Bolsonaro encerrou o mandato em Orlando, na Flórida: retorno ao Brasil ainda é incerto.| Foto: Alan Santos/PR
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou nesta semana que pretende antecipar o retorno ao Brasil. Desde 31 de dezembro, ele está em Orlando, na Flórida; e inicialmente havia informado que ficaria nos Estados Unidos até o fim de janeiro. Apesar da declaração, sua volta ao país ainda é incerta. Há riscos políticos e jurídicos para o ex-presidente tanto no retorno ao Brasil quanto na sua permanência em território americano.

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Alguns familiares querem que Bolsonaro continue no exterior, pois correria risco de ser preso no Brasil. Outros parentes e aliados políticos próximos aconselham que ele volte para reorganizar sua base política e se defender das acusações de ser responsável pelo vandalismo do último domingo (8) em Brasília.

A Gazeta do Povo conversou com cinco fontes ligadas a Bolsonaro, entre interlocutores políticos e pessoas próximas do próprio ex-presidente; de sua mulher (Michelle Bolsonaro); de filhos de Bolsonaro; e do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. E ninguém tem certeza de qual será a decisão de Bolsonaro.

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Uma parcela da família é contra Bolsonaro voltar ao país diante do risco de uma prisão articulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com a Justiça de primeira instância. Sem foro privilegiado por não ser mais presidente, os inquéritos contra Bolsonaro que tramitavam no STF podem ser encaminhados à Justiça de primeira instância. Desse modo, o ex-presidente poderia ser preso por ordem de qualquer juiz. Também não se descarta a possibilidade de uma ordem de prisão que parta do próprio Supremo por causa das invasões em Brasília.

Mas outra parcela de seu entorno familiar, juntamente com conselheiros políticos, defende o retorno de Bolsonaro ao Brasil para que ele possa participar das discussões de sua defesa jurídica e para reorganizar a direita no país. Nesse grupo, porém, há uma divisão sobre qual seria o momento mais apropriado para seu retorno.

Risco de expulsão dos EUA é argumento dos que defendem a volta de Bolsonaro

Um dos argumentos apontados pelo grupo que defende a volta de Bolsonaro para convencê-lo a regressar é a possibilidade de seja submetido ao constrangimento de ser expulso ou extraditado dos EUA.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) pediu ao STF para incluir Bolsonaro no inquérito dos atos antidemocráticos e para considerá-lo um fugitivo da Justiça brasileira. Se o Supremo atender à demanda de Calheiros, abre-se a possibilidade de o Brasil solicitar aos EUA a extradição de Bolsonaro. Interlocutores do ex-presidente acreditam que o senador de Alagoas já articula isso com o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Embora juristas apontem que um processo de extradição possa ser longo, por exigir o reconhecimento do crime também nos EUA, o ex-presidente brasileiro ainda poderia ser deportado. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse na segunda-feira (12) que qualquer cidadão que tenha entrado no país com passaporte diplomático, mas que não exerça o cargo mais, tem um prazo de 30 dias para deixar o país ou mudar o visto. Esse seria o caso de Bolsonaro. Ele ingressou em território americano ainda como presidente do Brasil – e já não é mais.

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O entorno de Bolsonaro contrário ao retorno dele ao Brasil sugere que o ex-presidente peça o ajustamento do status de seu visto nos EUA durante esse prazo de 30 dias. No caso, Bolsonaro solicitaria o visto de turista, o que o asseguraria a possibilidade de ficar no território americano por até seis meses. Esse visto é o mesmo de Michelle Bolsonaro – que, por ora, é um dos familiares interessados na permanência do ex-presidente nos EUA.

Segundo fontes consultadas pela Gazeta do Povo, o anúncio de Bolsonaro da antecipação de sua volta ao Brasil teria sido muito mais motivada pela possibilidade de ser deportado do que por razões médicas – quando o ex-presidente falou em antecipar sua volta, citou sua saúde (ele se internou em um hospital nos EUA devido a dores abdominais).

O presidente dos EUA, Joe Biden, está sendo pressionado por uma ala do Partido Democrata a deportar o ex-presidente brasileiro. "Bolsonaro não pode receber refúgio na Flórida, onde ele tem se escondido da responsabilidade por seus crimes", disse o democrata Joaquín Castro no domingo (8), dia do vandalismo em Brasília. "Devemos nos solidarizar com o governo democraticamente eleito de Lula. Os EUA devem parar de conceder refúgio a Bolsonaro na Flórida", afirmou a democrata Alexandria Ocasio-Cortez.

A declaração de Bolsonaro sobre seu retorno, feita na segunda-feira (9), um dia após os atos de vandalismo e das cobranças dos deputados democratas, teria sido uma forma de tentar reduzir a pressão sobre Biden. Bolsonaro ganharia tempo ao indicar que irá deixar os EUA em breve. E, assim, poderia pedir o visto de turista. Uma fonte ouvida pela reportagem afirma que, além desse motivo, Bolsonaro também quis ganhar tempo no STF e com sua própria base política, que pressiona pela sua volta para liderar a oposição contra Lula.

"Ele precisava falar que retorna [ao Brasil] para fazer essa sinalização e também porque havia uma possibilidade de ser deportado. Imagina o constrangimento internacional que seria. É esperado que ele volte. Mas não sabemos quando. A decisão será dele, vamos esperar", diz um interlocutor do entorno da família de Bolsonaro.

Qual é o melhor momento para Bolsonaro voltar?

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é um dos familiares e lideranças políticas favoráveis à volta do ex-presidente ao Brasil. Mas o grupo do senador defende que isso seja feito no momento certo. Por ora, há um entendimento de que o clima não é propício. O governo de Lula e a base política do petista no Congresso culpam Bolsonaro pela invasão nas sedes dos Três Poderes. E Flávio Bolsonaro ainda está atuando na estruturação do terreno político e jurídico favorável ao regresso do pai.

Na terça-feira (10), Flávio Bolsonaro criticou a tentativa de associar o ex-presidente aos atos de vandalismo. "Não queiram criar essa narrativa mentirosa como se tivesse alguma vinculação de Bolsonaro a esses atos irresponsáveis. O presidente Bolsonaro, após o resultado das eleições, ficou em silêncio, se recolheu e está lambendo as feridas [da derrota nas urnas]. Não é essa expressão que muitos estão usando ai? É o que eles está fazendo, praticamente incomunicável", declarou.

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Grupo do presidente do PL defende volta mais rápida

Já o grupo político do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é um dos que defende um retorno mais rápido de Bolsonaro ao Brasil para reorganizar e liderar a direita na oposição a Lula. A avaliação, que já vinha desde antes da posse do petista na Presidência, é que Bolsonaro está perdendo capital político. Primeiramente, por se manter em silêncio após a derrota nas urnas. E agora por causa do vandalismo em Brasília. E, para o entorno de Costa Neto, isso prejudica o PL.

"O entorno do [ex-]presidente não assume, mas eles estão perdendo engajamento e alcance nas redes sociais. Reduziram as publicações e isso naturalmente gera queda de engajamento. Não estão alimentando a base. O reflexo das redes é o reflexo da oposição como um todo. Eles não estão alimentando a base nas redes e dentro do Congresso", diz fonte ouvida pela Gazeta do Povo. A empresa de pesquisas Quaest, inclusive, apontou que a popularidade de Bolsonaro nas redes sociais chegou ao pior nível após as atos de vandalismo no domingo.

A ideia de Costa Neto é que Bolsonaro estanque essa perda de popularidade ao voltar ao país. O plano do PL era de que Bolsonaro assumisse o cargo de presidente de honra do partido e Michelle o de presidente do PL Mulher. O presidente da legenda tem sofrido pressões internas para retirar essas ofertas sob pretexto de uma possível represália do ministro do STF Alexandre de Moraes, mas a ideia é manter.

Costa Neto gostaria que Bolsonaro e Michelle viajassem o país com a missão de atuar na organização da direita em todos os estados. O objetivo é engajar o eleitorado, inclusive o da base mais "raiz" do ex-presidente. Seria uma forma de fazer oposição a Lula e começar a se preparar para as eleições municipais de 2024 e as presidenciais de 2026. Mas uma fonte do entorno do ex-presidente afirma não ter a convicção de que, hoje, Bolsonaro retornaria ao Brasil disposto a organizar a direita e se engajar na construção do projeto eleitoral do PL.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]