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Caso Marielle

Delegado exigiu que crime não ocorresse na Câmara para evitar PF, diz relatório

A ex-vereadora Marielle Franco foi assassinada em março de 2018 (Foto: Renan Olaz/CMRJ)

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De acordo com o relatório da Polícia Federal (PF) anexado ao inquérito que apura o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa - preso neste domingo (24) - teria sido o responsável pela determinação para que o crime não fosse cometido na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Segundo o relatório, a determinação teria como objetivo evitar o envolvimento da PF e outros órgãos federais nas investigações.

“Quando fixou a exigência de que o crime não poderia partir da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, Rivaldo já arquitetava a repulsão à atuação dos órgãos de persecução penal federais, notadamente a Polícia Federal, uma vez que perderia o pleno controle da apuração que lhe envolvia. Tanto é que, antes da veiculação de sua entrevista junto ao RJTV, periódico que vai ao ar por volta do meio-dia, às 09:19h do dia 15 de março de 2018, doze horas após o crime, a Delegacia de Homicídios da Capital vazou a informação de que as munições empregadas no delito decorriam de um lote (UZZ-18) vendido para a Polícia Federal em 2006, com o claro objetivo de repelir a atuação da força de segurança federal no caso”, diz um trecho do relatório obtido pela Gazeta do Povo.

Além de Rivaldo, a Polícia Federal (PF) prendeu, neste domingo (24), o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), e o irmão dele, Domingos Brazão, que é conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Todos acusados de serem mandantes do crime.

De acordo com o relatório, o afastamento da PF e de outros órgãos federais do caso buscava “garantir que todas as vicissitudes da investigação fossem manobradas por Rivaldo, então supervisor de todas as investigações de homicídios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e, posteriormente, alçado a Chefe de Polícia, cuja cerimônia de posse ocorrera na véspera da consecução dos homicídios ora investigados”.

Como noticiado pela Gazeta do Povo, em julgamento realizado em maio de 2020, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou um pedido de federalização das investigações do caso.

O pedido da federalização havia sido feito ainda em 2019 pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Ela alegava inércia das autoridades do Rio de Janeiro nas investigações.

A ex-vereadora Marielle Franco e o seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados no dia 14 de março de 2018.

Ainda, segundo o relatório da PF, Ronnie Lessa - apontado como autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson - disse ter encontrado dificuldades para execução do crime durante o monitoramento da ex-vereadora. Então, teria partido dele a ideia de monitorar Marielle na saída da Câmara de Vereadores.

“Entretanto, tal alternativa esbarrava na única exigência apresentada pelos irmãos Brazão, qual seja, aquela imposta por Rivaldo Barbosa, então Diretor da Divisão de Homicídios da PCERJ e garantidor da impunidade da empreitada”, afirma outro trecho do relatório da PF.

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