Votação foi realizada durante a madrugada sem a presença de Arthur Lira. Relator manteve texto aprovado no Senado e vai à sanção de Lula.| Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que pode impactar a transparência em licitações e levar à formação de cartéis em processos de alto valor. A votação ocorreu na madrugada desta quinta (30) em um plenário esvaziado e sem a presença do presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL), que deixou a sessão por volta das 20h30.

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A presidência da sessão passou a ser tocada inicialmente pela deputada Maria do Rosário (PT-RS) e, mais tarde, por Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que conduziu a votação do projeto às 0h40, com 307 votos favoráveis, 27 contrários e 1 abstenção (veja o placar). A sessão teve uma participação de 339 dos 513 deputados.

O projeto de autoria da senadora Tereza Cristina (PP-MS) agora segue para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A proposta foi relatada na Câmara pelo deputado Elmar Nascimento (União-BA), que foi o relator da PEC fura-teto pedida por Lula durante a transição de governo, no final do ano passado. A proposta permitiu ao governo do então novo presidente eleito estourar o teto de gastos em R$ 168 bilhões para retomar políticas públicas.

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De acordo com o texto que modifica a Lei das Licitações (veja aqui), pregões a partir de R$ 1,5 milhão podem ser realizadas de forma fechada, onde as ofertas não precisam ser divulgadas até o fechamento do prazo de licitação. Segundo críticos, essa medida pode diminuir a transparência nos processos.

"Serão processadas sempre pelo modo de disputa fechado, quando se destinarem à contratação de obras ou serviços especiais de engenharia, serviços comuns de engenharia que incluam serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual, e serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos", diz o texto (veja na íntegra).

Essa medida, segundo defensores, visa evitar obras inacabadas e facilita a adesão de municípios a atas de registro de preços de outras cidades para as compras governamentais desde que precedidas por licitação.

O projeto permite, ainda, que títulos de capitalização sejam utilizados como garantia "custeado por pagamento único, com resgate pelo valor total".

Embora o projeto de lei afete a transparência dos pregões, apenas as bancadas do PSOL e da Rede orientaram pelo voto contrário, e o Novo pela obstrução. Já a federação PT-PCdoB-PV, o próprio governo e outros partidos da base, como MDB, PSD e Republicanos, que aderiu na metade deste ano, votaram sim ao projeto.

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“Este é um projeto que precisava de mais um tempo de discussão. [...] O uso de títulos de capitalização como garantia pode ser prejudicial ao erário, e o modo fechado [em obras de engenharia acima de R$ 1,5 milhão] favorece ao acordo escuso e à combinação de preços”, disse Tarcísio Motta (PSOL-RJ).

Gilson Marques (Novo-SC) foi mais duro na crítica e disse que nem mesmo o próprio presidente da sessão saberia do inteiro teor do projeto, já que o texto foi protocolado por volta das 23h30 sem dar tempo para uma melhor análise. O projeto teve um pedido de urgência aprovado na sessão, que levou às críticas do parlamentar.

“O que não dá é aprovar a urgência, criar um precedente muito perigoso, para amanhã ou depois votar outras atrocidades aqui, que talvez não seja essa, mas muito provavelmente serão as próximas”, disparou anunciando a obstrução da pauta – que foi vencida pelo voto da maioria dos parlamentares.

A votação favorável ao projeto, no entanto, dividiu a oposição. A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) criticou o andamento da sessão, afirmando que Lira havia anunciado duas vezes o fim dos trabalhos e, depois, “esvaziaram o plenário e colocaram projetos de última hora para votação, com novos relatórios que ninguém conhece”.

“Nós precisamos ter tempo para ler. Requerimento de urgência, e já pauta a urgência, porque foi de um acordo de quem tem mais poder nessa casa, não pode ser assim. Cada parlamentar tem que ser respeitado aqui dentro”, disparou.

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Por outro lado, Domingos Sávio (PL-MG) defendeu a medida como forma de impedir obras inacabadas. De acordo com ele, o relatório votado pelos deputados é exatamente o mesmo que foi aprovado pelo Senado e que estava disponível para consulta desde a semana passada.

Apesar da controvérsia, Elmar Nascimento afirmou que a medida “é condizente com a autonomia federativa municipal. Dessa forma, essa modificação imprimirá maior rapidez e eficiência nas compras e contratações por parte de entes municipais”. O texto também introduz regime simplificado de licitação em convênios.

“Isso dá justa garantia para as empresas contratadas, o que deverá ampliar a competitividade dos procedimentos licitatórios e atrair a participação de empresas sérias e comprometidas com a execução do objeto licitado”, completou Nascimento.

Logo após o encerramento da votação, Cavalcante encerrou a sessão sob protestos, sem permitir que deputados fizessem mais considerações à proposta.

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"Essa nova lei mal foi testada, então qual o motivo de se promover alterações a toque de caixa? Qual o interesse oculto? Além disso, o projeto aprovado ontem tem diversos dispositivos preocupantes e matérias estranhas ao tema licitações e contratos", completou Marques.

De acordo com ele, há dispositivos que tratam de convênios e finanças públicas que podem impactar diretamente na execução de outras normas e atrapalhar o funcionamento da administração pública. "É um tema complexo, com muitas páginas. Simplesmente não deu tempo de analisar com profundidade", ressaltou.

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