A Câmara dos Deputados pode votar nesta semana uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que amplia a idade máxima para indicação de ministros de tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ). A alteração permitirá a nomeação de magistrados com até 70 anos. Pela regra atual, só podem ser indicadas pessoas com no máximo 65 anos.
A iniciativa é de autoria do deputado federal Cacá Leão (PP-BA) e passou por um processo de tramitação raro na Casa, em especial em relação a PECs. O projeto foi protocolado por Leão em 30 de setembro do ano passado. Menos de dois meses depois, em 23 de novembro, foi aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara. E no último dia 9, recebeu novo aval em uma comissão especial dedicada a debatê-la, o que é regra na Câmara para a tramitação de PECs. A comissão havia sido instalada em 25 de novembro, somente dois dias após a vitória na CCJ, e teve apenas três reuniões antes da sessão em que aprovou a proposta.
O projeto conta com o apoio de membros da base do presidente Jair Bolsonaro (PL), do Centrão e até mesmo da oposição – uma das parlamentares que falou publicamente em defesa da iniciativa foi a deputada Joênia Wapichana (Rede-RR).
Presidente da comissão especial, o deputado Mário Negromonte Junior (PP-BA) chamou a PEC de "tema simples, prático e não há polêmicas".
E sua rápida tramitação indica que a iniciativa venceu um "braço de ferro" interno travado com outra proposição de teor contraditório, mas igualmente defendida pelos apoiadores de Bolsonaro. O projeto em questão é a PEC que tem como ambição "revogar a PEC da Bengala", aprovada pelo Congresso em 2015 e que determinou que a aposentadoria compulsória dos ministros dos tribunais superiores se dá aos 75 anos, não mais aos 70.
A "revogação" da PEC da Bengala é uma bandeira histórica de bolsonaristas. Defensores do presidente alegam que a medida limita o número de indicados por Bolsonaro para o STF. Se não houver nenhuma aposentadoria ou abertura de vagas fora do script, Bolsonaro não mais apresentará nomes para a Suprema Corte até o fim de seu mandato. A proposta é de autoria da deputada Bia Kicis (União Brasil-DF). Em janeiro de 2019, ainda antes de tomar posse, ela defendia a derrubada dos efeitos da PEC da Bengala por alegar que o STF precisaria de uma "renovação".
Tanto a "PEC da Bengala 2.0" quanto a proposta que derruba os efeitos da PEC da Bengala original foram aprovadas pela CCJ no mesmo dia. Kicis, que é presidente da CCJ, alegou que o objetivo da comissão que comanda era o de permitir a tramitação das propostas, ainda que elas emitam sinais contraditórios entre si.
Diferentemente da "PEC da Bengala 2.0", a outra proposta encontra mais resistência. A oposição vê na iniciativa um modo de privilegiar Bolsonaro nas escolhas da cúpula do Judiciário, um modo de retaliar o poder por decisões tomadas e um desvio de foco – para os parlamentares, o Brasil tem problemas de maior dimensão que deveriam receber prioridade do Legislativo.
Mas os adversários habituais a Bolsonaro não são o único foco de oposição à iniciativa. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que é aliado do chefe do Executivo, disse que não pretende dar encaminhamento à proposição que revoga a PEC da Bengala original. Ele declarou que a ideia não tem apoio para seu avanço e que, por isso, não irá sequer instalar a comissão especial para discuti-la. Sem a deliberação de uma comissão especial, o projeto fica impedido de avançar.
Para que a "PEC da Bengala 2.0" seja efetivada, precisa ser aprovada em dois turnos, nos plenários de Câmara e Senado, com duas votações em cada Casa. Em todas as votações precisa do voto favorável de ao menos três quintos dos parlamentares.
Quem ganha com a PEC da Bengala 2.0
A principal justificativa dos parlamentares que defendem a "PEC da Bengala 2.0" é o que consideram uma adequação necessária à PEC de 2015. Segundo eles, foi um equívoco ter aprovado a elevação da idade máxima para 75 anos sem ter ampliado também a idade de corte para entrada nos tribunais.
Os parlamentares alegam que a medida pode representar também benefícios no campo econômico, já que inibe a aposentadoria precoce de magistrados.
Adversários da iniciativa, porém, a enxergam como um mecanismo para conceder mais poder a Bolsonaro e também como um arranjo entre o presidente e o Centrão. Segundo o site O Antagonista, a medida permitiria a Bolsonaro posicionar em destaque nomes como o ministro João Otávio de Noronha, do STJ, que é aliado do presidente. Noronha tem hoje 65 anos e foi cotado por Bolsonaro para ingressar no STF. Por esse motivo, de acordo com o site, a proposta ganhou o apelido de "PEC Noronha".
Em agosto do ano passado, o ministro suspendeu investigações contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no episódio da "rachadinha", em que o congressista é acusado de ter se apropriado de verbas de seus funcionários quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF