Em várias capitais do país, as eleições municipais do próximo ano vão reacender a polarização política da corrida presidencial de 2022, protagonizada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Embora não ocorra necessariamente sob as mesmas siglas do PT e do PL, o embate entre direita e esquerda tende a se repetir nos maiores municípios brasileiros.
Para o PT, o pleito é de grande relevância, já que o partido teve sua maior baixa nas eleições de 2020, quando não conseguiu eleger prefeitos em nenhuma capital brasileira e terminou o ano com 183 prefeituras em todo o país, o menor número em 16 anos. Segundo Luiz Filipe Freitas, cientista político e assessor legislativo da Malta Advogados, a estratégia do partido é a de avançar nas regiões do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde Bolsonaro teve maioria de votos.
“O PT vai atuar da maneira mais estratégica possível, seja se alinhando ao Centrão ou ao menos construindo frentes amplas como na capital paulista, na qual a eleição será provavelmente capitaneada pelo Guilherme Boulos [PSOL-SP], enquanto no Rio, o PT vai se aliar ao Eduardo Paes [PSD], que puxou muitos votos em 2022. Além de tudo, o atual prefeito do Rio possui bom trânsito político e é relevante nas negociações com parlamentares do PSD na Câmara”, afirma.
Ele argumenta que essas eleições municipais serão muito importantes, pois também influenciarão no comportamento do Congresso no segundo biênio da gestão Lula, podendo, inclusive, interferir na eleição do próximo Presidente da Câmara em 2025.
Diante desse cenário, veja como estão as articulações em dez capitais brasileiras que terão candidatos de Lula e Bolsonaro disputando no ano que vem.
1. São Paulo
Depois de muito vai-e-vem, o PL garantiu seu apoio ao atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Valdemar Costa Neto, presidente nacional da legenda, disse que Bolsonaro deverá indicar quem será o vice da chapa – o que deve ocorrer em março. A decisão tira da disputa o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), que era um dos nomes cogitados por Bolsonaro para a prefeitura de São Paulo. O ex-ministro do Meio Ambiente chegou a dizer que sairia do PL para lançar sua candidatura, mas em entrevista à Gazeta do Povo contou que desistiu da ideia e que vai respeitar a decisão do ex-presidente.
Dias antes da confirmação do posicionamento do PL, Nunes fez um aceno a Bolsonaro, dizendo que o apoio do ex-presidente é “fundamental” no combate ao que ele classifica como “extrema-esquerda”, representada na candidatura de Guilherme Boulos (PSOL-SP). Isso parece ter convencido Bolsonaro, que poucos dias atrás se referia a Salles como “prefeito”. De toda forma, ainda existe uma ala insatisfeita no PL, que gostaria de ver uma “candidatura de direita” e ainda espera uma declaração vinda do próprio Bolsonaro – e não de Costa Neto.
Por outro lado, a campanha de Nunes precisa avaliar o tamanho do abraço que dará a Bolsonaro, já que foi Lula quem venceu as eleições na capital paulista no ano passado, com vantagem de quase 500 mil votos.
Assim como o PL, o PT não deverá ter um candidato próprio nas eleições da capital paulista – a primeira vez que isso ocorre desde a criação do partido. Ainda na campanha presidencial do ano passado, Lula acertou apoio a Boulos em São Paulo para as eleições de 2024. O PT é quem deve indicar o vice da chapa de Boulos. Um dos nomes cotados é o de Marta Suplicy, que já foi prefeita da capital pelo partido. Segundo a Folha de S. Paulo, Lula telefonou para ela no último dia para sondá-la sobre a vaga e, embora nada ainda esteja acertado, os dois deverão se encontrar no começo do ano que vem.
Com essas definições até agora, a polarização na cidade de São Paulo se dará entre Nunes e Boulos. Mas há outros candidatos na disputa também: os deputados federais Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (União) e a ex-secretária de desestatização do Ministério da Economia no governo Bolsonaro, Marina Helena (Novo).
No que depender da aprovação do governo de Lula na capital paulista, os candidatos da oposição podem se deparar com a necessidade de convencer os 55,1% da população que aprovam a presidência petista, contra 42% que a desaprovam. Os dados foram divulgados em 13 de dezembro pela Paraná Pesquisas, que ouviu 1.046 pessoas na cidade de São Paulo.
2. Rio de Janeiro
Na capital fluminense, a disputa é mais pulverizada e as perspectivas são mais vagas, mas Lula e Bolsonaro também terão seus palanques no Rio.
Apesar da pressão interna por uma candidatura própria do PT, a tendência é que o atual presidente apoie a reeleição de Eduardo Paes, do PSD – partido que em São Paulo estará no palanque com Ricardo Nunes. Paes apoiou a candidatura de Lula no ano passado, mas recentemente também fez declarações que acenam à direita, diante do aumento dos problemas da segurança pública na cidade – como a crítica a uma decisão da Justiça que proibiu a apreensão de adolescentes sem flagrante para evitar arrastões nas praias da zona Sul durante o verão. A definição deve ficar para o próximo ano.
No espectro político oposto, Bolsonaro e PL avalizam a pré-candidatura do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que deverá receber também o apoio do governador Cláudio Castro (PL). O próprio Ramagem, porém, afirmou no evento de lançamento de sua pré-candidatura, que o “martelo ainda não está batido”. O senador Carlos Portinho e o deputado Luiz Lima também seriam possíveis indicados. O apoio de Bolsonaro será um ativo político importante em 2024, já que no ano passado o ex-presidente venceu na capital fluminense, com 52,6% dos votos no segundo turno contra Lula.
Nomes da esquerda também estão se movimentando para o pleito do ano que vem no Rio: a deputada estadual Martha Rocha, do PDT, partido tradicional na cidade, deverá concorrer; a deputada estadual Dani Balbi é a pré-candidata do PCdoB; e Tarcísio Motta, um dos fundadores do PSOL carioca, também se lançou para concorrer à prefeitura. Recentemente, Motta e Martha se encontraram, sinalizando para uma possível aliança.
No espectro da direita e centro-direita, o deputado federal Otoni de Paula, do MDB, e o vereador Pedro Duarte, do Novo, também são pré-candidatos.
3. Porto Alegre
Na capital gaúcha, Bolsonaro terá palanque na campanha de reeleição do prefeito Sebastião Melo (MDB). O vice é Ricardo Gomes, do Partido Liberal. Melo tem o apoio de partidos de centro e de direita, como Progressistas, PL e PTB. Apesar disso, o atual prefeito tem dito que não quer nacionalizar a disputa para a prefeitura de Porto Alegre.
“O debate ideológico não irá me nortear”, disse Melo à Rádio Guaíba, no começo do mês.
Os partidos de esquerda, por sua vez, tentam se unir contra o atual incumbente do cargo, mas ainda há arestas que precisam ser aparadas.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) desponta como principal nome. O PT lançou sua pré-candidatura no fim de novembro. “Agora é hora da construção de unidade das forças democráticas e populares, de articulação de uma frente fortalecida contra o retrocesso e o descaso com o povo”, escreveu Rosário no X (antigo Twitter), ao anunciar sua pré-candidatura.
O nome de Maria do Rosário não é o único que pode disputar a prefeitura de Porto Alegre pela esquerda. O PSOL, que faz parte da mesma federação do PT, lançou a pré-candidatura da deputada estadual Luciana Genro, no começo de dezembro. Contudo, há indícios de uma aproximação entre as duas. No último dia 23, Luciana postou uma foto em suas redes sociais ao lado de Rosário e do ex-prefeito José Fortunati. A legenda da foto sugeria que eles estavam tratando de um programa de governo para Porto Alegre.
Afastada da política e morando nos Estados Unidos, a ex-deputada Manuela d’Avila (PCdoB) não deverá concorrer desta vez. Em uma publicação no X, no começo de agosto, ela disse que “é preciso construir unidade no campo progressista” e que estará “nas ruas, fazendo campanha para a candidatura que representar o campo democrático e popular”.
As eleições devem ser polarizadas entre Melo e o nome escolhido pela esquerda, provavelmente Maria do Rosário. Mas na centro-direita também há cotados. O PSDB, do governador Eduardo Leite, estuda lançar a deputada estadual e delegada Nadine Anflor.
4. Belém
Belém, a capital paraense, foi uma das cidades do país em que a disputa entre Lula e Bolsonaro no ano passado foi bastante apertada, com 50,2% dos votos para o atual presidente. Os nomes ainda não estão definidos, mas já é possível prever palanques relacionados aos dois nomes nacionais.
O deputado federal Eder Mauro, do PL,deve contar com o apoio de Bolsonaro na disputa pela prefeitura. Foi ele uma das pessoas que receberam o ex-presidente e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, em Belém, em outubro, quando a cidade sediou um evento do PL Mulher com a participação do casal.
Outro aliado de Bolsonaro na cidade que é cotado nas pesquisas de opinião para disputar a prefeitura é o Delegado Eguchi, que foi suspenso de sua função pelo Ministro da Justiça, Flávio Dino, por 45 dias, em fevereiro deste ano. Em 2020 ele concorreu pelo PL, mas perdeu para o atual prefeito, Edmilson Rodrigues (PSOL).
Aliás, Rodrigues deverá ser o principal rival do nome indicado pela direita e terá apoio de Lula. Sua avaliação popular, porém, é negativa, o que deverá ser explorado pelo adversário do PL. Ainda assim, a capital é onde o governo Lula teve a quinta maior aprovação em todo o país, 58,7%, contra 37,8% de desaprovação, no comparativo de dados coletados ao longo do ano pela Paraná Pesquisas. A sondagem foi divulgada no dia 7 de novembro e contou com uma amostra de 812 pessoas.
Outros cotados são os deputados estaduais Zeca Pirão (MDB) e Thiago Araújo (Cidadania) e a deputada federal Dra. Alessandra Haber (MDB).
5. Fortaleza
Na capital cearense, o deputado federal André Fernandes (PL-CE), é a aposta de Bolsonaro. O ex-deputado federal e secretário de Saúde do município de Maracanaú, Capitão Wagner, se declara como o único pré-candidato não apadrinhado da capital. Ele disputará pelo União Brasil. Ainda que Fernandes tenha o apoio do ex-presidente, os bolsonaristas se dividem na preferência entre ambos os candidatos.
Os partidos de esquerda já possuem algumas definições, como a busca pela reeleição do atual prefeito, José Sarto (PDT). O partido optou por uma candidatura própria da legenda, conforme defendido pelo ex-governador do Estado, Ciro Gomes, contrariamente a seu irmão, Cid Gomes, que apostava em uma parceria com o PT. O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, deixou a sigla e se filiou ao PT, onde também é cotado como possível candidato.
Os petistas cearenses, no entanto, ainda não definiram o pré-candidato, tendo como possíveis indicados a deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, os deputados estaduais Larissa Gaspar e Guilherme Sampaio, e o assessor de Assuntos Municipais do Governo do Ceará, ex-deputado Artur Bruno. O nome será definido em 2024.
6. João Pessoa
Bolsonaro e Lula também terão palanques na capital da Paraíba. O ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga será a aposta do PL. Ele se filiou ao partido na metade do ano, com a intenção de disputar a prefeitura de João Pessoa, e em setembro se tornou presidente da legenda na capital. Em entrevista à Gazeta do Povo em outubro, ele disse que a direita precisa destacar as conquistas de Bolsonaro no Nordeste para se sair bem nas eleições do ano que vem.
Mas Queiroga pode ter seus votos diluídos se uma ala dissidente do PL local resolver lançar uma candidatura conservadora. Nilvan Pereira pretende concorrer e até lançou sua pré-candidatura, mas ainda não se sabe por qual partido concorrerá, já que é filiado ao PL também, mas acabou perdendo a disputa pela presidência da legenda em João Pessoa - a candidatura do partido - para Queiroga.
O PT também lançará candidatura própria na capital da Paraíba. O nome, porém, ainda não está definido. São cotados o deputado e ex-prefeito Luciano Cartaxo e a deputada Cida Ramos.
Mas os candidatos de Lula e Bolsonaro terão que enfrentar o atual prefeito, Cícero Lucena (PP), que concorrerá à reeleição. Ele terá ao seu lado vários partidos que o apoiaram em 2020, como Republicanos, além do governador João Azevêdo (PSB), com quem cumpriu várias agendas ao longo do ano.
7. Vitória
Outra capital que promete ter eleições polarizadas é Vitória, no Espírito Santo. O Partido Liberal deve lançar a candidatura do deputado estadual Capitão Assumção, que no ano passado foi alvo de uma operação da Polícia Federal contra suspeitos de organizar bloqueios em rodovias e protestos em frente a quartéis das Forças Armadas após a derrota de Bolsonaro nas eleições. Foi Assumção quem propôs, junto com o colega de bancada Danilo Bahiense (PL), que Bolsonaro recebesse na Assembleia Legislativa do Espírito Santo a Ordem do Mérito Domingos Martins, a mais alta honraria concedida pela Casa, e o título de cidadão capixaba. O evento ocorreu em novembro. Assumção já concorreu à prefeitura de Vitória em 2020, mas acabou em quarto lugar.
O Partido dos Trabalhadores também planeja lançar um nome da legenda na disputa. O também deputado estadual João Coser foi lançado como pré-candidato em outubro. Ele já foi prefeito de Vitória, entre 2005 e 2012, mas não conseguiu um terceiro mandato em 2020, quando concorreu novamente. Um de seus desafios será unir a esquerda em torno de sua candidatura. O PSOL já lançou a deputada estadual Camila Valadão como pré-candidata.
Ambos terão que enfrentar aquele que é considerado favorito nessa disputa: o atual prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos). Candidato à reeleição, seu eleitorado é conservador.
8. Belo Horizonte
A prefeitura da capital de Minas Gerais é uma das mais concorridas do país, com cerca de 10 pré-candidatos já divulgados, o que faz com que a disputa seja pulverizada, mas terá candidatos próprios do PL e do PT.
O deputado estadual pelo PL Bruno Engler é o pré-candidato apoiado por Jair Bolsonaro. É a segunda vez que ele concorre à prefeitura de Belo Horizonte, tendo ficado em segundo lugar em 2020, quando perdeu para Alexandre Kalil, que deixou o cargo em 2022 para concorrer ao governo do Estado. Embora sem confirmação, o senador Carlos Viana (Podemos), que concorreu ao governo de Estado em 2022, que já foi do PL e aliado de Bolsonaro, também é um dos cotados para o pleito.
Já o Partido dos Trabalhadores deve apostar no deputado federal Rogério Correia (PT). Ainda é aventada a possibilidade de que PT e PDT, que quer lançar a deputada federal Duda Salabert, entrem em acordo para lançar uma frente única para enfrentar os nomes ligados à direita. Correia já afirmou que considera a parceria, embora Salabert tenha divulgado que concorrerá ao pleito, possivelmente diminuindo as possibilidades de coligação.
Além deles, é esperado que o vice de Kalil e atual prefeito, Fuad Noman (PSD) busque a reeleição. O pleito também deve contar com Eduardo Costa (Cidadania) e Mauro Tramonte (Republicanos).
9. Goiânia
Nas eleições de Goiânia, está confirmada a candidatura da petista Adriana Accorsi, deputada federal, que conta com o apoio de legendas de esquerda como PSB e PCdoB. Segundo o site do PT, ela é vice-líder do bloco do governo na Câmara e uma das principais articuladoras do Estado de Goiás com o governo federal.
No lado de Bolsonaro, a aposta deverá ser o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO). O apoio do ex-presidente é um ativo considerável, visto que obteve 63% dos votos na capital de Goiás no ano passado. Além disso, a capital goiana apresentou o segundo maior índice de desaprovação do governo Lula, 56,5% em julho deste ano. A marca é inferior somente à registrada em Porto Velho (RO) no mês de abril, quando 60,6% da população desaprovava a gestão Lula. Os dados são da Paraná Pesquisas, que ouviu 761 e 714 pessoas em ambas as capitais, respectivamente.
Outros nomes fortes da disputa que estão cotados são: Rogério Cruz, atual líder do executivo municipal pelo Republicanos – que ao que tudo indica conta com o apoio de Ronaldo Caiado, governador do Estado; Bruno Peixoto (União), presidente da Assembleia Legislativa de Goiás; Jânio Darrot (MDB), ex-prefeito de Trindade; o empresário Leonardo Rizzo (Novo) e Vanderlan Cardoso, senador pelo PSD.
10. Cuiabá
O deputado federal Abílio Brunini é o pré-candidato do PL para a prefeitura de Cuiabá, enquanto o PT lançou a pré-candidatura do deputado estadual Lúdio Cabral, que já concorreu à prefeitura da cidade e ao governo do estado.
O candidato de centro dessa disputa deve ser o presidente da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Eduardo Botelho, que está filiado ao União Brasil, mas que deve migrar para o PSD ou para o PP para disputar a eleição. O União Brasil, por sua vez, terá como opção o deputado federal Fábio Garcia.
O atual vice-prefeito, José Roberto Stopa (PV) também pode concorrer ao pleito, já que o prefeito Emanuel Pinheiro está em seu segundo mandato e não pode se reeleger, mas encontros recentes sugerem uma aproximação entre ele e Lúdio.
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