O líder indígena e pastor José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Serere, divulgou uma carta nesta quinta-feira (5) em que pede perdão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O cacique está preso desde o dia 12 de dezembro por participar de manifestações contra o resultado das eleições.
"Peço, humildemente, desculpas ao povo brasileiro por eventuais declarações exageradas que fiz, ao criticar o sistema eleitoral brasileiro. Da mesma forma, peço desculpas ao Supremo Tribunal Federal; ao Tribunal Superior Eleitoral; ao presidente irmão Lula; ao irmão Alexandre; à minha família; à minha querida tribo Xavante; e aos meus amados irmãos da nossa Igreja", disse Serere.
O cacique ressaltou que apenas os advogados Jéssica Tavares, Pedro Coelho e João Pedro Mello, responsáveis por sua defesa, podem falar em nome dele. "Não defendi e não defendo ruptura democrática, nem acredito em métodos violentos, e/ou qualquer tipo de violência, como método de ação política", afirmou.
Na noite do dia 12, manifestantes depredaram e queimaram carros estacionados próximos à sede da Polícia Federal, em Brasília. Além disso, o grupo atirou pedras e paus na sede da corporação, depredaram e incendiaram ônibus. Após os atos de vandalismo, o cacique divulgou um vídeo pedindo o fim dos confrontos entre manifestantes e forças de segurança.
Depois de quase um mês preso, Serere disse que cometeu um "equívoco ao defender tese de que haveria fraude, ou mesmo risco de fraude, nas urnas eletrônicas".
"Na verdade, não há nenhum indício concreto que aponte para o risco de distorção no resultado às urnas, ou na vontade do eleitor brasileiro. Defendi a tese da suposta fraude, com base em informações erradas, que me foram fornecidas por terceiros, que, agora, olhando para trás, vejo que estavam inteiramente desvinculadas da realidade", diz em um trecho da carta.
“Pressão psicológica"
Pelas redes sociais, a carta do indígena não foi vista como uma atitude própria que tenha partido dele mesmo. Algumas pessoas disseram que ele deve ter sofrido uma “pressão psicológica” para pedir desculpas ao STF e TSE.
“Serere nunca iria falar um negócio desse ou volta atrás. É pressão psicológica em cima dele. Ele nunca vai admitir um texto desse, Serere disse que morreria se fosse preciso defendendo a nação brasileira”, disse um indígena que prefere não se identificar.
A deputada federal Sílvia Waiãpi (PL-AP) também não concordou com a carta escrita “sem qualquer coação” pelo Xavante. “Todos sabem que a direita conservadora, tradicional e pró-Bolsonaro não perdoa um traíra”, disse.
Segundo a parlamentar, a advogada Jéssica Tavares que assumiu o caso do líder indígena, e que ela diz ser do PSOL, “tem convencido a esposa de Serere, Sueli Xavante, a ser porta-voz para dizer o que ele pensa ou deixa de pensar”.
“Veja ele tinha inicialmente um advogados que era de direita e extremamente competente, mas tiraram esse advogado e colocaram essa Jéssica. Somente eles tem acesso ao Serere, e possivelmente tiveram a habilidade de convencê-lo de que todos os seus atos são contrários a democracia e que ele estava errado”, declarou a deputada.
Pelo site do STF, o processo contra o índio aparece como sigiloso, não se sabe se existem provas concretas contra ele e nem informações sobre a defesa do acusado.
No dia 15 de dezembro, a Ordem dos Advogados Conservadores do Brasil (OACB) entrou com um habeas corpus contra a prisão do líder indígena apontando a “ilegalidade e inconstitucionalidade da decisão de Moraes". O pedido foi negado no dia 17 de dezembro pelo ministro Luiz Roberto Barroso. Barroso negou a liberdade ao indígena dizendo que o pedido apresentado não foi instruído com as peças necessárias para o esclarecimento de controvérsias.
Saúde do indígena
Uma série de notícias começaram a surgir nesta semana, em relação a saúde do indígena com a possibilidade dele ter sido envenenado ou sofrido alguma tortura.
A deputada federal Sílvia Waiãpi (PL-AP) fez uma publicação no dia 03 de janeiro sobre a saúde do líder indígena. "Um guerreiro como Tserere Xavante gozando de perfeita saúde jamais teria uma PCR…a nao ser se fosse envenenado ou eliminado”, escreveu.
A Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape/DF) informou à Gazeta do Povo, que o indígena ”encontra-se em perfeitas condições de saúde”.
"O referido reeducando é diabético e está sendo acompanhado diariamente pela equipe de saúde da unidade prisional. Destaca-se que não houve nenhuma intercorrência no dia 03 de janeiro”, escreveu a Seape/DF.
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