Sergio Moro e João Doria, durante evento em 2019| Foto: Luis Blanco
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A reunião entre o governador paulista João Doria (PSDB) e o ex-ministro Sergio Moro, ocorrida na quarta-feira (8), reforçou as especulações sobre o futuro político de ambos e a força das candidaturas de "terceira via" na eleição presidencial do ano que vem. Tanto Doria quanto Moro, que se filiou recentemente ao Podemos, são pré-candidatos à sucessão de Jair Bolsonaro.

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Oficialmente, o encontro teve como pauta a discussão da conjuntura política nacional. Doria, após a reunião, disse que seu diálogo com Moro foi "positivo para construção de uma base de centro liberal com sentimento de proteção do Brasil e dos brasileiros". O ex-juiz deu declarações na mesma linha. Pouco antes, Moro havia se encontrado com o governador gaúcho Eduardo Leite, rival de Doria nas prévias do PSDB, e com o cientista político Felipe D'Ávila (Novo), igualmente pré-candidato à Presidência.

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As especulações que se desenvolveram após o encontro entre Doria e Moro correm em torno da desistência de um deles na disputa do ano que vem, que cederia em apoio ao outro - se colocando na condição de vice, ou mesmo ficando de fora da eleição. Há ainda a possibilidade de que ambos mantenham suas candidaturas e que a reunião da quarta tenha sido o primeiro encaminhamento de um "pacto de não-agressão" que nortearia a campanha dos dois em 2022. E uma corrente vê no encontro pouco mais do que mera formalidade, do que uma conversa de cortesia entre dois nomes que, até os dias atuais, não carregam inimizade entre si.

"Afinidade é primeiro caminho para aliança", diz vice do PSDB

O deputado federal Domingos Sávio (MG), vice-presidente nacional do PSDB, avalia que o encontro entre Doria e Moro "sinaliza uma coisa muito óbvia: que existem afinidades de propósito entre eles". "E essa afinidade, no meu entendimento, é o primeiro caminho para a construção de uma aliança", acrescentou.

Segundo o parlamentar, o PSDB buscará, no ano que vem, "uma terceira via para ganhar a eleição, e não para ficar em terceiro". Neste contexto, de acordo com Sávio, "quem se fechar ao diálogo cometerá um grande erro".

O deputado chamou Moro de "homem de grande história no combate à corrupção" e disse que este aspecto o conecta ao governador. "Doria é alguém sobre quem não pesa nenhuma mancha, é muito rigoroso no trato com a coisa pública. Então são duas pessoas com grande afinidade neste sentido", reiterou.

Sávio acrescentou que o PSDB "nunca fez" gestos de agressão em relação a Moro, nem quando ele era juiz e nem quando ele integrou o governo Bolsonaro, na condição de ministro da Justiça e Segurança Pública. "As teses que ele defendia como ministro eram também defendidas pela maioria do PSDB", declarou.

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Quando era auxiliar de Bolsonaro, Moro chegou a ser homenageado por Doria. O governador concedeu ao então ministro em 2019 a Ordem do Ipiranga, principal honraria do estado de São Paulo. E à época dos seus trabalhos ligados à Operação Lava Jato, na 13ª Vara Federal de Curitiba, Moro era costumeiramente celebrado pelos membros do PSDB - especialmente nas ocasiões em que tomou decisões contrárias a integrantes do PT, partido rival histórico dos tucanos.

"Em política há muita encenação", diz figurão do Podemos

Para um membro da cúpula do Podemos, porém, o encontro entre Moro e Doria não deve trazer consequências práticas. "Isso foi apenas uma formalidade, ou uma demonstração de civilidade. Na política podemos ser adversários sem ser inimigos. Então é possível sentar à mesa para discutir problemas do país", declarou.

Mas ele pondera que existe muito "jogo de cena" e que não vê a possibilidade de Moro ou Doria abrirem mão de suas pretensões presidenciais. "As ambições são legítimas, mas muitas vezes carregam um grau elevado de obstinação, o que dificulta a renúncia a favor de outro nome", colocou.

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, disse em entrevista à revista Veja que via Moro como "um bom vice" para Doria. Já a comandante do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP), declarou também na quarta-feira (8) que Moro teria "desprendimento" para abrir mão da candidatura e apoiar um projeto com consistência para derrotar Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ressaltou que o momento atual é favorável ao ex-juiz.

Partidos fracassaram em 2018

Doria e Moro representam partidos com peso no jogo político nacional. A sigla do governador de São Paulo já venceu duas eleições presidenciais e administra também outros dois estados, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Já o Podemos, após ser refundado com o atual nome em 2017, ganhou visibilidade e detém, atualmente, uma das maiores bancadas do Senado.

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Apesar disso, os dois partidos fracassaram na corrida presidencial de 2018. O PSDB apostou no ex-governador Geraldo Alckmin, que vinha referendado por sucessivas vitórias eleitorais em São Paulo e pela maior coligação daquela disputa, o que lhe conferiu amplo tempo na propaganda partidária. Ele, porém, recebeu menos de 5% dos votos válidos, o pior desempenho do partido na história das eleições presidenciais.

O Podemos teve como candidato o senador Alvaro Dias (PR) e foi ainda pior, com menos de 1% dos votos válidos. Dias recebeu, em 2018, menos votos do que conquistou em 2014, quando se candidatou ao Senado pelo Paraná.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]