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'Pitbull'

Carlos Bolsonaro critica Mourão no Twitter e abre nova crise no governo do pai

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho de Jair Bolsonaro. Foto: Sergio Lima/AFP
Filho de Jair Bolsonaro criticou palestra de Mourão nos EUA e vídeo do vice-presidente sobre crise na Venezuela. Foto: Sergio Lima/AFP (Foto: AFP)

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, abriu uma nova crise no governo ao atacar diretamente o vice-presidente Hamilton Mourão nas redes sociais, nesta terça-feira (23).

Carlos traduziu e expôs "o que parece ser", diz, um convite para uma palestra do vice-presidente nos EUA em que Mourão é chamado de "voz da razão e moderação" no governo marcado por 100 dias de "paralisia política".

"Se não visse, não acreditaria que aceitou com tais termos", diz Carlos, indicando supor que Mourão teria consentido com sua descrição no convite. A imagem do comunicado, compartilhada por Carlos, foi publicada na segunda-feira (22), por um seguidor do vereador, em resposta a outra publicação em que Carlos critica Mourão. "Traduzindo e expondo logo mais! É inacreditável", escreveu o filho do presidente ainda na segunda-feira, em resposta ao seguidor.

"Os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro foram marcados por paralisia política, em grande parte devido às crises sucessivas geradas pelo próprio círculo interno do presidente, se não por ele mesmo", lê-se na imagem compartilhada por Carlos, com versão traduzida por ele. O texto também está disponível no site da Wilson Center, que promoveu o evento.

"Em meio ao marulho político, Mourão emergiu como uma voz de razão e moderação, capaz de atuar em assuntos internos e externos. (...) O ex-general de quatro estrelas também se tornou um dos favoritos dos jornalistas brasileiros - que são frequentemente críticos à nova administração - por sua disposição de se envolver com a mídia e por suas importantes observações sobre a necessidade de o governo valorizar a diversidade de opiniões".

"Já que desta vez não se trata de curtida, vamos ver como alguns irão reclamar", escreveu Carlos, em referência ao "like" de Mourão numa publicação da jornalista Rachel Sheherazade com críticas a Bolsonaro e elogios a ele. A atitude do vice-presidente fez o deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP) protocolar um pedido de impeachment contra Mourão. 

Na segunda-feira, Carlos postou a curtida de Mourão, com a frase: "Tirem suas conclusões". A crise digital não é mais digital. Envolve publicamente o filho do presidente, visto por Bolsonaro o principal responsável por sua campanha nas redes sociais, e seu vice-presidente, pessoa de tráfego aberto com as forças militares do governo e com o mercado.

Mourão tem sido alvo de aliados de Bolsonaro. Além do filho, nesta segunda-feira, em mais uma troca de ofensas e provocações virtuais, o vice respondeu ao escritor Olavo de Carvalho, que costuma criticar os militares do governo, dizendo que o escritor que vive nos Estados Unidos deveria se dedicar àquilo que sabe fazer, de fato: a astrologia.

Olavo respondeu horas depois, dizendo que não se surpreendia com a ultradireita contrária a Bolsonaro apoiar o vice-presidente.

O episódio levou Bolsonaro a criticar, pela primeira vez, o escritor. Olavo está por trás das indicações de ministros como Ernesto Araújo, que chefia o Itamaraty.

Vídeo de Mourão sobre a Venezuela

Em um segundo ataque a Mourão, Carlos Bolsonaro usou as redes sociais para criticar uma fala de Mourão sobre a crise econômica e política vivida pela Venezuela.

Na postagem de Carlos, Mourão aparece dando uma entrevista na qual menciona o apoio dos militares venezuelanos ao presidente Nicolás Maduro e diz que a população do país vizinho "tem que estar desarmada porque senão nós iríamos para uma guerra civil na Venezuela, o que seria horrível para o hemisfério como um todo".

A fala de Mourão foi classificada por Carlos como "pérolas que mostram muito mais do que palavras ao vento, mas algo que já acontece há muito tempo", o que seria, na interpretação do vereador, uma reação de alguém que está em seu "último suspiro de vida".

Mourão fica em silêncio

Segundo a reportagem apurou com integrantes do governo, o presidente Jair Bolsonaro manteve inalterado o acesso de Carlos às suas redes sociais. Bolsonaro costuma ter primazia sobre sua conta no Twitter, mas o Facebook e o YouTube são canais em que o filho reina quase sozinho.

O episódio do vídeo em que Olavo de Carvalho critica os militares, postado no fim de semana, foi entendido pela ala militar do governo como um recado à movimentação do vice-presidente, que a família de Bolsonaro vê como interessado em derrubar o presidente.

A declaração pública de Jair Bolsonaro sobre Olavo, lida pelo porta-voz Otávio do Rêgo Barros, acalmou um pouco os ânimos. O problema é que o presidente se recusou a incluir o filho Carlos na reprimenda pública.

Mourão tem agido com cautela no episódio. Tratou de criticar Olavo, mas não Carlos, publicamente. No fim de semana, falou ao telefone sobre amenidades com o presidente e, na manhã desta terça (23), participou ao lado dele de reunião ministerial no Palácio do Planalto.

No encontro, ninguém tocou no episódio. Bolsonaro apenas pediu genericamente alinhamento de discurso entre as várias instâncias do governo, agindo mais como animador de torcida em um dia crucial para a área econômica, com a votação da admissibilidade da reforma da Previdência na Câmara.

O vice-presidente tem se movimentado como alguém em busca de protagonismo, liderando encontros com empresários, investidores e embaixadores. Foi aos EUA para um giro no qual participou do evento pelo qual foi criticado agora por Carlos, já comandou delegação negociando a crise venezuelana.

Tal visibilidade fez interlocutores frequentes de Mourão, como o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), recomendar mais discrição ao vice.

A resistência de Bolsonaro a enquadrar o filho é vista como um assunto delicado de família pelos militares. Muitos consideram que o presidente tem uma dívida com o filho que remonta à campanha eleitoral municipal do Rio em 2000.

Ali, ele lançou o então adolescente Carlos, de 17 anos, para barrar a ida de votos no sobrenome Bolsonaro para sua ex-mulher, Rogéria, que buscava a reeleição na Câmara local. Além disso, como o presidente sempre lembra, foi Carlos quem coordenou sua presença em redes sociais de forma efetiva nos anos que antecederam a campanha de 2018.

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