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Guerra na Europa

Ucrânia quer que Brasil intermedeie devolução de crianças sequestradas pela Rússia

Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente da Ucrânia participa de entrevista coletiva com jornalistas brasileiros. (Foto: Divulgação/Governo da Ucrânia)

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Andrii Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidou o governo brasileiro para intermediar uma negociação com a Rússia pela devolução de cerca de 20 mil crianças e adolescentes ucranianos sequestrados em território invadido por Moscou. Os jovens raptados foram enviados à Rússia e submetidos a adoções forçadas.

O convite ocorreu no início da tarde desta terça-feira (14) por meio de uma entrevista coletiva a órgãos de imprensa. Isso porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem se recusando a receber o presidente Zelensky ou representantes diplomáticos ucranianos – preferindo, no entanto, apenas manter contato com representantes russos.

No encontro em que a Gazeta do Povo estava presente, Yermak também lamentou as frustradas tentativas de ter uma relação mais próxima com Lula. O membro do governo ucraniano também deixou claro que, embora respeite as posições do governo petista, a Ucrânia deve investir em um diálogo alternativo com o Brasil.

"Nós entendemos que seja uma escolha de seu país [não apostar em um relacionamento próximo com a Ucrânia]. Agora, se não temos uma relação de alto nível que gostaríamos e que queremos, é necessário investir em uma relação alternativa, seja com o parlamento, a mídia brasileira e sociedade civil", disse Andrii Yermak.

O ucraniano contou ainda que presenciou o único encontro que Lula e Zelensky tiveram, em setembro de 2023, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. De acordo com o chefe de gabinete presidencial a uma conversa muito boa e honesta, e por isso, segundo ele, é necessário que esse diálogo seja mantido entre os dois líderes.

O porta-voz do governo ucraniano também reconheceu o engajamento da população brasileira no apoio ao país que vem se defendendo de uma invasão russa desde fevereiro de 2022. "As pessoas do Brasil não foram à Ucrânia mas sabem da nossa tragédia e estamos muito gratos por isso", afirmou Yermak.

Crianças ucranianas são submetidas a adoção forçada na Rússia

De acordo com Andrii Yermak, já chega a quase 20 mil o número de crianças e adolescentes sequestradas pelo regime de Vladimir Putin. O processo é conhecido internacionalmente como russificação de territórios. A estratégia utilizada por Moscou consiste em retirar a população ucraniana de áreas invadidas e a substituir por cidadãos russos, a fim de consolidar o processo de anexação.

As milhares de crianças raptadas por Moscou renderam uma condenação a Vladimir Putin no Tribunal Penal Internacional (TPI), que expediu um mandato de prisão contra o ditador russo. Conforme informou Yermak nesta terça-feira (14), até membros do governo russo são acusador de adotarem crianças raptadas.

O projeto Bring Kids Back (Traga as Crianças de Volta, em tradução literal), de autoria de Zelensky e que busca apoio do Brasil, tem a intenção de localizar e repatriar as crianças deportadas ilegalmente. O projeto também tem a intenção de aumentar a conscientização internacional para pressionar a Rússia a devolver crianças às suas famílias e documentar os crimes de guerra promovidos por Putin.

Durante a coletiva, o político ucraniano ainda afirmou que o processo de localização das crianças é extremamente complexo, pois suas identidades são trocadas no ato de adoção por famílias russas. O projeto de repatriação conta com o apoio de países parceiros e organizações internacionais para a identificação e resgate destes menores, que também são vítimas violência doméstica e sexual.

Convite a Putin para Brics seria péssimo recado, afirma Yermak

Ao longo de 2025, o Brasil está na presidência Brics, bloco formado de nações emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã. Ainda neste ano, o país também vai sediar a Cúpula de Líderes do bloco e a Rússia, como um dos países membros do bloco, deve ser convidada para ter seu chefe de Estado no encontro.

Para Yermak, contudo, se Lula convidar Putin para participar da reunião será um recado muito negativo para a comunidade internacional. O chefe de gabinete de Zelensky também classificou como um "erro" a falta de convite de Lula para Zelensky participar do G20, cúpula que o Brasil sediou no Rio de Janeiro no ano passado. A Ucrânia não é um membro do grupo, mas isso não pode ser usado como desculpa porque Lula convidou outras nações não participantes oficiais do bloco para comparecer ao encontro mas deixou Kyiv de fora.

Apesar das negativas que já teve do governo brasileiro, Andrii Yermak afirmou que seu país ainda está disposto a dialogar com o Brasil e outras nações, como Índia, África do Sul e a China – parceiras da Rússia nos Brics –, sobre o plano de paz para a Ucrânia. "A proposta ucraniana é totalmente baseada no Direito Internacional", justificou Yermak ao lamentar a falta de apoio de Lula ao tratado.

O Brasil, por outro lado, tem apostado em uma proposta que produziu ao lado da China e que beneficia apenas anseios russos no conflito. A proposta, além de não implicar na retirada de tropas russas do território ucraniano, propõe uma conferência internacional com a participação de Rússia e Ucrânia para buscar uma solução pacífica para o conflito.

Ou seja, a proposta apoiada pelo Brasil reconhece a anexação à força de territórios ucranianos invadidos pela Rússia. Já a proposta de paz ucraniana quer a retirada da Rússia desses territórios. Yermak ressaltou que o plano da Ucrânia é baseado na Carta das Nações Unidas e em tratados e convenções internacionais que impedem a anexação de territórios pelo uso da força. Ele disse que o atual governo do Brasil está apoiando a proposta da China apenas porque vê vantagens em ter uma boa relação com a Rússia.

Ele disse que seria uma visão irrealista no contexto atual pensar que a Ucrânia vai reaver a curto prazo todos os seus territórios invadidos, mas afirmou que o país nunca vai reconhecer a anexação deles pela Rússia.

Segundo o chefe de gabinete do governo ucraniano, se a paz for forçada com os territórios anexados, as pessoas nunca mais vão acreditar que a lei internacional vale para alguma coisa e todos os países vão se dedicar a desenvolver armamentos atômicos, provocando uma nova corrida nuclear global. "Eu acho que não é necessário descrever como isso é perigoso, não é?", afirmou.

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