A 11ª Cúpula do Brics começou nesta quarta-feira (13), em Brasília, com a participação do presidente Jair Bolsonaro e dos líderes de África do Sul, China, Índia e Rússia. A assinatura de diversos atos entre Brasil e China e o anúncio de que os dois países estudam um acordo de livre comércio foram os destaques do dia.
O início da cúpula se deu em meio a um conflito na embaixada da Venezuela em Brasília, entre apoiadores da ditadura de Nicolás Maduro e defensores do governo Juan Guaidó. A crise na Venezuela é um ponto de discordância do Brasil com os outros países do Brics.
Pela manhã, Bolsonaro teve um encontro bilateral no Itamaraty com Xi Jinping, líder chinês. A reunião, que marcou a assinatura de acordos em áreas como agricultura, economia, saúde e infraestrutura, foi seguida de um almoço oferecido pelo presidente brasileiro.
À tarde, Bolsonaro se reuniu com Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia. No encontro, que ocorreu no Palácio do Planalto, o presidente confirmou que viajará à Índia em janeiro de 2020.
A programação oficial da cúpula começou durante a cerimônia de encerramento do Fórum Empresarial do Brics, com discursos dos cinco líderes – inclusive do presidente russo Vladimir Putin, que só aterrissou em Brasília no início da tarde.
O dia fechou com uma apresentação cultural no Itamaraty e um jantar oferecido pelo presidente Jair Bolsonaro aos outros líderes.
Acordo de livre comércio com a China
No começo do dia, durante evento sobre o Novo Banco de Desenvolvimento – instituição financeira dos países do Brics –, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que os governos de Brasil e China estão cogitando estabelecer um acordo de livre comércio.
Segundo o ministro, a novidade, se concretizada, seria o próximo grande passo da política externa do governo Bolsonaro na área econômica, após o estabelecimento de um acordo entre Mercosul e União Europeia. “Estamos conversando com a China sobre a possibilidade de considerarmos um ’free trade area’ [área de livre comércio] também com a China, ao mesmo tempo em que falamos em entrar na OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]”, afirmou.
Guedes ressaltou que o total de transações comerciais entre Brasil e China está próximo dos US$ 100 bilhões anuais, e que, há duas décadas, era de cerca de US$ 2 bilhões. Isso mostra, segundo ele, a possibilidade de expandir o comércio com outros países, como a Índia, cujas trocas com o Brasil totalizaram cerca de US$ 4 bilhões em 2018.
O ministro disse que também quer aumentar ainda mais o comércio com os chineses. Disse que a China está interessada em fortalecer as relações com os brasileiros mesmo que fique ainda mais deficitária na sua balança comercial com o Brasil, e afirmou que também não se importaria em perder a posição superavitária, desde que haja cada vez mais abertura entre os dois países.
Brasil e China assinam nove atos e trocam melão por pera
Em encontro bilateral durante a manhã, Bolsonaro e Xi Jinping celebraram a assinatura de nove atos entre os dois países, em áreas como agricultura, economia, infraestrutura e saúde.
O destaque foram protocolos sanitários para exportação de frutas: o Brasil poderá exportar melão para a China, que, em troca, poderá exportar peras para o Brasil. Não se trata de um comércio sem importância: segundo o Itamaraty, a China importa US$ 7 bilhões em frutas de todo o mundo. O melão será a primeira fruta fresca importada do Brasil, e poderá abrir mercado para outras frutas.
No campo de infraestrutura, firmou-se um memorando de entendimento entre autoridades do setor de transportes e outro de cooperação no campo de usinas elétricas a gás natural.
"Queremos, mais do que ampliar, diversificar as nossas relações comerciais", afirmou Bolsonaro depois de uma reunião privada com Xi Jinping. "A China, cada vez mais, faz parte do futuro do Brasil.”
O líder chinês disse que os dois países são “bons parceiros, com amplos interesses em comum” e que a China “avalia como positivos os esforços do governo brasileiro para promover o desenvolvimento socioeconômico do país, que dão confiança sobre o futuro do Brasil e muita expectativa de fortalecer a amizade e cooperação China-Brasil”.
Os países também firmaram um tratado que permitirá que brasileiros condenados pela justiça chinesa cumpram sua pena no Brasil, e vice-versa.
Putin e Xi Jinping criticam protecionismo no mundo
A cerimônia de encerramento do Fórum Empresarial do Brics, encontro em que empresários e autoridades dos cinco países trocam impressões e estreitam parcerias, marcou o início da programação oficial da Cúpula do Brics.
Bolsonaro, Putin, Xi Jinping, Modi e Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, discursaram na cerimônia, que ocorreu no fim da tarde. Críticas à ascensão do protecionismo no mundo foram feitas pelos líderes chinês e russo.
Com frequência, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é acusado de protecionismo pelas batalhas comerciais que trava com alguns países, especialmente com a China.
Xi Jinping afirmou que “o crescente protecionismo no mundo está ameaçando o comércio internacional e os investimentos”. Putin ecoou as palavras do chinês. “Temos visto o crescimento de atitudes protecionistas, e os países do Brics têm que se esforçar para não se deixar abater por isso”, afirmou.
Para Putin, os países do Brics “têm uma contribuição importante a fazer para o crescimento mundial”. O líder russo destacou que, nos últimos anos, houve um aumento de 20% no comércio entre os Brics.
Em discurso durante a mesma cerimônia, Jair Bolsonaro destacou que as trocas comerciais do Brasil com parceiros do Brics passaram de R$ 110 bilhões em 2018. “O governo tem feito o dever de casa para tornar o Brasil cada vez mais atraente para os negócios”, afirmou o presidente.
Entre as medidas importantes para tornar o país mais atrativo, Bolsonaro citou as recentes decisões de isentar cidadãos de diversos países da necessidade de visto para entrar no Brasil. Narendra Modi, presidente da Índia, agradeceu a iniciativa do governo brasileiro de não exigir vistos para a entrada de cidadãos indianos no país.