Enquanto o conflito em Israel ganha novos desdobramentos nestes últimos dias, os acenos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao grupo terrorista Hamas não são uma novidade. Quando o grupo passou a administrar a Faixa de Gaza, em 2006, o brasileiro exercia seu primeiro mandato como presidente do Brasil e, desde daquela época, fez ao menos cinco declarações que iam ao encontro da narrativa do grupo terrorista.
Em 2003, durante passagem pela Síria, o petista disse que apoiava a criação de um Estado palestino e que "a continuada ocupação de territórios palestinos, a manutenção e a expansão de assentamentos são inaceitáveis". A fala não foi bem-vista pelo governo israelense.
À época, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel concordou com a criação de um Estado para a Palestina citado por Lula, mas alegou que tinha preocupações com as intenções de paz do país. "Nossa preocupação é apenas quanto ao caráter desse Estado, se ele vai apoiar o terrorismo ou não", disse David Saranga.
Pouco depois, em 2004, o então ministro das Relações Exteriores de Lula, Celso Amorim, divulgou uma nota condenando o assassinato do xeique Ahmed Yassin, líder espiritual do Hamas. Yassin morreu após um ataque aéreo israelense enquanto saía de uma mesquita. Ele era considerado o responsável por fundar o grupo terrorista Hamas e por incitar ataques contra Israel.
O Hamas – acrônimo para Ḥarakah al-Muqawamah al-'Islamiyyah, em português Movimento de Resistência Islâmica – é um grupo de militantes islâmicos da Palestina. Criado em 1987, a organização tomou o poder da Faixa de Gaza duas décadas depois. Desde então, a organização implementou instituições autoritárias na região e organizou ataques a Israel, país que o grupo já jurou destruir.
No último sábado, o grupo atacou de forma inesperada e abrupta ao sul de Israel – o ataque foi considerado uma grande falha de segurança israelense. Em pouco menos de uma semana, mais de duas mil pessoas já morreram devido às últimas ofensivas dos terroristas do Hamas.
Ao contrário de países como os Estados Unidos, Canadá e nações europeias, o governo do presidente Lula sequer considera o Hamas um grupo terrorista. Tal situação tem gerado desconforto interno e mobilizado parlamentares e congressistas a pressionarem o governo a adotar um posicionamento mais rígido em relação aos ataques sofridos por Israel.
Essa condenação, contudo, pode não vir. Desde seus primeiros mandatos, Lula fez declarações sobre o grupo terrorista e, em algumas delas, de aceno ao Hamas, como as citadas acima. A Gazeta do Povo elencou outros exemplos em que o atual mandatário brasileiro repetiu narrativas do grupo ao longo de seus mandatos anteriores.
Lula reproduziu narrativa do Hamas sobre a morte de Saddam Hussein
Executado em 2006 por um tribunal iraquiano, o ex-ditador Saddam Hussein foi morto por enforcamento no Iraque. À época, diversos países apoiaram a ação, mas Brasil, Rússia e o Hamas foram alguns dos que se opuseram ao assassinato do líder iraquiano.
Fawzi Barhum, porta-voz do Hamas em meados de 2006, disse à AFP na época que a execução de Hussein se tratava de um "assassinato político" e que "violava todas as leis internacionais". Lula, que encerrava seu primeiro mandato como presidente do Brasil, adotou um posicionamento parecido naquele momento.
"Eu sou contra a pena de morte por convicção, não apenas religiosa, mas convicção política. Não sei se o julgamento de Saddam Hussein foi um julgamento ou uma vingança. De qualquer forma, eu acho que isso não resolve o problema do Iraque", disse o mandatário brasileiro à época.
O governo do autocrata iraquiano foi marcado pela opressão e genocídio. Relatórios mostram que aproximadamente 250 mil civis morreram durante o governo de Saddam Hussein no Iraque. Ele ficou no poder de 1979 a 2003. Seu regime ditatorial também ficou marcado pela repressão a diversos movimentos, sobretudo xiitas e curdos.
Lula defendeu Hamas em discussões sobre a paz no Oriente Médio
Em meados de março de 2010, o presidente Lula disse que o grupo terrorista Hamas deveria participar das discussões sobre a implementação da paz no Oriente Médio. O grupo é o responsável pelos ataques a Israel que ocorrem desde a semana passada e pretende exterminar o povo e a região israelense.
"A ONU [Organização das Nações Unidas] criou o Estado de Israel e ela tem que ter força para criar o Estado palestino, e para fazer com que haja a paz entre os dois. Ninguém mais, ninguém mais discute a supremacia de um sobre o outro. Ninguém mais discute porque tem que negar um para criar o outro. Todo mundo - judeus e palestinos - já sabe que precisa dos dois Estados. Agora, aquilo não é um clube de amigos", disse Lula.
"Ali, é preciso saber o seguinte: a paz só vai acontecer quando os que estão em guerra quiserem. É preciso colocar todo mundo em uma mesa de negociação: quem está conversando com o Hamas, quem está conversando com o Hezbollah, quem está conversando com a Síria, quem está conversando com o Irã? Como é que você vai construir a paz, se têm pessoas envolvidas no conflito que estão de fora? Já são considerados como bandidos e não se conversam", defendeu o petista que, à época, cumpria seu segundo mandato como presidente do Brasil.
Pouco antes disso, em janeiro, o então ministro de Relações Exteriores de Lula, Celso Amorim, havia dito que o governo brasileiro estava "disposto" a manter o diálogo com o Hamas. A declaração, mais uma vez, não foi bem recebida, nem mesmo entre as autoridades palestinas. Em uma dura resposta ao Brasil, o governo da Palestina disse que uma aproximação do país com o Hamas poderia dar a impressão de que o grupo terrorista estaria ganhando legitimidade internacional.
Brasil, o anão diplomático
Já no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o Brasil foi duramente criticado por Israel. Em meados de 2014, o governo israelita chamou o Brasil de "anão diplomático" depois que o Executivo brasileiro convocou o embaixador do país em Tel Aviv para "esclarecimentos" após novos conflitos da Faixa de Gaza.
A medida, considerada excepcional, não é muito bem-vista diplomaticamente. A convocação de Henrique Sardinha até Brasília aconteceu depois que o Ministério de Relações Exteriores considerou "inaceitável" a escalada de violência na região. A pasta queria esclarecimentos sobre o conflito em Gaza.
"Essa [convocação] é uma demonstração lamentável de porque o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua a ser um anão diplomático", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor.
À época, acontecia algo parecido com o que tem se visto na região atualmente. A Faixa de Gaza sofreu uma ação terrorista do Hamas e, em sua defesa, o exército de Israel respondeu aos ataques. Em 16 dias, quase 700 pessoas morreram em meio às ofensivas de 2014. As proporções, contudo, não são comparadas ao que acontece na região desde o último sábado.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF