Bolsonaro e Xi Jinping, presidente da China, passam em revista as tropas chineses, em Pequim: presidente brasileiro deixará a Ásia rumo ao Oriente Médio.| Foto: Isac Nobrega/PR

O presidente Jair Bolsonaro começa neste sábado (26) uma visita a três países do Oriente Médio: Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita. O objetivo é divulgar oportunidades de investimento no Brasil e incentivar um aumento no intercâmbio comercial com a região.

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Uma das principais metas é apresentar o plano de concessões e privatizações no setor de infraestrutura. Os 18 projetos do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) abrem espaço para um total de R$ 1,3 trilhão em investimentos, e o governo brasileiro crê que os fundos soberanos polpudos dos países árabes podem cobrir parte importante desse total.

Além disso, o Itamaraty prevê a assinatura de atos que possam trazer um incremento no comércio com o mundo árabe. “Os países da região são grandes compradores do agronegócio brasileiro. Também há muito boas perspectivas de exportação de material de defesa para a região”, diz Reinaldo Salgado, secretário de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do Itamaraty.

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Outro ponto importante da visita, segundo o Itamaraty, será uma busca por intercâmbio em ciência, tecnologia e inovação. O Brasil tentará acordos também em áreas como defesa, aviação civil, biodiversidade e produção alimentar.

A viagem aos países árabes começou a ser negociada logo depois da visita oficial que Bolsonaro fez a Israel, em março de 2019. O Itamaraty enviou uma missão diplomática aos países árabes para preparar o terreno para uma visita presidencial.

A rota do presidente pelo Oriente Médio começa no fim da tarde de sábado (26) nos Emirados Árabes. Ele chega a Doha (Catar) na manhã de segunda-feira (28) e, na noite do mesmo dia, parte para a Arábia Saudita, onde permanece até quarta-feira (30). Na manhã de quinta-feira (31), Bolsonaro chega a Brasília.

Emirados Árabes

O presidente passará a noite do dia 26 no Hotel Emirates Palace, em Abu Dhabi. Sua programação oficial começa no domingo (27), que é dia útil no mundo islâmico, com encontros políticos e a participação em eventos empresariais.

Bolsonaro estará presente em um seminário empresarial intitulado “Perspectivas do cenário macroeconômico e do ambiente de negócios brasileiro”, em que se pretende mostrar os potenciais do Brasil para investidores locais. Outro encontro empresarial no domingo será um jantar oferecido por empresários brasileiros.

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Na tarde do mesmo dia, Bolsonaro terá um encontro com Mohammed bin Zayed Al-Nahyan, presidente dos Emirados Árabes e emir de Abu Dhabi. O brasileiro também visitará a Grande Mesquita do Sheikh Zayed, maior templo do país. Além disso, terá um encontro com atletas de jiu-jitsu do Brasil e dos Emirados Árabes, onde a modalidade é muito popular.

Oportunidades para intensificar o comércio e o investimento no Brasil serão o principal foco da visita. Os Emirados são, entre os países árabes, o segundo maior destino das exportações brasileiras.

O país tem produção de alimentos limitada e grande preocupação com segurança alimentar, mantendo inclusive um Ministério da Segurança Alimentar. Por isso, para aumentar exportações no âmbito do agronegócio, o governo brasileiro precisa convencer os emiradenses de que o Brasil é um fornecedor confiável.

No campo dos investimentos, o Itamaraty vê nos fundos soberanos dos Emirados um potencial de crescimento na relação. Esses fundos já contam com mais de US$ 1 trilhão, mas estima-se que o valor aplicado para investir no Brasil não passe hoje de US$ 5 bilhões.

Outra ideia do governo brasileiro é aproveitar o potencial dos Emirados Árabes como rota de reexportação do agronegócio do Brasil para o Oriente Médio. Segundo Reinaldo Salgado, os Emirados Árabes “têm uma rede de contatos como um grande hub de reexportação de bens”, e já há conversas avançadas para que o Brasil se torne um fornecedor relevante desse hub.

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O governo brasileiro também tem perspectiva de chegar a um acordo para a exportação de produtos na área de defesa. Os detalhes desse acordo só podem ser divulgados depois da assinatura do ato.

Catar

Bolsonaro fará uma visita de um dia só a Doha, no Catar, no dia 28. Ele chegará de manhã e embarcará para a Arábia Saudita no fim da tarde.

Logo depois da chegada, o presidente terá um encontro com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, seguido de um almoço. Outra reunião oficial ocorrerá com o primeiro-ministro do país, Abdullah bin Nasser bin Khalifa Al Thani. O presidente ainda participará de um seminário empresarial semelhante ao que ocorrerá nos Emirados Árabes.

Os principais objetivos do governo brasileiro no Catar são promover um aumento na exportação de produtos de agronegócio e defesa e mostrar os potenciais de investimento no Brasil, tendo em vista as riquezas do fundo soberano do Catar, cujo valor é estimado em cerca de US$ 300 bilhões.

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Arábia Saudita

A visita mais extensa de Bolsonaro no Oriente Médio será a Riade, na Arábia Saudita, principal parceiro comercial do Brasil na região. Em 2018, os sauditas foram o 17º maior exportador de produtos para o Brasil, e o volume de intercâmbio comercial dos dois países chegou a US$ 4,42 bilhões, impulsionado especialmente pela importação de petróleo saudita pelo Brasil.

Assim como nos outros dois países, o agronegócio e o setor de defesa também serão os focos das conversas sobre o aumento do intercâmbio comercial. Em relação aos investimentos no PPI, o governo brasileiro vê uma oportunidade especial de incremento da participação da Arábia Saudita, já que, nos últimos anos, houve uma retração da quantia investida no Brasil.

“Há um desafio de motivar os investidores sauditas a voltarem a investir no Brasil. Aqui o desafio é maior do que nos outros dois casos, onde já há uma disposição de aumentar os investimentos”, diz o secretário Reinaldo Salgado.

A programação oficial da visita prevê dois encontros com o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, e o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Um desses encontros será em um jantar oficial no dia 29, com a participação de empresários e chefes de Estado de diversos países, que estarão presentes por ocasião da conferência Future Investment Initiative, também conhecida como “Davos no Deserto”.

No dia seguinte a esse jantar, o presidente será convidado de honra do painel de abertura da conferência. Como se trata de uma iniciativa organizada por um fundo soberano árabe com a presença de autoridades e empresários importantes no cenário internacional, o governo quer aproveitar a ocasião para estabelecer vínculos com potenciais investidores.

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Depois da conferência, Bolsonaro participará de uma mesa redonda sobre o Brasil no Conselho das Câmaras de Comércio da Arábia Saudita. Na noite do mesmo dia, embarca de Riade para Brasília.

Questões ideológicas podem atrapalhar visita a países árabes?

Jair Bolsonaro nunca escondeu sua admiração pelo presidente norte-americano Donald Trump e por Israel, dois célebres adversários ideológicos do mundo árabe.

No começo de 2019, especulava-se que o governo Bolsonaro fosse seguir o que fez Trump em 2017 e declarar Jerusalém como capital de Israel, transferindo a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. O rumor não se concretizou, mas a criação de um escritório de negócios do Brasil com Israel em Jerusalém, anunciada em março, criou mal-estar no mundo árabe.

O governo brasileiro, especialmente por meio do Itamaraty, agiu rápido para evitar uma crise, e a relação entre brasileiros e árabes, ao menos no âmbito comercial, parece não ter sido afetada de forma relevante.

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O secretário Reinaldo Salgado explica que o Itamaraty tentou mostrar a importância cultural do mundo árabe para o Brasil, ressaltando que o país acolhe “uma população de origem árabe importante em seu tecido social”. Segundo ele, o governo mandou missões para países árabes logo depois da visita a Israel, em março, com o objetivo de apaziguar as relações diplomáticas. “O resultado dessas missões foram os convites para o Bolsonaro visitar os países do golfo pérsico”, diz.

As missões também geraram outros dois convites para viagens a países árabes, que não serão realizadas agora, mas poderão ser incluídas na agenda do presidente para 2020. Um deles foi do Kuwait, e o outro ainda é mantido em sigilo pelo Itamaraty.