Seja em discursos no plenário ou em mensagens nas redes sociais, um desejo expresso por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro é que o secretário-executivo do Consórcio Nordeste, o ex-ministro petista Carlos Gabas, preste depoimento na CPI da Covid do Senado.
Hashtags como #GabasnaCPI e #OmarchamaoGabas, em referência ao presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), costumam fazer sucesso em dias de reunião do colegiado.
Aziz chegou a discutir várias vezes sobre a presença de Gabas na sessão da CPI principalmente com o senador Eduardo Girão (Podemos-CE). O parlamentar do Ceará quer que a CPI vote a convocação de Gabas. Girão voltou a cobrar a presença de Gabas nas sessões da CPI da quarta (8) e desta quinta-feira (9).
Além de Girão, outros dois senadores governistas apresentaram requerimentos para a presença de Gabas na comissão: Ciro Nogueira (PP-PI) e Marcos Rogério (DEM-RO). Após pressão dos governistas, Girão concordou em colocar o requerimento em votação na sessão desta quinta (10).
Até então, as proposições de convocação de Gabas seguiam na "gaveta virtual" da CPI, onde se encontram pedidos que passam longe de desfrutar de consenso entre os parlamentares – e que, por isso, nem sequer são submetidos a votação. Também estão nessa relação os nomes do governador paulista João Doria (PSDB) e do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, entre outros.
Em entrevista recente à Rede TV!, o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), também alinhado ao governo Bolsonaro, disse que Gabas deveria comparecer à CPI após a série de depoimentos de governadores à comissão. O colegiado aprovou a convocação de nove governadores. Mas o único governador com depoimento com data já confirmada é Wilson Lima, do Amazonas. Ele vai falar à CPI na quinta-feira (10).
Por que governistas querem Gabas na CPI
O interesse de governistas em ver Gabas na CPI se deve pela posição-chave que ele ocupa no Consórcio Nordeste – grupo de governos estaduais nordestinos que negocia a compra de equipamentos, insumos e vacinas contra a Covid-19 independentemente do governo federal.
A presença de Gabas se encaixa na estratégia dos bolsonaristas de levar a comissão a investigar supostos desvios de recursos praticados por governadores e prefeitos. Na avaliação dos parlamentares que defendem a gestão Bolsonaro, os principais problemas que o Brasil vive em decorrência da pandemia de coronavírus se explicam por episódios de corrupção nos estados e municípios, que ainda não foram devidamente apurados pela CPI.
O Consórcio Nordeste fez, no ano passado, uma compra de ventiladores clínicos que é contestada por autoridades policiais. O contrato foi orçado em R$ 48 milhões e previa a entrega de 300 ventiladores – que nunca foram efetivamente repassados à rede pública. A Polícia Civil da Bahia deflagrou a Operação Ragnarok, que levou à prisão dos donos da empresa Hempcare, que vendeu e não entregou os produtos.
No requerimento em que pede a presença de Gabas, o senador Girão diz que o episódio mostra "flagrante falta de transparência exigida na execução da despesa pública", e por isso o comparecimento do secretário-executivo seria positivo para os trabalhos da comissão. Já em sua solicitação, Marcos Rogério lembra que reportagem da revista Veja relaciona a compra dos respiradores com um esquema de corrupção que envolveria a prefeitura de Araraquara (SP), que é administrada por Edinho Silva (PT).
Em entrevista à Revista Fórum, Gabas alega que o Consórcio foi vítima da Hempcare e que eles se preocuparam em denunciar o caso às autoridades policiais, quando perceberam que a empresa seria incapaz de cumprir o contrato.
O Consórcio Nordeste foi lançado em março de 2019, pelos nove governadores dos estados que compõem a região. Todos eles fazem, em maior ou menor grau, oposição a Bolsonaro. O Nordeste foi a região em que o presidente teve seu pior desempenho eleitoral em 2018, e é também onde ele registra os maiores índices de reprovação.
Gabas foi ministro e passeava de moto com Dilma
Carlos Gabas exerce o posto de secretário-executivo do Consórcio Nordeste desde a criação da entidade. Atualmente, mora em Salvador (BA). Mas seu estado de origem é São Paulo, pelo qual foi candidato, sem sucesso, a deputado federal em 2018, concorrendo pelo PT. Na ocasião, recebeu 45.045 votos.
Ele nunca exerceu um mandato eletivo. Mas já ocupou posições de importância no governo federal. Foi ministro dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – em ambas as ocasiões, comandou a Previdência Social. Também foi ministro da Secretaria de Aviação Civil durante o segundo governo de Dilma.
Em junho de 2016, quando já não fazia parte do governo, foi alvo de busca e apreensão de uma operação da Polícia Federal, que integrava a Lava Jato. No ano seguinte, foi citado como fazendo parte do esquema Bancoop, uma cooperativa de bancários para a construção de imóveis que teve os negócios posteriormente absorvidos pela empreiteira OAS, envolvida em esquema de corrupção. Ele negou envolvimento nos casos.
Gabas ganhou notoriedade por ter sido "descoberto" como o parceiro oficial dos passeios de moto que a então presidente Dilma fazia em Brasília. Ele e a petista revelaram que saíram, em algumas ocasiões, pelas ruas da capital federal para passeios nos fins de semana.
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