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Eleição na Câmara

Qual a chance de candidaturas “pequenas” quebrarem a polarização entre Baleia e Lira

André Janones (Avante-MG) lança candidatura à presidência da Câmara
André Janones (Avante-MG) lança candidatura à presidência da Câmara (Foto: Agência Câmara)

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O deputado federal General Peternelli (PSL-SP) anunciou na última semana que é candidato a presidente da Câmara. O parlamentar se junta, então, a outros oito colegas que concorrem à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ), na disputa agendada para o próximo dia 1º de fevereiro. O fato de existirem nove nomes na corrida, porém, não indica que necessariamente a eleição será parelha entre os diferentes candidatos. O registro de candidaturas com poucas chances de vitória é uma tradição na Câmara.

Parlamentares se apresentam no período eleitoral para fazer o que se chama de "marcar posição", que é aproveitar o espaço para defender bandeiras de seus partidos, ou mesmo para se credenciar para disputas futuras ou diante de seu eleitorado. O atual presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), usou dessa tática. Bolsonaro se candidatou à presidência da Câmara em quatro ocasiões, e seu melhor desempenho foi quando obteve nove votos.

O cenário, segundo parlamentares que conversaram com a Gazeta do Povo, é de uma disputa que deve ficar mesmo polarizada entre Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL). O emedebista tem a bênção de Maia, e Lira concorre com o aval de Bolsonaro e da base aliada do presidente da República.

"Pequenos" pesam no segundo turno da Câmara

"Essas candidaturas menores se apresentam para tentar levar a eleição para o segundo turno. E lá, declarar apoio a outro nome", definiu o deputado Áureo (Solidariedade-RJ). O partido do parlamentar registrou uma reviravolta recente em relação à disputa, já que inicialmente havia declarado apoio a Lira mas depois anunciou voto em Rossi.

Bacelar (Podemos-BA) também vê na lógica do sistema de dois turnos uma justificativa para a presença das candidaturas de menor favoritismo. "Em uma eleição em que pode haver segundo turno, no primeiro se vota no melhor candidato, e no segundo, no menos pior", disse.

O parlamentar ressalvou, entretanto, que vê um "crescimento rápido e seguro" da candidatura de Arthur Lira e que acha possível a disputa ser encerrada no primeiro turno. A análise é semelhante à de Marco Feliciano (Republicanos-SP): "creio que todas as candidaturas são respeitáveis e representam uma parcela dos deputados. Mas pela atual conjuntura, pela onda de adesões que a candidatura do Arthur está conseguindo, creio que a fatura seja liquidada no primeiro turno".

Para que a eleição termine em primeiro turno, é necessário que um candidato receba 257 ou mais votos. Quase todas as eleições da Câmara realizadas desde 2009 foram encerradas já no primeiro turno. A exceção foi a de 2016, a primeira vencida por Rodrigo Maia, quando o democrata precisou de um segundo turno para bater Rogério Rosso (PSD-DF). Na última disputa, em 2019, Maia recebeu 334 votos, contra 66 do adversário mais próximo, Fábio Ramalho (MDB-MG).

"Anticandidaturas" de 2021 têm diferentes perfis

Ramalho é um dos candidatos "menores" da disputa de 2021. Ele concorre sem a chancela do seu partido, que investe em Baleia Rossi, e aposta no bom trânsito que tem com os demais parlamentares. Ele foi vice-presidente da Câmara entre 2017 e 2019 e é célebre pelos jantares que oferece aos congressistas. À Gazeta do Povo, Ramalho disse que, se eleito, promete manter os banquetes e expandi-los aos 513 parlamentares.

Luiza Erundina (PSOL-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS) são candidatos que, embora estejam posicionados em campos diametralmente opostos no espectro ideológico, têm candidaturas de perfil semelhante. O discurso de ambos é o de não-identificação com os favoritos na disputa e do aproveitamento dos holofotes da campanha para divulgar as propostas de seus partidos. Os dois também têm experiência no processo: Erundina concorreu em 2016 e 2017, recebendo respectivamente 22 e 10 votos, e Van Hattem se candidatou em 2019, quando obteve 23 votos.

Capitão Augusto (PL-SP) foi o deputado que primeiro colocou seu nome na disputa atual. O parlamentar fala em concorrer à presidência da Câmara desde fevereiro do ano passado. Augusto contava como trunfo eleitoral o fato de ser o presidente da Frente Parlamentar da Segurança, conhecida também como "Bancada da Bala". A candidatura, porém, não empolgou as lideranças partidárias, e o nome do paulista é pouco citado como favorito para vencer as eleições.

Os perfis das candidaturas de André Janones (Avante-MG) e Alexandre Frota (PSDB-SP) são similares por serem, ambas, de "contestação ao sistema". Janones lançou seu nome dizendo que tem uma candidatura com apoio "do povo" e que a provável pouca votação que receberá servirá para mostrar a distância que existe entre o Congresso e a população. O deputado é um dos congressistas mais atuantes nas redes sociais e tem liderado campanhas para a prorrogação do auxílio emergencial.

Frota, por sua vez, é também candidato sem o respaldo de seu partido e definiu como primeira prioridade em caso de vitória pautar o processo de impeachment de Jair Bolsonaro. O tucano foi aliado do presidente da República, mas rompeu com o chefe do Executivo ainda em 2019.

Uma "anticandidatura" comum em eleições anteriores era a do próprio Bolsonaro. O hoje presidente da República concorreu ao comando da Câmara por quatro ocasiões: em 2017, em 2011 e nas duas disputas ocorridas em 2005.

Nunca conseguiu chegar aos dois dígitos de votos. Suas candidaturas ocorreram, sempre, à revelia de seus partidos de ocasião e eram marcadas por discursos em que o então deputado criticava a relação entre o governo federal e a Câmara.

Severino não é exemplo

A vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE) em 2005 é tida como uma das maiores surpresas da história das eleições internas da Câmara. O parlamentar triunfou após derrotar, entre outros, dois candidatos do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG). O país vivia o terceiro ano do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gozava de bom prestígio popular, e ainda não havia sido atingido pelo escândalo do mensalão.

O resultado de Severino foi surpreendente não apenas pela derrota dos petistas, mas também pelo fato de o pernambucano ser um assumido integrante do "baixo clero" da Câmara, grupo de deputados com menor influência nas disputas políticas. A vitória foi citada em entrevista recente de Capitão Augusto ao UOL: "voto secreto, 300 novos deputados, bancada renovada… Pode haver surpresas. No passado, elegeram até Severino da vida, que ninguém esperava."

A trajetória de Severino, porém, guarda pouca semelhança com a dos candidatos atuais. O vitorioso de 2005, apesar do rótulo de baixo clero, havia ocupado cargos na mesa diretora da Câmara e foi construindo sua reputação ao longo dos anos que antecederam a eleição.

Ele detinha até uma "tradição" de se apresentar como candidato e depois excluir seu nome e indicar apoio a outro postulante, para assim ser agraciado com o cargo na mesa diretora. Severino deixou a presidência – e a própria Câmara – ainda em 2005. Ele morreu no ano passado, aos 89 anos.

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