A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira (24) o requerimento de urgência para o Projeto de Lei 490/2007, que pretende tornar lei a tese sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas. Foram 324 votos a favor da urgência, 131 contra e 1 abstenção.
Com isso, o texto será analisado diretamente no plenário. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o projeto será analisado na próxima terça-feira (30) e que, anteriormente, já havia passado pelas comissões. Segundo Lira, o Parlamento precisa tratar do tema com urgência, já que existe a chance de o Supremo Tribunal Federal (STF) tratar do tema, caso não definição do Legislativo.
No mês passado, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, anunciou que a Corte vai retomar o julgamento sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas no dia 7 de junho. Parte dos parlamentares defendem que o tema deve ser definido pelo Legislativo.
Em nota, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), afirmou que o projeto "não é de cunho ideológico, mas sim de garantia constitucional ao direito de propriedade".
A deputada Célia Xakriabá (Psol-MG), acompanhada na tribuna de parlamentares do Psol, protestaram com cartazes contrários ao projeto. Ela afirmou que a votação do marco temporal é um retrocesso, invade tema já em discussão pelo Supremo e viola direitos dos povos originários, informou a Agência Câmara. “A caneta tem assassinado os nossos direitos. Não se trata de uma pauta partidária, mas humanitária”, disse a deputada.
De acordo com a tese do marco temporal, ficará garantida aos indígenas a posse da terra em que estavam na data da promulgação da Constituição Federal de 1988, seguindo o que diz o artigo 231 da Carta Magna. Em contrapartida, eles não terão direito às terras que ocuparam ou invadiram depois de 5 de outubro de 1988.
O STF havia ratificado essa interpretação em 2009, no julgamento sobre a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol. Naquela oportunidade, a Corte decidiu em favor dos indígenas e contra arrozeiros que chegaram à região nos anos 90 – depois da promulgação da Constituição. Naquele julgamento, o entendimento que prevaleceu foi o de que a data de 5 de outubro de 1988 era crucial para a definição da posse da terra.
Pressão do agro
Antes da votação, a bancada do agronegócio na Câmara pressionava pelo andamento da análise do texto. Caso isso não ocorra, o setor estima que pode ocorrer a perda de 1,5 milhão de empregos.
A Frente Parlamentar da Agropecuária afirma que o PL 490/07 garante segurança jurídica e prevê indenização aos proprietários rurais que tiveram terras demarcadas como propriedades indígenas, desde que respeitado o marco temporal - 1988, que foi definido pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento anterior.
Dados do Observatório Jurídico do Agro revelam ainda que, caso haja mudanças no marco definido pelo STF, e novas regras para demarcação de terras, o Brasil deixaria de arrecadar cerca de US$ 42 bilhões da exportação de produtos agrícolas.
Planalto
O PL do Marco Temporal é visto como uma tentativa do governo Lula de se aproximar do agro, e de se antecipar a uma eventual revisão do Supremo sobre as condicionantes estabelecidas pela Corte em 1988 para a demarcação de terras indígenas no país.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou nesta segunda-feira (22), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que é a favor do marco temporal das terras indígenas.
Além disso, segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer melhorar a relação com o agronegócio, apesar da tensão entre o setor e a gestão petista. De acordo com Fávaro, Lula "sucessivamente pede para estar próximo do agro". "(O presidente) Quer se aproximar, ele me pergunta por que não gostam dele", afirmou Fávaro.
A relação do governo e do agro tem se deteriorado com a série de invasões de propriedades produtivas pelo Movimento dos Sem Terra (MST).
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF