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Depois da Rússia, Bolsonaro visita a Hungria. O que ele vai fazer lá?

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Primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, cumprimenta o presidente Jair Bolsonaro, em 2 de janeiro de 2019, em Brasília (Foto: Marcos Correa/PR)

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Depois da viagem à Rússia, o presidente Jair Bolsonaro fará uma parada em Budapeste, nesta quinta-feira (17), para encontro com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Uma agenda oficial ainda não foi divulgada, mas fontes do Palácio do Planalto afirmam que, além do encontro com Orbán, Bolsonaro será recebido pelo presidente János Áder e deve fazer uma visita ao parlamento húngaro.

Esta será a primeira vez que um presidente brasileiro vai à Hungria. Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB) já estiveram no país, mas quando ainda não haviam assumido o comando do Palácio do Planalto. O tucano foi na condição de presidente eleito, em 1994, e o emedebista foi em 2013, quando ainda era vice-presidente no governo de Dilma Rousseff (PT).

Na agenda de Bolsonaro, surgem dois objetivos principais. O primeiro, de Estado, visa aprofundar a cooperação em defesa, ciência e tecnologia com o país. Recentemente, a Hungria assinou contrato de US$ 300 milhões para compra de duas aeronaves militares de transporte multimissão produzido pela Embraer, o KC-390, que devem ser entregues à força aérea húngara em 2024. A visita pode ser uma oportunidade de estreitar os laços bilaterais neste setor, além de abarcar outros temas de interesse em comum, como cultural, educacional, humanitário e de recursos hídricos.

Outro aspecto é que a Hungria tem se alinhado ao Brasil em pautas relevantes, como a aprovação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, bloco do qual a Hungria é membro. Em 2019, os países assinaram um documento considerando que o acordo Mercosul-UE “é um instrumento de criação de oportunidades de negócios e de investimentos, promoção da competitividade e fomento da sustentabilidade”.

Orbán também apoiou a candidatura do Brasil a um assento temporário no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), para o biênio 2022/2023, e se coloca favorável ao ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países ricos do qual a Hungria também faz parte.

Bolsonaro e Orbán: encontro de conservadores na Hungria

O segundo objetivo da visita, de caráter mais personalista, visa reforçar a imagem de Bolsonaro como líder conservador. Nos últimos anos, apesar das acusações de que a Hungria vive uma deterioração democrática, Orbán tem sido considerado por alguns analistas como o grande expoente conservador da Europa. Sua agenda nos costumes é bastante alinhada à do presidente brasileiro, com foco na defesa da família, contra o aborto e ideologia de gênero.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, é um dos admiradores de Orbán. No ano passado, ao deixar a Comissão de Relações Exteriores da Câmara elogiou o primeiro-ministro e disse que a Hungria é "referência".

“Bolsonaro compartilha com Orbán uma série de valores conservadores nos costumes. E com essa viagem, há uma perspectiva de dar corpo a essas confederações de países conservadores de direita”, opina Leonardo Paz Neves, pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O analista acredita também que, considerando que as relações comerciais entre Brasil e Hungria não são tão relevantes quanto às com a Rússia, a parada em Budapeste é uma forma de mostrar que Bolsonaro não está isolado no cenário internacional, além de representar um aceno aos seus apoiadores mais conservadores em ano eleitoral.

Mesmo a visita ao presidente russo Vladimir Putin foi analisada dentro deste contexto. Nesta quarta-feira (16), em coletiva de imprensa ao lado do anfitrião russo, Bolsonaro disse que ambos possuem valores em comum: "a crença em Deus e a defesa da família".

Como a Hungria também realizará eleições em abril, o encontro com Bolsonaro também poderá ser usado por Orbán para propósitos eleitorais semelhantes.

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