Com a entrada do ex-ministro Sergio Moro (Podemos) na política e a estagnação nas pesquisas de intenção de voto, uma ala do PDT já defende que Ciro Gomes abra mão de sua candidatura ao Palácio do Planalto no ano que vem. Reservadamente, pedetistas admitem que o campo partidário para construção de alianças em torno do nome de Ciro está reduzido e o partido pode ficar isolado nas disputas regionais pelo país.
Para completar o cenário, o pré-candidato, que é ex-governador do Ceará, e dois irmãos dele foram alvos de uma operação da Polícia Federal, na quarta-feira (15), que investiga supostas irregularidades nas obras de ampliação da Arena Castelão, principal estádio cearense, para a Copa do Mundo de 2014.
Líderes pedetistas argumentam que outros partidos de esquerda como PT e PSB já estão com alianças ou sinalizações de acordo em diversos estados do Nordeste e Sudeste. Com isso, nomes do partido de Ciro Gomes acreditam que as candidaturas para os governos estaduais e para o Congresso podem ficar isoladas nestas regiões.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o pré-candidato ao governo estadual pelo PDT Rodrigo Neves já sinalizou para a construção de um palanque duplo onde, além de Ciro Gomes, ele também pretende receber o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Conversamos sobre a sólida e histórica aliança entre trabalhistas e petistas no leste fluminense e a grave crise do desemprego, da falta de renda e do aumento da pobreza e da fome no Brasil e no Rio de Janeiro. Sempre defenderei o diálogo e o respeito entre todo campo democrático para enfrentar os retrocessos sociais, econômicos, ambientais e democráticos no nosso país e no estado", disse Neves depois de um encontro com Lula no mês passado.
Além de Neves, o ex-presidente petista deve ainda ter o apoio de Marcelo Freixo, que também é pré-candidato ao governo fluminense pelo PSB. "O xadrez eleitoral mudou muito com a entrada de Lula na disputa. O Ciro desidratou e hoje tem metade das intenções de voto que ele tinha no começo deste ano. A próxima eleição vai ser um desafio para os partidos e o PDT corre o risco de ficar isolado se não quiser compor com os outros partidos da centro-esquerda", admite um deputado pedetista.
De acordo com o último levantamento Ipec, de dezembro, Ciro Gomes aparece em quarto lugar com 5% das intenções de voto no cenário em que 12 pré-candidatos são apresentados ao eleitor. Lula lidera com 48%, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (21%) e pelo ex-ministro Sergio Moro (6%).
Já no cenário em que o Ipec testou apenas cinco pré-candidaturas, Ciro Gomes repetiu os 5%, à frente apenas de João Doria (PSDB), que somou 3%. Lula também lidera neste cenário com 49%, seguido por Bolsonaro (22%) e Moro (8%).
Partido minimiza desgaste após operação da Polícia Federal
Apesar da operação da Polícia Federal contra Ciro, a cúpula do PDT não acredita que as investigações desgastem a pré-candidatura do pedetista. Além de Ciro Gomes, os agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão contra os dois irmãos do ex-governador do Ceará, o senador Cid Gomes (PDT-CE) e Lucio Gomes.
Ciro, no entanto, diz ter "absoluta certeza" que houve interferência do presidente Jair Bolsonaro na operação policial. "Não tenho nenhuma ligação com os supostos fatos apurados. Não exerci nenhum cargo público relacionados com eles. Nunca mantive nenhum tipo de contato com os delatores. O que, aliás, o próprio delator reconhece quando diz que nunca me encontrou", alegou.
Para o pedetista, a ação tem o objetivo de desgastar sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. "Não tenho dúvida de que esta ação tão tardia e despropositada tem o objetivo claro de tentar criar danos à minha pré-candidatura (...). O braço do estado policialesco de Bolsonaro, que trata opositores como inimigos a serem destruídos fisicamente, levanta-se novamente contra mim", completou.
Aliado de Ciro Gomes e entusiasta de sua candidatura à Presidência, o presidente do PDT de São Paulo, Antônio Neto, também acusou Bolsonaro de usar a PF para tentar "salvar" sua reeleição. "Em uma tentativa covarde e criminosa, a polícia política de Bolsonaro opera para tentar salvar a candidatura de seu chefe. A mesma turma que interferiu nas eleições presidenciais de 2018 começa a operar para perseguir e propagar mentiras contra adversários através de operações bizarras", disse.
Na mesma linha, o ex-presidente Lula também saiu em defesa de Ciro Gomes e dos demais envolvidos na investigação. "Quero prestar minha solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato a presidente Ciro Gomes, que tiveram suas casas invadidas sem necessidade, sem serem intimados para depor e sem levar em conta a trajetória de vida idônea dos dois. Eles merecem ser respeitados", escreveu o ex-presidente nas redes sociais.
Presidente do PDT descarta abrir mão da candidatura de Ciro Gomes
Diante da pressão de alguns diretórios estaduais para que Ciro Gomes abra mão de sua candidatura, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, afirma que a "a porta é a serventia da casa" para aqueles que estiverem descontentes. Além disso, descarta a possibilidade de o partido desistir do projeto presidencial.
"Ciro vai resistir. O PDT vai resistir. Para aqueles que pensam diferente, a porta aberta é a serventia da casa. Serve para entrar os convictos e para sair aqueles que não têm as suas convicções entrosadas com a do partido”, disse Lupi.
O deputado Pompeo de Matos (RS), vice-líder do PDT na Câmara, também minimiza as pressões dentro do partido para que Ciro Gomes deixe a corrida presidencial. Outros correligionários, no entanto, avaliam que o pré-candidato terá até março do ano que vem para tentar viabilizar sua candidatura ou então a pressão para que os diretórios estaduais sejam liberados para construir alianças com outras siglas ficará ainda maior.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
O Ipec, antigo Ibope, ouviu 2.002 eleitores entre os dias 09 e 13 de dezembro em 144 municípios. A margem de erro é de 2 pontos para mais e para menos. O nível de confiança é de 95%.
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