O setor do agronegócio apoiou a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e, oito meses após o início da atual gestão, aprofundou a sintonia com o governo federal. "O ambiente é de um governo que, na execução de suas políticas públicas, está absolutamente de acordo com o que o agronegócio precisa", resume o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), braço formal da bancada ruralista no Congresso Nacional.
O ambiente de confiança, segundo o parlamentar, não mudou com os recentes embates envolvendo a Amazônia e lideranças internacionais. Para Moreira, a decisão de Bolsonaro de mobilizar as Forças Armadas para combater a queimada na região amazônica superaram as "palavras ofensivas" do presidente da República.
"Os conflitos que poderiam envolver esse caso foram diminuídos com a fala dele e o envio das Forças Armadas. São manifestações concretas do governo", declarou o deputado à Gazeta do Povo. "Não existe uma única resposta para o problema multifacetado que é o ataque ao meio-ambiente na Amazônia. Então nós temos que agir com governança e inteligência estratégica, e não palavras ofensivas", destacou.
Moreira comanda a FPA desde o início do ano, quando sucedeu no cargo a hoje ministra da Agricultura Tereza Cristina. A cerimônia de posse do parlamentar no cargo não ficou marcada apenas pela ascensão do emedebista ao comando da bancada ruralista, a mais expressiva do Congresso. O evento se destacou também por consolidar a grande sintonia que se instalava ali entre o parlamento e o governo federal, a maior desde a redemocratização do país. Afinal, quem passava o cargo para Moreira era a deputada que se licenciava do cargo para comandar o Ministério da Agricultura na gestão de Jair Bolsonaro. Além disso, a celebração foi prestigiada pela alta cúpula do governo federal, como Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão e o ministro da Fazenda, Paulo Guedes. Passados oito meses de gestão, o clima entre os ruralistas e o governo segue positivo - apesar de alguns arranhões, o status é de lua de mel.
A convergência entre ruralistas e Bolsonaro vem desde antes da posse do presidente. Ainda no primeiro turno da corrida presidencial, o setor fechou apoio ao então candidato pelo PSL. Mesmo com o DEM de Tereza Cristina e os partidos de diversos outros integrantes da frente fazendo parte, ao menos em termos formais, da coligação de Geraldo Alckmin (PSDB).
A vitória de candidatos conservadores em 2018 - além de Bolsonaro, uma expressiva bancada de direita foi eleita para o Congresso Nacional - é também outro componente que ajuda no momento positivo da FPA. Há, atualmente, menos deputados e senadores dispostos a encampar temas contrários aos ruralistas no parlamento. A FPA reúne 257 parlamentares no Congresso.
"É uma frente que serve de exemplo de atuação. As outras deveriam se mirar na FPA", afirmou o senador Nelsinho Trad (PSD-MS).
Mas quais são, efetivamente, os pontos positivos?
Os principais projetos do governo Bolsonaro na ótica dos ruralistas são os do campo econômico, como as propostas de reforma da previdência e da reforma tributária. A medida provisória (MP) da liberdade econômica, que buscou reduzir encargos trabalhistas e a burocracia para empreendimentos, foi também celebrada pelo setor.
"O ambiente proporcionado pelo governo Bolsonaro para o agronegócio permite que se construam políticas agrícolas que restabelecem a possibilidade de se fazer renda no campo. Ainda estamos vivendo o reflexo de um período de muito endividamento, de uma recessão de três anos, há ainda uma dificuldade fiscal enorme, mas o cenário é positivo", declarou Moreira. Para o deputado, o conjunto de propostas econômicas encampado pelo governo Bolsonaro pode levar o Brasil "a um crescimento econômico para mais de 10 anos".
Há também decisões de cunho ideológico que são celebradas pelos ruralistas. Bolsonaro, desde que exercia mandato como deputado federal, mantinha posicionamento contrário a grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e mostrava pouco interesse em temáticas como a demarcação de terras para povos indígenas e quilombolas. Como presidente, Bolsonaro declarou por diversas ocasiões que contesta a legislação para estes setores e que gostaria de ver os índios "integrados à sociedade", e não em reservas.
"Há uma grande mudança para o bem. A questão do MST, dos quilombolas e dos indígenas era um grande gargalo que nós tínhamos", afirmou o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), também integrante da FPA.
O desempenho da ministra Tereza Cristina é também celebrado pelo setor. A ministra faz parte, até o momento, do grupo de ministros "discretos" do governo Bolsonaro, que não têm se caracterizado nem por disputas ideológicas e nem por rachas políticos. Na relação estão também Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde). "A ministra vem da base, tem apoio de todos os segmentos do agro. Não vai decepcionar aqueles que a guindaram ao Ministério", declarou Nelsinho Trad.
Também existem divergências
O relacionamento positivo, entretanto, não inibe integralmente as críticas ao governo. Um dos principais ruralistas do Brasil, o ex-governador Blairo Maggi (MT), que foi ministro da Agricultura no governo de Michel Temer e esteve cotado para continuar na pasta na gestão Bolsonaro, disse em entrevista recente ao jornal Valor Econômico que a "retórica" do presidente pode levar o setor "à estaca zero".
O foco das críticas de Maggi é na relação de Bolsonaro com os outros países. Para o ex-ministro, as falas do presidente podem inibir os compradores dos produtos nacionais. Maggi mostrou preocupação principalmente em relação ao histórico acordo entre o Mercosul e a União Europeia - países europeus estiveram entre os principais focos dos ataques de Bolsonaro. Em especial a Noruega e a Alemanha, que mantinham o Fundo Amazônia. O presidente disse, em diferentes ocasiões, que os países europeus não disporiam de credibilidade para criticar o Brasil porque teriam desmatado seu território. Como uma das "provas" das violações ao ambiente por parte destes países, Bolsonaro postou um vídeo de uma caçada a baleias que teria ocorrido na Noruega. Na verdade, as imagens são das Ilhas Faroe, território ligado ao Reino da Dinamarca. Autoridades alemãs também se manifestaram e destacaram exemplos de preservação natural do país.
"É um governo que causa um processo contraditório. De um lado, se avançam agendas de interesse do setor. De outro, produz conflitos, gera tensão", disse o deputado Pedro Uczai (PT-SC), que é também membro da FPA.
Outro ponto de divergência entre Bolsonaro e a FPA - mais especificamente seu presidente - se deu em abril. Na ocasião, o Brasil discutia a possibilidade de celebrações do golpe militar de 1964, que seriam motivadas pelo fato pela chegada ao poder do primeiro presidente após a redemocratização abertamente simpático pelo regime que comandou o país daquele ano até 1985. Em 1o de abril, Alceu Moreira publicou em seu perfil no Twitter: "Não contem comigo para festejar o golpe de 64 . Sou frontalmente contrário a qualquer ditadura".
À Gazeta do Povo, o parlamentar reforçou o posicionamento: "nós não somos o partido do Bolsonaro, não temos a obrigação de sermos bolsonaristas, de concordar com tudo o que o Bolsonaro diz ou faz. Nós temos acordo em relação aos projetos que são bons para o Brasil. A minha afirmação em relação à ditadura continua a mesma: sou contrário a qualquer ditadura, seja de direita ou seja de esquerda. O Brasil precisa buscar a construção da convergência de consenso".
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