O presidente Jair Bolsonaro (PL) participa neste sábado (26) da formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde se graduou, em 1977. Será sua primeira agenda em um evento oficial desde o fim das eleições e a segunda aparição pública desde o rápido discurso no Palácio da Alvorada, quando agradeceu os 58 milhões de votos recebidos e não contestou a derrota nas urnas para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A presença de Bolsonaro na solenidade militar gera expectativa entre apoiadores sobre o que ele poderá vir a falar, embora não haja confirmação se o presidente fará um discurso. A aparição acontece na semana em que seu partido entrou com uma representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a anulação dos votos de 279 mil urnas eletrônicas. O pedido foi rejeitado pelo ministro Alexandre de Moraes, que ainda multou a coligação eleitoral de Bolsonaro em R$ 22,9 milhões e provocou um racha na base governista.
Existe a possibilidade de o presidente não quebrar o silêncio que vem mantendo desde a proclamação do resultado do segundo turno, tido como estratégico por interlocutores, apesar de criticado por alguns aliados no Congresso. Até a noite desta sexta-feira (25), segundo interlocutores, Bolsonaro não havia decidido se discursa ou não neste sábado, como fez nas últimas três formaturas de cadetes da Aman.
Bolsonaro teve reuniões e conversou sobre o assunto nesta sexta com aliados e integrantes de seu "núcleo duro" para decidir sobre a conveniência de um discurso, inclusive em Guaratinguetá (SP), onde ele desembarcou por volta das 18h20 e passaria a noite.
De Guaratinguetá, Bolsonaro embarca por volta das 9h10 para Resende (RJ), onde fica a escola de ensino superior do Exército. A cerimônia se inicia às 11h, no pátio Marechal Mascarenhas de Moraes, e deve seguir até o meio-dia. Às 13h30, o presidente embarca para Brasília.
O que motiva Bolsonaro a participar da cerimônia
A participação de Bolsonaro no evento tem motivação institucional. Todo ano a Aman celebra dois eventos, um normalmente em agosto, a entrega de espadins aos cadetes entrantes na academia, e um em novembro ou dezembro, quando é celebrada a formatura dos cadetes. O presidente participou de todas as sete solenidades ao longo do seu governo e cumprirá sua oitava participação neste sábado.
Desde a redemocratização, Bolsonaro é o primeiro presidente a ir em todas as cerimônias da Aman. Segundo os mais próximos, é uma forma de prestigiar os militares. Para aliados da base governista no Congresso, além de institucional, o chefe do Executivo federal tem, dessa vez, também uma motivação política.
Um deles avalia, em condição reservada, que, na possibilidade de assumir a oposição política ao presidente eleito Lula, Bolsonaro precisará contar com o apoio da base militar. "Então, tem que ir nesse evento e não vai nem discursar", avalia o parlamentar.
Para o aliado, Bolsonaro vai evitar o discurso para não criar uma "celeuma" diante do atual cenário político, em meio às contestações ao resultado eleitoral e os protestos em frente aos quartéis e rodovias. Outro aliado entende que, caso discurse, Bolsonaro poderia transmitir aos opositores e à imprensa uma suposta ideia de incentivar as manifestações.
A fim de evitar algum constrangimento às Forças Armadas, uma parcela da base governista prevê um tom de normalidade e discurso apenas do comandante da Aman, general de brigada João Felipe Dias Alves, que deve exaltar a formação militar.
Na hipótese de Bolsonaro discursar, aliados avaliam que seria um aceno às cobranças feitas por uma parcela da base governista e de apoiadores. O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo na Câmara, defende que o presidente interrompa o silêncio.
"Se o presidente Bolsonaro não sair do seu ostracismo como o grande líder desta nação, ele vai entrar para a história da nação como soldado que teve medo de morrer na guerra, como aquela frase que ele sempre diz. Mas só que a morte do soldado é inevitável, e eu falei isso para ele", diz o aliado.
O coronel da reserva Raul Sturari, presidente do Instituto Sagres — coautor do intitulado "Projeto de Nação", documento em que militares apresentam propostas para o Brasil até 2035 —, prevê uma solenidade "absolutamente formal" neste sábado. Ele também não aposta em um discurso de Bolsonaro.
"Vai ser aquela expectativa, com muitos querendo descobrir se tem algo nas entrelinhas. Acho muito difícil que isso aconteça", diz. "Vai ter toda aquela expectativa, mas não teremos fala política, ninguém dando entrevista, nada", complementa.
O analista político Alexis Risden, consultor especialista em segurança e defesa nacional da BMJ Consultores Associados, também prevê um evento institucional. "Será sua primeira aparição em público, então deve querer 'parecer forte' com as Forças Armadas. Mas será algo normal, outras autoridades do Judiciário e Legislativo vão participar também", afirma.
Ele acredita, porém, que Bolsonaro possa fazer um discurso. "Eu acredito que ele deva falar, mesmo que só para os participantes da cerimônia, sem imprensa", comenta.
Quem está convidado e como será o evento de formatura da Aman
O evento celebrará a formatura da turma Bicentenário da Independência. São 395 cadetes, sendo 362 homens e 33 mulheres. Deste total, dez são oriundos de "nações amigas", sendo que será a primeira vez que um cadete estrangeiro irá se formar. Seu nome é Ghazmin Lucero Surichaqui e ela é do Peru.
Os aspirantes receberão o diploma de bacharel em Ciências Militares. Além de Bolsonaro e de autoridades do Judiciário e do Legislativo, também participarão oficiais-generais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e demais autoridades civis e militares. A cerimônia é marcada pela restituição do espadim, quando, trajados pela última vez com o uniforme azulão, entregarão as réplicas da espada de Caxias à Academia Militar.
E, de uniforme cinza, num segundo momento, receberão a espada de oficial do Exército Brasileiro, símbolo da honra militar. O primeiro lugar da turma receberá das mãos de Bolsonaro a espada de oficial. Em seguida, madrinhas e padrinhos farão a entrega das espadas aos demais aspirantes.
Além da bandeira nacional, acompanhada dos estandartes do Exército, do corpo de cadetes, das bandeiras históricas do Brasil, adotadas desde o descobrimento, também adentrarão o pátio as bandeiras das "nações amigas".
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