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Eleições

Calamidade no RS acirra guerra eleitoral entre governo e oposição

Bolsonaro
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em viagem pelo interior de São Paulo (Foto: Assessoria/Partido Liberal)

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A caravana organizada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), iniciada na segunda-feira (27), para coletar doações para o Rio Grande do Sul, vítima de fortes chuvas e enchentes, é o indício mais recente de que a oposição se organiza para rivalizar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo protagonismo no socorro aos gaúchos.

Ao longo da semana, Bolsonaro e o deputado Luciano Zucco (PL-RS) visitarão os seguintes municípios de São Paulo: Rio Claro (28), Campinas (29), Jundiaí (30), São Bernardo (31) e Guarulhos (01). A movimentação do ex-mandatário ocorre após ele ficar quase duas semanas internado por conta de uma infecção na perna.

Apesar de não ter a estrutura da máquina federal, a oposição entende que não deve deixar o Palácio do Planalto ter o controle da narrativa, bem como o protagonismo das ações políticas em prol do Rio Grande do Sul. No entanto, o grupo liderado por Bolsonaro deverá adotar uma estratégia mais cautelosa, deixando a visita do ex-mandatário ao estado para outro momento.

A cautela ocorre após Lula ser alvo de críticas por “lançar” sua campanha antecipada pela reeleição em 2026. Ao visitar o estado, em 15 de maio, o petista declarou que vai viver até os 120 anos e que disputará mais dez eleições - até quando estiver andando com o auxílio de uma bengala.

"Eu vou viver até os 120 anos, eu vou demorar. Já falei para o homem lá em cima: não estou a fim de ir embora. Preciso disputar umas dez eleições, mais uns 20 anos. O Lula de bengala disputando eleição", disse o presidente na ocasião.

Segundo analistas, a politização da tragédia é algo inevitável. Com a eleição municipal se aproximando, o governo enxerga uma oportunidade para amenizar o desgaste de imagem registrado por diversas pesquisas nos últimos meses. A mais recente, publicada pela Paraná Pesquisas na última sexta-feira (24), mostrou que 49,6% desaprovam a gestão de Lula, enquanto 46,2% aprovam. Outros 4,2% não sabem ou não responderam.

O levantamento da Paraná Pesquisas ouviu pessoalmente 2.020 eleitores em 160 cidades entre os dias 27 de abril e 1º de maio. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o índice de confiabilidade é de 95%.

Para o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a movimentação do ex-presidente é resultado de seu papel político enquanto principal figura da oposição. “O Bolsonaro percebeu que não podia ficar apenas olhando. Mesmo não podendo ser candidato a presidente da República, ainda ocupa um papel muito importante como principal político de oposição do país”, disse Gomes.

Ele também afirmou que parte das medidas anunciadas pelo governo federal não encontra conexão com a população, já que são medidas fiscais relacionadas à burocracia do Rio Grande do Sul. Para Gomes, isso também pode ser aproveitado por Bolsonaro.

“Essas medidas que o governo federal anunciou, a maior parte delas, não consistem em nenhuma transferência direta de recursos, mas em arranjos, adequações, antecipações de pagamento, concessão de créditos, distensão de prazos, e coisas dessas naturezas. Então, o Bolsonaro enxerga nessas doações de alimentos condições de gerar uma publicidade positiva”, acrescentou.

Em 2022, Bolsonaro ganhou no RS e Lula levou Porto Alegre

Mas qual é a importância do Rio Grande do Sul para Lula e Bolsonaro? Em números eleitorais, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o estado é o quinto maior colégio eleitoral do país, totalizando 8.593.469 de eleitores. Nesse contexto, PL e PT possuem situações distintas.

Em 2022, Bolsonaro somou 56,35% dos votos no estado, o equivalente a 3.733.185 eleitores. Já Lula fez 43,65% dos votos válidos, 2.891.851 do total de eleitores. Por outro lado, Lula foi o candidato mais votado em Porto Alegre. Na capital, o petista recebeu quase 438 mil votos, enquanto Bolsonaro fez 380,5 mil.

O PL ficou em desvantagem no Legislativo federal e estadual em relação ao PT. Enquanto o partido de Lula fez seis deputados federais e 11 estaduais, a sigla de Bolsonaro elegeu quatro federais e cinco estaduais. Em relação às prefeituras, o PL atualmente lidera com 23 prefeitos. Já o PT possui 21 prefeituras.

Fake news e gestão federal devem pautar embate entre PT e PL

Seja na eleição municipal de 2024 ou na eleição de 2026, governo e oposição já indicam os discursos que poderão ser usados para atacar o adversário político. No caso do Palácio do Planalto, a suposta disseminação de fake news sobre a ajuda ao Rio Grande do Sul é publicizada pela gestão petista como um dos motivos para o mau desempenho do governo.

“Ainda tem muita fake news contando mentira sobre o Rio Grande do Sul, desmerecendo as pessoas que estão trabalhando”, disse Lula em entrevista ao programa Bom Dia, Presidente, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O governo chegou a pedir investigações à Polícia Federal contra a divulgação de fake news sobre as enchentes. O pedido foi feito pelo então ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, em 14 de maio. Atualmente, Pimenta está à frente da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.

Por outro lado, a oposição deve utilizar essa investigação como munição contra as ações do governo durante a gestão da calamidade no RS. Nesta terça-feira (28), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados deveria ouvir Pimenta sobre os pedidos feitos à PF. No entanto, o ministro faltou à sessão alegando compromissos no estado.

Diante da ausência de Pimenta e da resistência dos governistas em pautar uma convocação, a oposição no colegiado concordou com o adiamento do convite. O autor do pedido, deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), também aceitou o acordo. A expectativa é de que Pimenta compareça à CCJ em 11 de junho.

Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Minas Gerais, o desempenho do governo na gestão da crise do Rio Grande do Sul será explorado nos próximos pleitos. A oposição deve atacar o governo Lula da mesma forma que o PT fez durante a gestão de Bolsonaro em relação à pandemia de Covid-19.

“A dificuldade do governo federal de liderar nessa questão do Rio Grande do Sul tende a ser explorada pela oposição da mesma forma como ocorreu com a pandemia de Covid-19. Na época, a oposição acusou o governo Bolsonaro pela forma como lidou com a Covid-19. Claro que, nessa questão do Rio Grande do Sul, a situação é localizada”, disse Cerqueira.

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