Os bombeiros encontraram o corpo da última vítima considerada desaparecida nos escombros da tragédia em Muzema, na zona oeste do Rio de Janeiro, na madrugada de sábado (20) para domingo (21). A mulher foi identificada como Juliana Martins de Souza Vicente, 28 anos.
Com ela, chegou a 23 o número de mortos em decorrência da queda de dois prédios ocorrida há nove dias, na sexta-feira (12). Na tarde de sábado (20), haviam sido resgatados os corpos de dois meninos.
O desabamento, no condomínio Figueiras de Itanhangá, também deixou oito feridos, dos quais três continuam internados em hospitais do Rio de Janeiro. Com o último corpo encontrado, os bombeiros deram por encerradas as buscas nos escombros na Muzema.
A corporação informou que foram mais de 200 horas de trabalho ininterruptas na procura por sobreviventes. Dez pessoas foram encontradas com vida, mas duas delas morreram posteriormente em unidades de saúde.
O Exército auxiliou nos trabalhos. Ao longo de nove dias, atuaram na operação cerca de cem militares que ajudaram nas buscas, além de cães farejadores, drone, helicópteros, ambulâncias e viaturas para o recolhimento de cadáveres.
Os edifícios localizados no condomínio Figueiras de Itanhangá eram considerados irregulares, e 16 tiveram ordem de interdição e serão demolidos, informou a prefeitura, sob gestão Marcelo Crivella (PRB). A região onde aconteceu a tragédia é dominada por milícias. Os milicianos atuam com grilagem de terras em Rio das Pedras e em Muzema.
Prisão temporária
A Justiça decretou na última sexta (19) a prisão temporária, por 30 dias, de três investigados pelo desabamento. Vítimas apontaram José Bezerra de Lima, o Zé do Rolo, como o construtor dos imóveis, e Renato Siqueira Ribeiro e Rafael Gomes da Costa como os corretores que faziam a venda.
Eles são apontados como os responsáveis por construir e comercializar as unidades. O trio é considerado foragido. Os três ainda são investigados por envolvimento com as milícias, segundo disse a Polícia Civil do Rio de Janeiro, em nota enviada na útima sexta-feira.
A 16ª Delegacia de Polícia, na Barra da Tijuca, apura se houve por parte dos construtores inobservância do dever de cuidado e descumprimento de normas técnicas afetas à construção.
Já o Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) está ajudando na investigação de envolvimento da milícia na exploração imobiliária daquela região e também em comunidades do entorno.
A construção do condomínio envolveu ao menos quatro empresas, segundo ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Rio de Janeiro no ano passado.
A Olimpique Incorporações e Participações, a Pedreira Santo Amaro, a Gaúcha New Construtora e a Francisco Xavier Imóveis foram vinculadas ao empreendimento ilegal desde a origem do loteamento, em 2005.
De acordo com o resultado da investigação do Ministério Público, desde o início das obras a responsável é a Olimpique, que pertence à Pedreira Santo Amaro.
Ambas chegaram a tentar o licenciamento do empreendimento, mas tiveram o pedido negado sob a justificativa de desrespeito às legislações urbanísticas da área. Ainda assim, o trabalho na região foi executado ao longo de 14 anos.
A Gaúcha New e a Francisco Xavier foram as responsáveis pela comercialização das unidades, segundo a investigação.