O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciou no final da manhã desta segunda (29) sobre a vitória do ditador venezuelano Nicolás Maduro neste final de semana, mas sem se posicionar contra ou a favor. A atitude contrasta com a de países vizinhos como Argentina, Chile e Colômbia, que contestaram o resultado poucas horas depois do resultado, e mesmo de eleições em outros países, em que o Brasil costuma se pronunciar rapidamente no mesmo dia da conclusão do pleito.
"O governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração. Reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados", disse o Ministério das Relações Exteriores em nota.
O Itamaraty afirmou, ainda, que "aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito".
A expectativa por um posicionamento claro se dá principalmente por conta da relação de amizade que Lula e o PT mantém com Maduro desde o início deste terceiro mandato, inclusive recebendo-o com honras de Estado em Brasília no ano passado. O presidente brasileiro ainda foi o fiador do ditador no Acordo de Barbados, que visava garantir uma eleição livre e transparente na Venezuela – e que agora se levanta suspeitas de como foi conduzida.
A oposição venezuelana denuncia que não teve acesso a 70% das atas eleitorais, sessões foram prolongadas em áreas chavistas e relatos de intimidação em regiões opositoras foram registrados. No final do dia, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) foi acusado de interromper a transmissão dos votos em diversas zonas.
Enquanto Lula e o governo não se pronunciam oficialmente, o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou que aguardaria o posicionamento dos observadores internacionais autorizados pelo regime chavista e ressaltou que ambos os lados deveriam respeitar o resultado.
A posição do Brasil é praticamente única na região, com apenas Bolívia, Guiana e Suriname compartilhando da mesma postura de não demonstrar preocupação com a apuração demorada e as suspeitas de irregularidades. Governos de esquerda como os de Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia), e de direita como Javier Milei (Argentina), foram mais críticos em relação a Maduro.
As relações entre Brasil e Venezuela foram retomadas após a posse de Lula em 2023 sob a liderança do ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Amorim. A diplomacia brasileira trabalhou para reestabelecer relações bilaterais, argumentando que empresas brasileiras tinham dívidas de cerca de US$ 1,27 bilhão com o regime chavista.
Por outro lado, aliados históricos de Lula, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras 11 organizações sociais parabenizaram Maduro pela vitória “em meio a uma campanha fascista promovida pela extrema direita venezuelana e internacional”.
“Nós, membros de dezenas de organizações sociais, partidos e movimentos populares brasileiros, somos prova da idoneidade e lisura do processo, e viemos a público parabenizar Maduro e o povo venezuelano por sua reeleição”, pontuaram.
A vitória de Maduro foi confirmada no início da madrugada desta segunda (29) pelo CNE com 51,2% dos votos. O órgão, que é o responsável por organizar as eleições e é controlado pelo regime chavista, apontou que o opositor Edmundo González, da Plataforma Unitária Democrática (PUC), ficou em segundo lugar com 44,2%.
Com o resultado da eleição, Maduro conquistou mais uma reeleição e ficará no poder por mais seis anos.
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