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O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que o Brasil não vai mudar sua posição sobre o grupo terrorista Hamas enquanto tal mudança não partir da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele foi ouvido no Senado Federal, nesta quarta-feira (18), durante a Comissão de Relações Exteriores.
O chanceler brasileiro foi questionado sobre o posicionamento do Brasil em relação ao conflito entre Hamas e Israel, que já dura mais de dez dias no Oriente Médio. Os senadores que compõem a Comissão, em sua maioria, questionaram o fato do Brasil não considerar o Hamas um grupo terrorista, como faz os Estados Unidos e a União Europeia.
Respondendo aos questionamentos, Mauro Vieira repetiu o discurso já divulgado pelo Itamaraty de que a diplomacia brasileira segue as orientações da ONU para tal consideração. "Foge, no momento, da nossa politica [considerar o Hamas um grupo terrorista]", respondeu o chanceler.
"Declaramos países, organizações ou pessoas que são designadas pela ONU, o órgão delegado a velar pela paz e pela seguranca internacional. O Conselho de Segurança não classificou o Hamas como um organismo terrorista até agora. Portanto o Brasil segue essa orientação. O mesmo serve para sanções. Nós não aplicamos sanções em outros paises que não sejam impostas pela ONU", justificou Vieira.
Ainda respondendo aos questionamentos, o ministro explicou que apenas quatro países do mundo consideram o grupo terrorista e, por isso, não fazia sentido o Brasil seguir tal resolução. A informação de Vieira, contudo, é equivocada. Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Israel e os países membros da União Europeia, após discussões internas, passaram a considerar o grupo como terrorista.
Sugestão para condenar Hamas como terrorista
Os senadores também questionaram o fato do Brasil não propor no texto para resolução do conflito votada no Conselho de Segurança da ONU, nesta quarta-feira (18), um termo que considera o Hamas como um grupo terrorista pelo Conselho.
"Temos que ser muito firmes com o Hamas em Gaza. O Hamas não representa o povo palestino. Quando não nos posicionamos com clareza, não dizendo que o Hamas é um grupo terrorista, estamos dando apoio ao que está sendo feito. A política externa brasileira precisa corrigir isso", ponderou o senador Carlos Viana (Podemos-MG).
"Quando o Brasil nao assume uma posição clara, meu receio é que nossa posição de neutralidade fique comprometida", disse o senador Sergio Moro (União Brasil-PR).
O senador também indagou uma "mal orientação" internacional do Brasil depois que a resolução proposta pelo Brasil foi vetada pelos Estados Unidos, já que o país é um "aliado tradicional e que cultua valores democráticos como o nosso", questionou o ex-ministro da Justiça.
Em sua resposta aos questionamentos, Mauro Vieira justificou que o país buscou por cautela ao elaborar o texto que foi submetido ao Conselho de Segurança e que atendesse aos interesses dos países-mebros da organização. "A resolução foi elaborada após inúmeras consultas, de forma a compor uma linguagem que pudesse ser aceita por todos os países do Conselho", respondeu.
Vieira ainda disse que "se nem mesmo a Palestina pede pela identificação do Hamas como um grupo terrorista", não faria sentido o Brasil tomar esta posição. Vale ressaltar, contudo, que os palestinos que vivem em Gaza são governados pelo Hamas que, desde que ascendeu ao poder na região, instaurou um governo autocrático e violento. Há relatos de que quem não segue as determinações, orientações ou opiniões do grupo, são mortos por ele.
Maior ênfase em repúdio aos brasileiros mortos
Moro também questionou as "fracas" notas de repúdio às mortes de brasileiros na Faixa de Gaza. Desde o início dos ataques feitos pelo Hamas, já foi confirmada a morte de três brasileiros que também tinham cidadania israelense. O senador expressou certa consternação ao dizer que, nas notas divulgadas pela pasta, sequer houve menção aos responsáveis pelas mortes.
"O Itamaraty não nominou o nome dos culpados pela morte destes três brasileiros. Tomei o cuidado de ver o que foi publicado sobre a morte de Jean Charles, que lamentavelmente foi morto após ser confundido com um terrorista em Londres, e o Itamaraty foi muito mais duro em sua posição. Agora temos brasileiros assassinados e não temos nem a identificação de um culpado", questionou Sérgio Moro.