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Eleições 2024

Caciques de partidos brigam para ampliar o poder em 2024, de olho em 2026

O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto.
O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Os principais caciques partidários do país estão mobilizados pela meta comum de fortalecer suas legendas, com foco não só nas atuais eleições municipais, mas sobretudo nas eleições gerais de 2026. A perspectiva de redução no total de partidos na Câmara e a distribuição bilionária dos fundos partidário e eleitoral pelo critério do número de deputados federais de cada legenda estimulam esse engajamento.

Eles veem as eleições municipais como preparação do terreno para as disputas nas urnas de 2026, decisivas para seus planos de longo prazo. O crescente controle do Legislativo sobre o Orçamento da União também atiça o interesse dos grandes partidos por ampliarem as suas bancadas como meio de influenciar a destinação de emendas.

Os comandos partidários das maiores bancadas na Câmara – PL (92), PT (68) União Brasil (59), PP (50), PSD (45), MDB (44) e Republicanos (44) – não querem, portanto, apenas ampliar a conquista de prefeituras e de vagas nas câmaras de vereadores, mas também aumentar o total de suas cadeiras na Câmara dos Deputados em 2026.

A crescente competição entre caciques por mais acesso a recursos públicos e influência em votações se evidenciou no duelo público entre Valdemar Costa Neto (PL) e Gilberto Kassab (PSD) nas últimas semanas.

Valdemar admitiu que o PSD pode eleger o maior número de prefeitos, com três ministérios no governo Lula e a Secretaria de Governo de São Paulo, além de governar o Paraná e o Sergipe. Mas alertou que a flexibilidade ideológica “custa caro” a Kassab, dando como exemplo a rejeição a Antônio Brito (PSD-BA) para presidir a Câmara.

O PSD passou a ter o maior número de prefeitos do Brasil, com crescimento expressivo em São Paulo, o que tem gerado desconforto em outros partidos centristas. A sigla detém 968 executivos municipais, 308 a mais do que os 660 alcançados nas eleições de 2020, segundo levantamento próprio da legenda.  Kassab rebateu as críticas, afirmando que busca a estabilidade política.

Nas últimas semanas, os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG) iniciaram uma campanha nacional de boicote aos candidatos do PSD, acusando o partido de ser o principal obstáculo no Senado ao andamento do pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Somente este ano, os partidos terão R$ 4,96 bilhões do fundo eleitoral para usar em campanhas. Nessa guerra turbinada por votos, cada cacique partidário molda as suas ações conforme as suas ambições futurais e conveniências do momento. Veja:

Valdemar Costa Neto (PL)

Experiente e articulado, Valdemar continua apostando na popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para aumentar o número de prefeituras em 2024. Um de seus principais objetivos é frear o avanço do PSD, mobilizando sua base, apesar de alianças com a sigla centrista em mais de 800 municípios. Ele também já tem planos para ampliar a presença do PL no Senado a partir de 2027, como reação ao cerco judicial enfrentado pela legenda e seus principais líderes.

Gleisi Hoffmann (PT)

O PT, sob a liderança de Gleisi, busca impedir um novo declínio no número de prefeitos e vereadores, como ocorreu em 2020. Sem candidatos fortes nas principais capitais, o partido aposta em alianças estratégicas com siglas de diferentes espectros políticos para frear o avanço da direita nas eleições municipais, ao mesmo tempo que tenta preservar sua relevância local para 2026.

Antônio Rueda (União Brasil)

A fusão entre PSL e Democratas, que deu origem ao União Brasil, gerou uma crise interna que culminou na ascensão de Rueda ao comando do partido. Um dos principais projetos é lançar o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, como candidato à presidência em 2026, buscando atrair apoio de partidos conservadores. No entanto, a legenda enfrenta divisões internas, como a influência de Davi Alcolumbre (AP), que disputará novamente a presidência do Senado em 2025.

Gilberto Kassab (PSD)

Kassab continua se destacando pela sua habilidade em acomodar diversos interesses, inclusive antagônicos, com o PSD presente tanto no governo federal quanto no governo de São Paulo. O partido tem forte influência no Senado, com 15 representantes, o que o coloca no centro de debates importantes, como o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Sua estratégia envolve manter o partido relevante para diferentes governantes, abrigando desde aliados de Bolsonaro até apoiadores de Lula.

Ciro Nogueira (PP)

Nogueira tem se esforçado para manter a aliança que apoiou Bolsonaro em 2022, composta por PL, PP e Republicanos. Apesar de resistências regionais e na disputa pelo controle das casas do Congresso, ele continua apostando no declínio de Lula e do PT, e trabalha para que os conservadores retomem o poder em 2026. Nos últimos tempos, se esforçou para criar um novo bloco dominante de partidos da Câmara.

Baleia Rossi (MDB)

O MDB de Baleia Rossi, apesar de menor do que nas décadas anteriores, ainda busca preservar sua capilaridade nacional e explorar parcerias de centro para manter sua influência. A aliança com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, é um exemplo dessa estratégia, que conta com apoio de forças diversas, como Bolsonaro, Kassab e Valdemar.

Marcos Pereira (Republicanos)

Pereira tentou chegar à presidência da Câmara por meio de uma aliança entre conservadores, com o apoio do governo Lula, mas acabou retirando sua candidatura em favor de Hugo Mota (Republicanos-PB). Para 2024, ele aposta no apoio de líderes evangélicos e na força do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como mais importante cabo eleitoral da legenda.

Para especialista, estratégias de caciques devem mudar após o resultado das urnas

Leonardo Barreto, cientista político e diretor da consultoria I3P, destaca a importância das eleições municipais para os próximos passos dos líderes partidários. Ele acredita que os objetivos atuais dos partidos irão mudar com os resultados das urnas deste ano, prevendo um avanço significativo do União Brasil. A situação do PP e dos Republicanos pode levar a novas tentativas de aproximação entre os partidos, discutindo uma fusão, embora difícil, semelhante ao bem-sucedido caso do PSL com os Democratas.

No campo da esquerda, Barreto sugere que o PT pode passar por uma renovação na liderança, com a possível substituição de Gleisi Hoffmann, impulsionada pelo grupo do ex-ministro José Dirceu, que defende a necessidade de novas lideranças e um enfoque mais pragmático. O desfecho dessas movimentações dependerá do impacto que os resultados eleitorais terão e dos recursos disponíveis para os partidos em 2026.

Ismael Almeida, cientista político e consultor parlamentar, ressalta que a intensa movimentação dos partidos em busca de melhores resultados eleitorais não deve ser interpretada como uma disputa pessoal entre seus líderes. Apesar de declarações agressivas entre alguns deles, a realidade é que, em muitos municípios, essas siglas estão atuando em conjunto.

A questão central, segundo Almeida, é a sobrevivência de cada partido, que se organiza para ampliar suas bancadas de deputados federais. Esse movimento é fundamental, pois garante tanto a sustentação financeira quanto o fortalecimento eleitoral das legendas.

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