Ao pedir o reconhecimento do estado de calamidade pública, o governo busca facilitar a reação da economia frente à crise gerada pelo novo coronavírus. A União não precisará mais cumprir a meta fiscal prevista para este ano, que era de um rombo de até R$ 124,1 bilhões nas contas públicas. E, sem essa obrigação, o governo federal não terá mais a necessidade de contingenciar (bloquear) dezenas de bilhões de reais do Orçamento.
"Nós começamos esta semana com a iminência de um contingenciamento. Vocês imaginem a arrecadação descendo pela crise, vamos ter de tirar R$ 16 bi da [privatização] da Eletrobras. Iriamos precisar um contingenciamento de quase R$ 40 bilhões num momento que a prioridade é a saúde do brasileiro e a manutenção dos empregos" afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante coletiva nesta quarta-feira (18).
Na semana passada, a Instituição Fiscal Independente (IFI) já estimava que seria necessário um bloqueio de até R$ 37 bilhões, pois as receitas previstas para este ano foram superestimadas durante a definição do Orçamento. Com a crise gerada pela pandemia do coronavírus, o contingenciamento poderia ficar ainda maior, pois o governo precisará gastar mais para combater o vírus e diminuir os seus efeitos na economia.
Um contingenciamento dessa magnitude inviabilizaria o funcionamento da máquina pública, justamente num momento em que o governo precisa de mais dinheiro. Segundo a IFI, o nível mínimo de despesas discricionárias para a máquina pública não parar é de R$ 77,2 bilhões. A equipe econômica calcula que o Executivo tem R$ 93 bilhões destinados às suas despesas discricionárias, caso os projetos que regulamentam o Orçamento impositivo sejam aprovados pelo Congresso.
"Trocamos uma ideia com o presidente e solução técnica [para evitar o contingenciamento] é o artigo 65 da LRF [Lei de Responsabilidade Fiscal] para suspender as metas de resultados primários deste ano. Isso nos dá espaço fiscal", explicou Guedes sobre a decisão de declarar calamidade. O artigo 65 da LRF determina que, em casos de calamidade, a meta fiscal fica suspensa.
Governo poderá gastar mais com saúde
O estado de calamidade também permitirá que o governo gaste mais, principalmente na área da saúde. Como não terá mais que cumprir a meta fiscal, suas despesas poderão ficar bem maiores que as projetadas, isso sem infringir a regra fiscal da meta.
O governo terá apenas de editar medidas provisórias abrindo crédito extraordinário para essas despesas. É o que manda fazer a regra do teto de gastos em situações de calamidade pública. As despesas executadas via crédito extraordinário ficam fora do teto, ou seja, podem crescer acima da inflação, segundo a própria emenda do teto de gastos. Essas MPs têm validade imediata, mas depois precisam ser chanceladas pelo Congresso.
Segundo declarou o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao site Poder360 nesta quarta-feira (18), o governo aumentará apenas as despesas com saúde, justamente para combater o coronavírus. Ele disse que tudo o que o governo vai pedir de crédito extraordinário será para "saúde, saúde e saúde".
Entenda melhor o caso
O governo anunciou na terça-feira (17) à noite que pedirá o reconhecimento do estado de calamidade até o fim de dezembro. O Congresso Nacional ainda terá de aprovar a solicitação. Os presidentes das duas Casas, Davi Alcolumbre (Senado) e Rodrigo Maia (Câmara), já se manifestaram favoráveis ao decreto. Uma sessão virtual deverá ser convocada para analisar o pedido.
Caso o estado de calamidade seja mesmo reconhecido, ele dispensará o governo de cumprir a meta fiscal. Isso está previsto no artigo 65 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A meta fiscal nada mais é do que uma previsão do governo sobre qual será o saldo das contas públicas no fim do ano: se despesas maiores que as receitas (déficit primário) ou se receitas superiores às despesas (superávit primário), isso sem contar as despesas com o pagamento dos juros da dívida.
A meta fiscal precisa ser aprovada pelo Congresso. Para 2020, foi estabelecido que o governo poderia ter um déficit de até R$ 124,1 bilhões. Desde 2014 o governo vem registrando sucessivos rombos nas suas contas.
Para garantir o cumprimento da meta, a cada dois meses (a partir de março) o governo revisa suas projeções de receitas e despesas para saber se precisará bloquear recursos para cumprir a meta. Neste ano, o governo ia precisar contingenciar, pois a receita esperada será abaixo da prevista quando elaborado o Orçamento. Por exemplo, o governo previu a receita da privatização da Eletrobras (R$ 16,1 bilhões), um crescimento de 2,4% do PIB e o preço do barril de petróleo – que afeta a arrecadação com royalties – em US$ 52. Todos esses valores, muito provavelmente, não vão se concretizar.
O governo também vai precisar gastar além do previsto para combater a crise gerada pelo coronavírus. Uma medida provisória já foi editada para liberar na forma de crédito extraordinário mais R$ 5 bilhões para os ministérios da Saúde e Educação. Outros créditos extraordinários não estão descartados.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF