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O presidente Jair Bolsonaro deve definir em março o partido no qual vai se filiar para disputar a eleição presidencial de 2022. Ele recebeu propostas de cinco legendas: PP, PL, Republicanos, PTB e Patriota. Mas agora apenas três estão no páreo. “Patriota, PTB e o PP. São esses três partidos que existem conversas”, afirma o deputado Filipe Barros (PSL-PR), um aliado de Bolsonaro no seu antigo partido. A definição será feita após análise sobre os “prós” e “contras” de cada partido.
E a escolha de Bolsonaro não será feita apenas pensando nele próprio, mas também no futuro dos deputados bolsonaristas do PSL, que deverão acompanhá-lo na nova sigla. Para isso, novas conversas ocorrerão entre o presidente e os parlamentares da antiga legenda de Bolsonaro. Em 27 de janeiro, por exemplo, esse assunto foi discutido num café da manhã que o presidente teve com parlamentares do PSL.
O dilema que impede Bolsonaro de definir logo sua futura legenda ocorre justamente por causa do futuro político de seus aliados na Câmara. Bolsonaro será o candidato a presidente do partido para o qual for e terá a estrutura dessa sigla à sua disposição na campanha de 2022. Mas o mesmo não necessariamente vai ocorrer com seus aliados da Câmara, que podem ter de disputar posição e eleitores dentro da nova legenda.
Por que deputados do PSL querem Bolsonaro no Patriota
Embora o PP seja o maior partido das três opções que restam a Bolsonaro, a sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), não agrada a muitos deputados bolsonaristas do PSL.
Eles preferem o Patriota, partido "nanico" no qual não disputariam espaços internos. O tamanho do Patriota é o que agrada os “bolsonaristas”. O partido tem a terceira menor bancada da Câmara e nenhum senador. Lembra muito o próprio PSL quando o então deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro se filiou à sigla.
Defensores da escolha do Patriota dizem que Bolsonaro também teria vantagens ao ingressar na sigla. “O Patriota é um partido pequeno que tem todas as linhas compatíveis com o bolsonarismo e onde o presidente teria condições de manter o comando”, explica o deputado Bibo Nunes (PSL-RS).
O deputado do PSL gaúcho não vê problema na falta de musculatura política do Patriota. “É o grande ponto. Bolsonaro não é fisiológico. Não está preocupado em ter um partido grande. Venceu a eleição [de 2018] com dois deputados federais", diz Nunes. Para ele, o Patriota tem "chance de 95%" de ser o partido escolhido por Bolsonaro.
"Não existe preocupação em ir para partido com estrutura e dinheiro. Não é o principal. O principal é ter um partido que se alinhe aos pensamentos e esteja em condições de aceitar o ‘bolsonarismo’ como o Patriota aceita”, acrescenta Bibo Nunes, que é amigo de Adilson Barroso, o presidente da legenda.
A análise é reforçada pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP). “Por ser pequeno, ele [o partido] não teria grandes problemas de acomodar todo mundo, porque estamos falando em, pelo menos, 10 a 15 estados onde já tem deputados federais eleitos do PSL”, explica Tadeu. “É óbvio que precisaremos conquistar espaço, não tomá-los à força. Tudo tem que ser feito com bastante elegância, honestidade e responsabilidade. Mas temos que negociar esse espaço. Caso contrário, não ‘fecha negócio'.”
Antigo Partido Ecológico Nacional (PEN), o Patriota foi um dos partidos que Bolsonaro cogitou disputar as eleições de 2018 antes de ingressar no PSL.
O que joga contra a filiação de Bolsonaro ao Patriota
Apesar disso, há alguns desentendimentos de aliados de Bolsonaro com dirigentes do Patriota. O partido tem como primeiro-vice-presidente Ovasco Resende – um desafeto do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que é importante conselheiro de Bolsonaro.
Em 2018, o ministro do GSI era filiado ao PRP, partido então presidido por Resende. A convite de Bolsonaro, Heleno buscou integrar a chapa de Bolsonaro como seu vice, mas foi barrado pelo PRP. Ao fim daquele ano, o Patriota anunciou a fusão com o PRP, para cumprir a cláusula de barreira e ter acesso ao fundo partidário. E Ovasco Resende ganhou um cargo de destaque no Patriota.
Além disso, o Patriota está dividido. O presidente do partido, Adilson Barroso, que teria influência sobre 30% da legenda, é favorável à filiação de Bolsonaro e dos "bolsonaristas". Resende, que seria o detentor de 50%, é contrário a entregar o partido a Bolsonaro, segundo reportagem da revista Época. O racha no partido, segundo o O Antagonista, é um impeditivo para que o partido aceite as condições do presidente da República.
"O Patriota não é um partido de confiança e o presidente [Bolsonaro] está avisado disso. Quando o [ex-senador] Magno Malta não quis ser o vice [em 2018], o presidente chamou o Heleno e disse que precisaria dele como vice. Disse: 'Se filia ao PRP, que vai me apoiar, e vem junto comigo'. O general foi lá e se filiou. Mas foi traído", diz um interlocutor do Palácio do Planalto à Gazeta do Povo.
Segundo o portal O Antagonista, integrantes do conselho político do Patriota e o presidente Bolsonaro irão se reunir na próxima sexta-feira (12) para discutir uma possível filiação.
As vantagens do PTB de Roberto Jefferson
O PTB é visto pelos deputados bolsonaristas do PSL como o "plano B". A guinada conservadora do presidente nacional do partido, Roberto Jefferson, agradou a muitos setores do bolsonarismo. Em 2020, ingressaram no PTB o deputado estadual Douglas Garcia, ex-PSL, e o jornalista Oswaldo Eustáquio, defensor do presidente que foi preso acusado de disseminação de fake news e na organização de “atos antidemocráticos”.
Em mais de uma ocasião, Jefferson declarou que gostaria de contar com todos os deputados bolsonaristas do PSL. Ele ofereceu à deputada Bia Kicis (PSL-DF), por exemplo, espaço para concorrer como senadora ou até governadora em 2022.
O PTB, diferentemente do Patriota, é um partido com mais estrutura e capilaridade em todo o país, apesar de ter encolhido de tamanho na Câmara e de não ter hoje representatividade no Senado. Nas eleições municipais, fez 212 prefeitos, contra 49 do Patriota. Isso pode ajudar na campanha de reeleição de Bolsonaro.
"Realmente existem conversas com o PTB também. Mas não está nada definido. É o presidente [Bolsonaro] que, com aconselhamento de algumas pessoas, vai decidir para onde vai, onde não vai. Mas não está nada definido, ainda está cedo", afirma o deputado Coronel Tadeu.
O que pesa contra o PTB para os bolsonaristas
Para a bancada bolsonarista do PSL, o problema do PTB, bem como do PP, é justamente o tamanho. "Justamente porque o PP e o PTB são partidos maiores, com mais caciques, não consigo ver um espaço para nós do PSL, que também somos grandes", diz Bibo Nunes (PSL-RS).
A postura do presidente nacional da legenda também não é bem vista entre alguns bolsonaristas. "O Roberto Jefferson é extremamente centralizador", diz Coronel Tadeu (PSL-SP).
Em 2020, por exemplo, Jefferson alfinetou pelo Twitter o youtuber bolsonarista Kim Paim. A crítica ganhou repercussão nas redes sociais até que o presidente do PTB colocou panos quentes e disse que tudo não passou de um "mal entendido" que "seria contornado".
Há ainda o passado de Jefferson, condenado pelo Supremo Tribunal Federal no escândalo do mensalão do PT, e os imbróglios jurídicos da filha dele, a ex-deputada pelo PTB Cristiane Brasil, que chegou a ser presa em 2020 por causa de desvios em contratos de assistência social na prefeitura e no governo do estado do Rio.
A "musculatura" do PP e os palanques para Bolsonaro
Apesar de ser o maior partido dos três que restam como opções para Bolsonaro, o PP é a legenda que menos interessa aos deputados do PSL.
Mas assessores do Palácio do Planalto dizem que o PP é a sigla que tem as maiores chances de dar a reeleição a Bolsonaro. "O PP dá ao presidente uma máquina mais poderosa, com vasta capilaridade em prefeituras, um presidente da Câmara [Arthur Lira] e tempo de TV", sustenta um assessor.
Por mais que Bolsonaro tenha sido eleito em 2018 sem tempo de TV, recursos de fundo partidário e estrutura nos estados, interlocutores do Planalto entendem que, para 2022, esses são elementos que podem agregar força à candidatura.
Mas, justamente devido ao tamanho do partido, seria necessário haver "ajustes" na sigla. "O PP na Bahia, por exemplo, não poderia ficar com o PT, como é atualmente", exemplifica um assessor.
A leitura dos aliados que defendem a filiação de Bolsonaro ao PP é que, desse modo, o presidente enfraqueceria seus principais adversários à Presidência da República, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
O cálculo é de que, filiado ao principal partido do Centrão, Bolsonaro terá maiores condições de aglutinar as forças dos principais partidos de centro-direita, afastando a possibilidade de essas siglas se coligarem com adversários do presidente. Isso também enfraqueceria candidaturas de partidos adversários para outros cargos públicos.
Aliados de Bolsonaro avaliam, por exemplo, que a filiação de Bolsonaro ao PP tiraria o partido da aliança que hoje mantém com o PT da Bahia e que isso enfraqueceria a candidatura do senador Jaques Wagner (PT-BA), pré-candidato ao governo estadual.
Para os estrategistas de Bolsonaro, essa movimentação também facilitaria uma aliança com o DEM no estado. "O ACM Neto [presidente nacional do DEM e pré-candidato ao governo da Bahia] não pode se dar ao luxo de o presidente [Bolsonaro] abrir outro palanque lá. A filiação do presidente ao PP arrasta o Democratas e esvazia o projeto de poder do [Rodrigo] Maia [ex-presidente da Câmara] e do [João] Doria", sustenta um interlocutor.
A mesma lógica não é descartada em outros estados do Nordeste. No Maranhão, uma coligação do PP com o Republicanos, do vice-governador de Flávio Dino (PCdoB) – que não pode se reeleger, mas tentará fazer seu sucessor – pode desidratar as forças de Dino.
"Eu não descarto essa possibilidade de filiação do presidente ao PP, por toda essas questões de palanques", diz o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP).
Falta de espaços no PP é temor dos bolsonaristas
Embora seja favorável para Bolsonaro, a filiação ao PP não é tão atrativa para os deputados "bolsonaristas". Sobretudo na disputa por espaços nos diretórios estaduais e municipais, importantes para a definição de candidaturas em eleições majoritárias e proporcionais.
No Distrito Federal, Bia Kicis (PSL) disputa espaço com Celina Leão (PP), por exemplo. No Paraná, Filipe Barros (PSL) disputa eleitores com Ricardo Barros (PP). Dentro do partido de Arthur Lira, é dito que alguns diretórios poderiam ser "oferecidos" a Bolsonaro, como Rio de Janeiro e São Paulo. Ainda assim, insuficientes para acomodar todos.
Apesar de o PP não ser atrativo para os bolsonaristas, Bibo Nunes (PSL-RS) acredita que a filiação de Bolsonaro ao partido não seria um empecilho. "Se ele optar pelo PP ou PTB, eu continuarei junto dele, mas o que considero mais viável é o Patriota", diz.
O deputado acredita que ele não seria o único a apoiar o presidente mesmo em uma possível filiação ao PP. Mas admite que alguns poderiam migrar para outro partido. "Pode ser que dois ou três [deputados] não o sigam e migrem para outro partido", afirma. Nas contas de Nunes, até 30 deputados do PSL acompanharão Bolsonaro.