“Se eu não posso ser bem recebido em Nova York, seremos no Texas”. O destino não é o previsto inicialmente, mas é com esse discurso otimista que Jair Bolsonaro irá desembarcar em Dallas, nesta quarta-feira (15), em sua segunda viagem oficial aos Estados Unidos desde que assumiu a Presidência da República.
Bolsonaro estará a 2.500 quilômetros de onde receberia o prêmio “Pessoa do Ano” promovido pela Câmara de Comércio Brasil–Estados Unidos. O jantar de gala aconteceu na noite desta terça-feira mesmo sem seu principal protagonista, que está em deslocamento – o voo com a comitiva presidencial estava previsto para partir às 22 horas, de Brasília.
Bolsonaro ainda será homenageado, mas em Dallas, onde ele garante que será bem recebido. Por enquanto, a agenda oficial dessa visita, que irá durar menos de 48 horas, tem apenas dois compromissos. Na quarta-feira à tarde (17 horas de Brasília) haverá um encontro com o ex-presidente americano George W Bush e, no dia seguinte, em um almoço oferecido pelo World Affairs Council Dallas-Fort Worth, o prêmio “Pessoa do Ano” será entregue a Bolsonaro.
Bill de Blasio x Bolsonaro
O cancelamento da viagem de Bolsonaro para Nova York aconteceu após as diversas críticas feitas pelo prefeito nova-iorquino, Bill de Blasio, ao presidente brasileiro. "Jair Bolsonaro acabou de aprender, da maneira mais difícil, que os nova-iorquinos não fecham os olhos para opressão. Nós denunciamos sua intolerância. Ele fugiu. Não é uma surpresa. Os valentões não aguentam um soco. Bolsonaro, seu ódio não é bem-vindo aqui", postou o político democrata em sua conta no Twitter, após o anúncio do cancelamento da viagem.
Bolsonaro rebateu alegando que o prefeito estava patrocinando manifestações contra ele. “Ele estava se organizando lá e falando abertamente para o povo jogar ovo, estrume e coisas em mim”, disse em entrevista à Band News TV. Em nota, o Palácio do Planalto divulgou que “em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade”.
Mas, quem é Bill de Blasio
Um dos principais nomes atuais do Partido Democrata, Bill de Blasio é prefeito de Nova York desde 2013. Eleito com 73% dos votos e reeleito com 66%, ele quebrou uma sequência de 20 anos de governos republicanos na maior cidade dos Estados Unidos. Blasio é apontado como um eventual candidato contra Donald Trump, na eleição presidencial do ano que vem.
Mais Polêmica
Não foram só as manifestações do prefeito nova-iorquino que fizeram Jair Bolsonaro cancelar sua ida à Nova York. O jantar de gala promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos passou por alguns constrangimentos por conta da escolha do homenageado.
Em princípio, o evento seria realizado no Museu Americano de História Natural, mas a instituição desistiu de receber a cerimônia depois de protestos de cientistas do museu que consideram Bolsonaro um “inimigo” do meio ambiente e da preservação da floresta amazônica.
Antes da escolha pelo Hotel Marriott Marquis na Times Square, o restaurante Cipriani Hall, em Wall Street, também havia se negado a receber a cerimônia.
O jantar de gala também perdeu três patrocinadores por conta da homenagem a Jair Bolsonaro. A companhia aérea Delta, a consultoria Bain & Company e jornal Financial Times recuaram na decisão de patrocinar a cerimônia após organizações de direitos LGBT protestarem contra as empresas ligadas ao evento. A consultoria Bain & Company embasou a sua decisão afirmando que “encorajar e celebrar a diversidade é um valor central para a Bain”.
Conexão Texas-Bush
Tradicionalmente, o estado do Texas é conservador e desde 1995 é governado por republicanos. Mas as suas principais cidades – Dallas, Houston e Austin – são governadas por prefeitos democratas. O prefeito de Dallas, Mike Rawlings, declarou que “discorda fortemente de algumas das posições do presidente Bolsonaro”, mas que não se envolveria em uma disputa política com nenhum líder democraticamente eleito.
Por enquanto não existe expectativa de que o prefeito esteja presente em algum dos eventos previstos na agenda oficial de Jair Bolsonaro.
A escolha pelo Texas foi articulada pelas equipes do presidente brasileiro e do ex-presidente americano George W. Bush, que também foi governador do estado. Mas o encontro com Bush pode desagradar ao principal político republicano da atualidade, Donald Trump, com quem Bolsonaro faz questão de manter uma boa relação.
O ex-presidente dos Estados Unidos, apesar de ser do Partido Republicano, é um dos principais críticos de Trump. Nas eleições de 2016, George W. Bush disse que votou em branco. Seu pai, e também ex-presidente George H. Bush, que morreu em novembro passado, admitiu ter votado na candidata democrata Hilary Clinton.
O que é o prêmio 'Pessoa do Ano'
O prêmio “Pessoa do Ano” entregue pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos existe desde 1970. Todos os anos, duas personalidades são escolhidas para receber a homenagem, uma brasileira e outra americana. Este ano, além de Jair Bolsonaro, o outro homenageado é o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
Em tempo, a comitiva presidencial de Jair Bolsonaro ao Texas inclui os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Santos Cruz (Secretaria de Governo), além dos deputados Hélio Lopes (PSL-RJ) e Marco Feliciano (Pode-SP), do presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, do secretário executivo da Casa Civil, José Vicente Santini e dos governadores do Acre, Gladson Cameli (PP), e de São Paulo, João Doria (PSDB). Este último embarcará nesta quarta-feira.
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