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", o presidente reforçou o discurso de que é vítima de um sistema corrompido. A mensagem foi interpretada no Congresso como mais um ataque do presidente ao que ele chama de "velha política".
O texto compartilhado afirmava ser de "autor desconhecido". A mensagem, no entanto, foi publicada no sábado passado (11) pelo professor de finanças e funcionário da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Paulo Portinho, filiado ao partido Novo, segundo revelou a "Folha de S.Paulo".
O texto diz que o presidente sofre pressões de todas as corporações, em todos os Poderes, e que o país "está disfuncional", mas não por culpa de Bolsonaro. "Até agora (o presidente) não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou."
Procurado para comentar a mensagem, o presidente afirmou, por meio do porta-voz, Otávio do Rêgo Barros, esperar apoio da sociedade para "reverter essa situação".
"Venho colocando todo meu esforço para governar o Brasil. Infelizmente, os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o país de volta ao trilho do futuro promissor", disse Bolsonaro, em nota, sem detalhar a quais grupos se referia.
Mais tarde, em entrevista no Palácio do Planalto, o porta-voz afirmou que a intenção do presidente foi apenas compartilhar uma mensagem recebida, que está "em consonância com o pensamento dele".
A avaliação de auxiliares do presidente é a de que, ao convocar a sociedade para uma solução, Bolsonaro tenta manter ativas suas redes de apoio, após manifestações contrárias ao governo – uma reação ao bloqueio de verbas do Orçamento, em especial do Ministério da Educação – tomarem as ruas do país. Como resposta, aliados de Bolsonaro planejam uma marcha em apoio a ele, no dia 26.
O tom do texto compartilhado por Bolsonaro em grupos de WhatsApp também vai ao encontro do discurso adotado nos últimos dias por aliados de que há uma conspiração para "derrubar o capitão", como escreveu nesta semana o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, em sua conta no Twitter.
O próprio Bolsonaro, ao comentar o contingenciamento de verba para educação, em visita aos Estados Unidos, disse que opositores querem tirá-lo da Presidência. "Quem decide corte não sou eu. Ou querem que eu responda a um processo de impeachment no ano que vem por ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal?", perguntou.
O movimento também coincide com o avanço das investigações contra o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente. Flávio teve o sigilo bancário e fiscal quebrado pelo Tribunal de Justiça do Rio. Anteontem, o presidente disse entender que ele e seu governo são os alvos dos investigadores.
Interlocutores de Bolsonaro ouvidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo" afirmaram não saber quantas pessoas receberam a mensagem, mas relataram que ele próprio pediu para que cada um replicasse o conteúdo. Ao compartilhar o texto, escreveu: "Um texto no mínimo interessante. Para quem se preocupa em se antecipar aos fatos, sua leitura é obrigatória. Em Juiz de Fora (6/set/2018), tive um sentimento e avisei meus seguranças: Essa é a última vez que me exporei junto ao povo. O Sistema vai me matar. Com o texto abaixo cada um de vocês pode tirar suas próprias conclusões."
A repercussão do texto entre parlamentares
Sob reserva, parlamentares criticaram o que consideraram intenção do presidente de expor a classe política "como corrupta" para se fortalecer, o que foi mal visto no Congresso. "O Brasil está precisando de moderação", disse o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA).
A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), que é do partido de Bolsonaro e foi autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), avaliou que o compartilhamento mostra que o presidente "precisa, urgentemente, trocar seus assessores diretos". "As pessoas que o cercam alimentam a visão conspiratória que o está afundando", disse à BBC News Brasil.
"Somente o presidente pode identificar quem o está estimulando em teorias crescentemente conspiratórias. Precisa parar com tanta xaropada e focar no trabalho. Eu não vou abandonar o presidente, vou exigir que ele trabalhe e cumpra suas promessas de campanha", disse.
A deputada, porém, afirmou que foi um compartilhamento "como outro qualquer" e disse não ver "nada tão grave na situação". Na avaliação dela, Bolsonaro não estava atacando o Congresso nem sinalizando uma renúncia.
Alguns dirigentes de partidos avaliaram que, com a mensagem, Bolsonaro acena à radicalização e busca inflamar atos de apoio a ele – e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) – marcados para o dia 26.
Aliados do presidente elogiaram a manifestação dele. "O texto é um grito de alerta para toda a população quando diz que, do jeito que são as coisas, nunca a vontade daqueles que votam será respeitada. Bolsonaro foi transparente e verdadeiro. Este é o sentimento", disse o senador Major Olímpio (SP), líder do PSL na Casa.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se esquivou de comentar. "Pergunta pra ele", respondeu Maia ao ser questionado se saberia quem está pressionando o presidente. Em discurso no Rio, sem citar o texto publicado por Bolsonaro, Maia afirmou que a polarização política e o uso das redes estão levando a contestações ao modelo de democracia representativa liberal em vários países.
A íntegra do texto compartilhado por Bolsonaro
TEXTO APAVORANTE - LEITURA OBRIGATÓRIA
Alexandre Szn
Temos muito para agradecer a Bolsonaro.
Bastaram 5 meses de um governo atípico, "sem jeito" com o congresso e de comunicação amadora para nos mostrar que o Brasil nunca foi, e talvez nunca será, governado de acordo com o interesse dos eleitores. Sejam eles de esquerda ou de direita.
Desde a tal compra de votos para a reeleição, os conchavos para a privatização, o mensalão, o petrolão e o tal "presidencialismo de coalizão", o Brasil é governado exclusivamente para atender aos interesses de corporações com acesso privilegiado ao orçamento público.
Não só políticos, mas servidores-sindicalistas, sindicalistas de toga e grupos empresariais bem posicionados nas teias de poder. Os verdadeiros donos do orçamento. As lagostas do STF e os espumantes com quatro prêmios internacionais são só a face gourmet do nosso absolutismo orçamentário.
Todos nós sabíamos disso, mas queríamos acreditar que era só um efeito de determinado governo corrupto ou cooptado. Na próxima eleição, tudo poderia mudar. Infelizmente não era isso, não era pontual. Bolsonaro provou que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável.
Descobrimos que não existe nenhum compromisso de campanha que pode ser cumprido sem que as corporações deem suas bênçãos. Sempre a contragosto.
Nem uma simples redução do número de ministérios pode ser feita. Corremos o risco de uma MP caducar e o Brasil ser OBRIGADO a ter 29 ministérios e voltar para a estrutura do Temer.
Isso é do interesse de quem? Qual é o propósito de o congresso ter que aprovar a estrutura do executivo, que é exclusivamente do interesse operacional deste último, além de ser promessa de campanha?
Querem, na verdade, é manter nichos de controle sobre o orçamento para indicar os ministros que vão permitir sangrar estes recursos para objetivos não republicanos. Historinha com mais de 500 anos por aqui.
Que poder, de fato, tem o presidente do Brasil? Até o momento, como todas as suas ações foram ou serão questionadas no congresso e na justiça, apostaria que o presidente não serve para NADA, exceto para organizar o governo no interesse das corporações. Fora isso, não governa.
Se não negocia com o congresso, é amador e não sabe fazer política. Se negocia, sucumbiu à velha política. O que resta, se 100% dos caminhos estão errados na visão dos "ana(lfabe)listas políticos"?
A continuar tudo como está, as corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra e aprovar o mínimo para que o Brasil não quebre, apenas para continuarem mantendo seus privilégios.
O moribundo-Brasil será mantido vivo por aparelhos para que os privilegiados continuem mamando. É fato inegável. Está assim há 519 anos, morto, mas procriando. Foi assim, provavelmente continuará assim.
Antes de Bolsonaro vivíamos em um cativeiro, sequestrados pelas corporações, mas tínhamos a falsa impressão de que nossos representantes eleitos tinham efetivo poder de apresentar suas agendas.
Era falso, FHC foi reeleito prometendo segurar o dólar e soltou-o 2 meses depois, Lula foi eleito criticando a política de FHC e nomeou um presidente do Bank Boston, fez reforma da previdência e aumentou os juros, Dilma foi eleita criticando o neoliberalismo e indicou Joaquim Levy. Tudo para manter o cadáver procriando por múltiplos de 4 anos.
Agora, como a agenda de Bolsonaro não é do interesse de praticamente NENHUMA corporação (pelo jeito nem dos militares), o sequestro fica mais evidente e o cárcere começa a se mostrar sufocante.
Na hipótese mais provável, o governo será desidratado até morrer de inanição, com vitória para as corporações. Que sempre venceram. Daremos adeus Moro, Mansueto e Guedes. Estão atrapalhando as corporações, não terão lugar por muito tempo.
Na pior hipótese ficamos ingovernáveis e os agentes econômicos, internos e externos, desistem do Brasil. Teremos um orçamento destruído, aumentando o desemprego, a inflação e com calotes generalizados. Perfeitamente plausível. Claramente possível.
A hipótese nuclear é uma ruptura institucional irreversível, com desfecho imprevisível. É o Brasil sendo zerado, sem direito para ninguém e sem dinheiro para nada. Não se sabe como será reconstruído. Não é impossível, basta olhar para a Argentina e para a Venezuela. A economia destes países não é funcional. Podemos chegar lá, está longe de ser impossível.
Agradeçamos a Bolsonaro, pois em menos de 5 meses provou de forma inequívoca que o Brasil só é governável se atender o interesse das corporações. Nunca será governável para atender ao interesse dos eleitores. Quaisquer eleitores. Tenho certeza que esquerdistas não votaram em Dilma para Joaquim Levy ser indicado ministro. Foi o que aconteceu, pois precisavam manter o cadáver Brasil procriando. Sem controle do orçamento, as corporações morrem.
O Brasil está disfuncional. Como nunca antes. Bolsonaro não é culpado pela disfuncionalidade, pois não destruiu nada, aliás, até agora não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou. Ele é só um óculos com grau certo, para vermos que o rei sempre esteve nu, e é horroroso.
Infelizmente o diagnóstico racional é claro: "Sell".
Autor desconhecido
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF