A prisão do ex-policial militar Fabrício Queiroz nesta quinta-feira (18) é o desfecho de uma investigação que começou com a Operação Furna da Onça, deflagrada contra deputados estaduais do Rio de Janeiro pela suspeita de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro, em novembro de 2018.
Um relatório elaborado pelo antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz, então assessor do deputado Flávio Bolsonaro e filho "01" do presidente da República. O relatório veio a público em dezembro daquele ano.
A suspeita é de que o gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) praticava um esquema de “rachadinha” com os funcionários, quando os contratados precisam devolver parte do salário recebido. Queiroz seria o operador desse esquema.
Queiroz foi preso em Atibaia, no interior de São Paulo, numa ação conjunta da Polícia Civil de São Paulo e do Ministério Público do Rio de Janeiro batizada de Operação Anjo. O ex-assessor parlamentar estava num imóvel do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef havia quase um ano. Dois aparelhos de celular e documentos do ex-PM foram apreendidos no imóvel.
A operação foi autorizada pelo juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. Há ainda um mandado de prisão também contra a mulher de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar. Além deles, a Operação Anjo mira o servidor da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Matheus Azeredo Coutinho, os ex-funcionários da casa Luiza Paes Souza e Alessandra Esteve Marins e o advogado Luis Gustavo Botto Maia.
Antes da prisão de Queiroz, o caso já havia voltado ao noticiário com a entrevista do empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro no Senado, que trouxe novas revelações à investigação do Ministério Público do Rio. De acordo com Marinho, Flávio foi informado previamente sobre a deflagração da Furna da Onça. O filho do presidente não era alvo da operação, mas teria recebido informações privilegiadas da ação policial.
Flávio negou as acusações do suplente, que classificou como invenção de “alguém desesperado e sem votos”. Marinho se aproximou da família Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018, mas, com o passar do tempo, foi se afastando do clã. Atualmente, é pré-candidato do PSDB para a prefeitura do Rio de Janeiro, com a benção de João Doria, governador de São Paulo e antagonista do presidente Jair Bolsonaro.
Entenda a seguir o caso Queiroz e saiba quais são as implicações disso para o senador Flávio Bolsonaro.
Quem é Fabrício Queiroz
O ex-policial militar Fabrício Queiroz foi assessor de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro. Ele se tornou uma figura conhecida no final de 2018, quando o Coaf identificou a movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão em suas contas, um valor considerado incompatível com a sua renda.
A suspeita é de que ele arrecadava parte desse dinheiro com um esquema de “rachadinha”, em que funcionários do gabinete do então deputado estadual devolviam parte dos salários pagos com dinheiro público. A alegação de Queiroz, na época, é de que ele obteve esse dinheiro com o lucro na venda de carros.
O ex-assessor “desapareceu” do mapa após o relatório do Coaf vir à tona. Meses depois, foi localizado morando em São Paulo, onde fazia tratamento para um câncer. Seu depoimento à Justiça segue pendente. Queiroz já estava aposentado quando trabalhou para Flávio. Ele também foi amigo de Jair Bolsonaro desde os anos de 1980.
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Qual é a investigação sobre o gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj
O gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj era investigado desde 2018 por suspeitas de “rachadinha”, assim como o de outros deputados. Flávio sempre negou todas as acusações. A investigação só começou após o alerta do Coaf sobre as movimentações financeiras suspeitas.
Mas, houve uma grande reviravolta judicial. Em julho de 2019, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, suspendeu as investigações que usaram, sem autorização da Justiça, dados detalhados do Coaf, Receita Federal e do Banco Central. Essa decisão atendia a um pedido da defesa de Flávio. O parlamentar alegava ilegalidade e perseguição política na ação.
O MP do Rio de Janeiro também apontou suposta ação de organização criminosa no gabinete de Flávio na Alerj e supostos sinais de que o hoje senador lavou o dinheiro na compra e venda de imóveis. O parlamentar alegou que o órgão tentava atingir seu pai por intermédio dessa investigação.
A investigação só foi destravada 136 dias depois da decisão de Toffoli, quando o Pleno do STF avaliou o caso e liberou a ação dos investigadores do Rio de Janeiro.
Furna da Onça teria sido atrasada para não prejudicar candidatura de Bolsonaro
De acordo com o depoimento do empresário Paulo Marinho ao MP do Rio, as informações sobre a Operação Furna da Onça foram repassadas a Flávio por um delegado da Polícia Federal, que seria simpatizante de Bolsonaro, entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2018.
Sob orientação de Flávio, três pessoas de confiança do senador – seu chefe de gabinete, Miguel Braga; seu advogado, Victor Alves; e Val Meliga, irmã de milicianos presos – teriam encontrado com o delegado na porta da Superintendência da PF no Rio. A operação ocorreu em novembro de 2018.
De acordo com o empresário, o delegado da PF teria afirmado, ainda, que a Furna da Onça não foi deflagrada durante as eleições para "não atrapalhar o resultado das eleições". "Eu sugiro que vocês tomem providências. Sou eleitor, adepto, simpatizante [da campanha de Jair Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora", teria dito o informante.
Após o episódio, Jair Bolsonaro teria pedido para que o filho demitisse Queiroz de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. A filha de Queiroz, envolvida na operação, também foi demitida, mas do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, onde estava lotada. As exonerações ocorreram entre o primeiro e o segundo turno das eleições.
Caso Queiroz causa constrangimento no governo Bolsonaro
A investigação do caso Queiroz e sua proximidade com a família Bolsonaro – houve pedido de quebra de sigilo bancário de Flávio Bolsonaro e de outras pessoas físicas e jurídicas ligadas a ele – causou mal-estar no governo. À época, Jair Bolsonaro chegou a declarar que os promotores poderiam ir “para cima” dele, mas que não iriam pegá-lo.
Entre as movimentações feitas por Fabrício Queiroz estava a emissão de cheques que somavam R$ 24 mil para a conta de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama. Na época, o presidente da República disse que esse depósito seria para quitar um empréstimo pessoal. Bolsonaro confirmou que conhecia Queiroz desde a década de 1980, mas que não teve mais contato com ele.
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