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Tucanos, democratas

Centro-direita se afasta do bolsonarismo de olho em 2022. Mas ela tem força eleitoral?

DEM de Rodrigo Maia apoiou PSDB nas últimas eleições presidenciais
DEM de Rodrigo Maia apoiou PSDB nas últimas eleições presidenciais (Foto: Alexssandro Loyola / PSDB na Câmara)

O PSDB postou na terça-feira (3) em seu perfil no Instagram um ataque ao governo de Jair Bolsonaro (PSL) por conta de cortes no orçamento do programa Minha Casa, Minha Vida. Dois dias antes, a legenda inseriu na mesma rede uma publicação em que ironizava internautas que comparavam o partido ao PT.

A postagem recebeu um comentário crítico do empresário Luciano Hang, apoiador do governo Bolsonaro, que disse ter sido “enganado” pelos tucanos. Em resposta, o perfil do PSDB disse que o partido promoveu privatizações quando presidiu a República e que no ato da venda das estatais Bolsonaro ficou “do lado do PT”.

A postura recente do partido de contestar o governo Bolsonaro reforça declarações recentes dadas pela sua principal liderança atual, o governador de São Paulo João Doria. Apesar de eleito sob o mote “bolsodoria”, o governador tem se posicionado ao lado oposto de Bolsonaro em diferentes ocasiões, como quando disse que nunca teve “alinhamento ideológico” com o presidente da República.

O movimento de afastamento da centro-direita do governo Bolsonaro não se restringe ao PSDB. O Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou notoriedade ao liderar protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e também se aproximou de Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais, tem também entrado em conflito com expoentes do bolsonarismo.

O principal líder do grupo, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), teve uma discussão pública com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) por causa da derrubada do veto presidencial a um projeto que pune a disseminação das chamadas “fake news”. O próprio DEM de Kataguiri também tem buscado se desvincular do bolsonarismo.

O que PSDB e DEM buscam é influenciar um eleitorado de centro-direita que votou em Bolsonaro na eleição de 2018 e pode estar insatisfeito com o governo. Pesquisas recentes apontam que a reprovação da gestão Bolsonaro está em elevação. A dúvida é a verdadeira força eleitoral dessa centro-direita, que fracassou na última corrida eleitoral.

Centro-direita: das eleições aos dias atuais

Nos meses que antecederam a eleição presidencial, especialmente antes da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um discurso comum entre políticos de centro era o de que a população brasileira tenderia a rejeitar os “extremos” representados por Lula e Bolsonaro, líderes nas pesquisas até o momento.

A abordagem não prosperou: a candidatura presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB) não emplacou, os tucanos viram a diminuição do número de sua bancada no Congresso e, ao mesmo tempo, o PT mostrou força ao ir ao segundo turno presidencial e ser o partido que mais elegeu deputados federais.

O insucesso em 2018, então, deveria estimular a centro-direita a buscar outro rumo? Para a deputada federal Sheridan (PSDB-RR), o foco do partido não deve estar na eleição e sim nos desafios colocados pelo governo Bolsonaro. “As eleições estão distantes. O PSDB é um partido histórico, de grandes realizações e de uma grande responsabilidade. O foco do partido deve estar no dia a dia da política, e não em uma preocupação de se consolidar em termos eleitorais”, declarou.

A deputada avalia que o mau desempenho do partido no ano passado se deu, entre outros fatores, pelo motivo de que a disputa de 2018 “foi uma eleição para tirar pessoas, não para colocar pessoas”. “O Brasil não conheceu verdadeiramente os candidatos que estavam em disputa, e isso mudou o quadro”, declarou.

Fusão criaria maior partido do Brasil, mas é pouco provável

Em meio às possibilidades de fortalecimento da centro-direita, uma especulação colocada nos últimos dias foi a da fusão entre PSDB, DEM e também o PSD. Juntos, os partidos somam 2.888.468 filiados, o que faria da futura legenda a maior do brasil, com cerca de 500 mil integrantes a mais do que o MDB, que detém o título nos dias atuais.

A possibilidade de fusão foi noticiada em diferentes veículos de imprensa e teve como motivadora duas alterações recentes na legislação eleitoral: a cláusula de barreira, que pune partidos que não alcançaram votações expressivas, e também a proibição das coligações nas eleições proporcionais. A implantação da cláusula de barreira deve, em médio prazo, levar a uma expressiva redução do número de partidos, e já motivou duas fusões: entre PCdoB e PPL e entre Patriota e PRP.

Mas a ideia tem sido negada – ao menos no atual momento – por integrantes dos partidos citados. O presidente do DEM, o prefeito ACM Neto, de Salvador (BA), negou a possibilidade. Membros dos partidos no Congresso também não veem futuro na especulação. “A única coisa que sei a respeito é a negativa dada pelo ACM Neto”, declarou o deputado Juscelino Filho (DEM-MA).

Integrante do PSD, o deputado Éder Mauro (PA) também considerou pouco provável a aliança. Ele lembrou que o partido nasceu justamente de uma dissidência do DEM, e por isso a reunião entre os grupos seria inusitada.

Quem seria o candidato da centro-direita?

Fusões à parte, o grupo da centro-direita estuda ter um nome único para a próxima disputa presidencial. O governador João Doria, que havia se apresentado como pré-candidato ainda em 2018, é o nome mais natural para liderar a aliança. Mas o DEM também pode reivindicar protagonismo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ganhou força após liderar a aprovação da reforma da Previdência. “E o partido tem também outros nomes de qualidade, como ACM Neto e o Caiado [Ronaldo, governador de Goiás]”, acrescentou Juscelino Filho.

O apresentador Luciano Huck é também citado como um possível nome da centro-direita. Mas embora ele hoje não esteja filiado a nenhum partido, sua maior aproximação é com o Cidadania – que, sob o nome PPS foi aliado histórico de PSDB e DEM, mas tem mantido atuação um pouco mais à esquerda.

Em 2018, a maior parte dos partidos de centro-direita compuseram a coligação de Geraldo Alckmin. Entretanto, o apoio de seus membros à candidatura do tucano foi pouco além dos formalismos. Ainda no primeiro turno muitos expoentes das siglas declararam apoio a Jair Bolsonaro – entre eles, a atual ministra da Agricultura, Tereza Cristina, à época líder da bancada ruralista no Congresso e deputada federal pelo DEM.

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