O senador licenciado Cid Gomes (PDT), de 56 anos, foi baleado no peito com dois disparos de arma de fogo na cidade de Sobral (CE), na tarde da quarta-feira (19). O ataque ocorreu durante um protesto comandado por ele contra policiais amotinados. Cid é ex-governador do Ceará e irmão do também ex-governador e ex-candidato a presidente nas eleições de 2018 Ciro Gomes. Vídeos nas redes sociais captaram o momento dos disparos. Veja tudo que se sabe sobre o caso:
O que aconteceu
Cid Gomes participava de uma manifestação em frente do Batalhão da Polícia Militar de Sobral. Um grupo de policiais encapuzados havia ocupado o quartel e bloqueado a entrada em protesto por melhores salários, impedindo o trabalho de outros colegas de farda. Com um megafone, Cid tentou convencer os amotinados a abandonar o ato. “Vocês têm cinco minutos para pegarem seus parentes, esposa e filhos e sair daqui em paz”, disse. Logo depois, um homem encapuzado agride o parlamentar com um soco no rosto.
Diante da agressão e da recusa dos policiais, o senador pedetista tomou uma atitude intempestiva e radicalizou. Ele assumiu a direção de uma retroescavadeira e forçou o portão de metal, derrubando-o. Em seguida, o vidro do veículo foi estilhaçado, aparentemente pelos tiros que atingiram o senador.
Vídeo nas redes sociais mostrou o momento em que um homem de capacete empunhando uma arma de fogo disparou contra a retroescavadeira. Cid foi socorrido e encaminhado às pressas para a emergência do Hospital do Coração de Sobral.
Não foi bala de borracha
As primeiras informações que chegaram davam conta de que Cid Gomes baleado por disparos de bala de borracha. Mas marcas de sangue visíveis na camiseta que ele usava no momento do atentado mostravam que a situação era mais grave. A confirmação de que houve ferimento por arma de fogo veio da assessoria do senador, via Twitter.
Ainda segundo a assessoria, foram dois tiros. As balas atingiram a clavícula: uma saiu e a outra bateu na clavícula e está alojada no pulmão. Cid Gomes baleado por tiros de pistola calibre ponto 40, arma padrão das polícias militares. O comando da PM do Ceará está tratando o caso como tentativa de homicídio.
Sem risco de morte
O ex-governador foi levado consciente para o hospital. A assessoria de Cid Gomes informou que o senador foi operado e passou por estabilização no Hospital do Coração de Sobral, tendo feito ainda exames na Santa Casa de Misericórdia de Sobral.
Imediatamente após os primeiros cuidados no pronto-socorro, o ex-governador Ciro Gomes disse no Twitter que o irmão não corria risco de morte e cobrou a punição dos responsáveis. "Espero serenamente, embora cheio de revolta, que as autoridades responsáveis apresentem prontamente os marginais que tentaram este homicídio bárbaro às penas da lei", escreveu.
De acordo com o jornal O Povo, um dos dois projéteis que atingiram Cid perfurou o pulmão, mas não houve sangramento. Ele está lúcido, respira sem aparelhos e não corre risco de morrer. Nesta quinta (20), deixou a UTI do Hospital do Coração; e a expectativa é de que o senador seja transferido logo para um hospital de Fortaleza. Em vídeo nas redes sociais, o senador licenciado agradeceu ao atendimento recebidos pela equipe médica.
Policiais revoltosos
O senador Cid Gomes foi baleado em consequência da tensão entre o governo do Ceará e a categoria dos policiais, que reivindicam melhores salários. Manifestantes encapuzados invadiram pelo menos quatro batalhões da Polícia Militar, esvaziaram pneus de viaturas, bloquearam a passagem de colegas que queriam trabalhar e anunciaram toques de recolher, ordenando que comércios fechassem as portas.
Segundo o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), as ações foram feitas por homens mascarados que seriam "alguns policiais" e "mulheres que se apresentam como esposas de militares. O secretário de Segurança Pública do Ceará, André Costa, informou que três policiais militares foram presos em flagrante por estarem furando pneus de viaturas em Fortaleza, enquanto um oficial foi conduzido à delegacia em Juazeiro do Norte por estar com um capuz no bolso e armado.
Outros 261 policiais estão sendo investigados por suspeita de participação nas ações. "Temos, sim, grupos dentro da Polícia Militar que têm praticado crimes militares e atos de vandalismo. Com essas pessoas, o estado vai agir com todo o rigor que a lei prevê. Não toleraremos nenhuma dessas condutas e vão responder por motins, por revolta, insubordinação. Eles serão retirados da folha salarial da polícia militar e não receberão salário daqui em diante", disse o secretário.
O governador Camilo Santana solicitou o apoio de tropas federais para reforçar a segurança no estado, e foi atendido pelo ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro. Em Sobral, os PMs amotinados desocuparam o quartel em frente do qual Cid Gomes foi baleado. Mas a trégua durou pouco: o batalhão foi novamente fechado pelos revoltosos nesta quinta-feira (20).
O que querem os policiais cearenses
A origem do conflito no Ceará está na proposta de reestruturação salarial das polícias enviada pelo governo do estado para a Assembleia Legislativa, na última terça-feira (18). O projeto de lei prevê aumento de salário para os soldados da PM e para bombeiros de R$ 3.475 para R$ 4.500, com reajuste parcelado em três vezes até 2022. Mas os PMs amotinados querem que o pagamento seja feito em apenas uma parcela e que ainda seja apresentado um plano de carreira para a categoria.
Líder do movimento dos policiais amotinados no Ceará, o ex-deputado federal Cabo Sabino (Avante) afirmou ao portal UOL que a adesão de policiais ao movimento aumentou depois do que ocorreu em Sobral. "Os ânimos acirraram muito na própria categoria, na população, que viram ali a truculência contra os profissionais. Hoje temos uma adesão, em apenas 40 horas de movimento, de 65% da tropa, com o interior com mais de 80%", disse.
Ele ainda tentou justificar o atentado contra Cid Gomes. Segundo Sabino, foi uma reação ao ato provocativo do senador licenciado de avançar contra os amotinados com uma retroescavadeira.
Políticos lamentam episódio e pedem punição
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), divulgou nota em que disse acompanhar "com preocupação" os desdobramentos. "Entrei em contato o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e com o governador do Ceará, Camilo Santana, para obter informações e garantir a segurança do parlamentar", disse Alcolumbre, na nota.
O ministro Sergio Moro determinou o emprego da Força Nacional da Segurança Pública no Ceará e pediu o reforço de equipes da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal para o município de Sobral após o episódio de Cid Gomes baleado. Homens da Força Nacional devem ficar no estado por pelo menos 30 dias.
O líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), pediu a Alcolumbre que envie uma comissão de senadores ao Ceará para negociar com os policiais amotinados. "Conflitos com policiais, manifestações de rua, acionamento de forças federais, tudo para acabar em tragédia. Momento de negociação com muita calma e experiência. Já me coloquei à disposição para fazer parte dessa comissão", diz nota de Olimpio.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente da República, utilizou seu perfil no Twitter para criticar a atitude de Cid Gomes, que foi baleado. "Tenta invadir o batalhão com uma retroescavadeira e é alvejado com um projétil de borracha. É inacreditável que um Senador da República lance mão de uma atitude insensata como essa, expondo militares e familiares a um risco desnecessário em um momento já delicado", disse Eduardo, ignorando a informação de que o parlamentar foi atingido por tiros de verdade.
Assista ao vídeo do ataque
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