Líder do Centrão, antigo crítico de Jair Bolsonaro e acusado de corrupção pela Lava Jato, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) se reúne na terça-feira (26) com o presidente da República e deve ser confirmado como novo ministro da Casa Civil – o principal cargo de articulação política do Planalto com o Congresso. Ele substituirá o general Luiz Eduardo Ramos, que ocupava o cargo desde março.
Caso a nomeação seja oficializada, Ciro Nogueira terá a sua primeira experiência no Poder Executivo. O senador iniciou sua vida pública em 1995, como deputado federal, e permaneceu na Câmara até 2010, ano em que foi eleito senador. Em 2018, venceu nova eleição para o Senado e renovou o mandato até 2026. Nogueira acumula as funções eletivas com o cargo de presidente nacional do seu partido, que exerce desde 2013.
Principal líder do PP, Nogueira representa, como poucos, o espírito governista do Centrão no Congresso Nacional. O PP e o centrão apoiam Bolsonaro. E também fizeram parta da base de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Em todos os governos, integrantes do Centrão e do PP ocuparam cargos de primeira linha na estrutura federal. O atual líder de Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), foi ministro da Saúde de Temer e vice-líder de Lula e Fernando Henrique Cardoso, por exemplo.
O nomeação de Ciro Nogueira também consolida a adesão do Centrão e do PP à base do governo. Apenas o PP tem hoje a terceira maior bancada da Câmara, com 41 deputados, e a quarta maior do Senado, com sete integrantes.
Ciro Nogueira chamou Bolsonaro de "fascista" em 2017
Uma entrevista de 2017 de Ciro Nogueira viralizou nas redes sociais nos últimos dias. Na gravação, o parlamentar chama o então deputado federal Jair Bolsonaro de "fascista" e qualifica Lula como o melhor presidente que o Brasil já teve.
A variação nas opiniões políticas de Nogueira, porém, não chega a ser uma novidade. Naquele mesmo ano de 2017 ele vivia um quadro de, ao mesmo tempo, proximidade e distância em relação ao PT. Em 2016, ele não só havia votado favoravelmente ao impeachment de Dilma Rousseff, como tinha sido um dos principais líderes no Congresso a favor da queda da petista.
Presidente da Câmara na época do impeachment, Eduardo Cunha (MDB-RJ) atribui a Nogueira uma frase que sintetizou as negociações de 2016: “não se tira presidente, se coloca presidente”. Ou seja: para Nogueira, segundo Cunha, o mais importante não era articular pelo afastamento de Dilma, e sim garantir as condições para que Michel Temer exercesse o comando do país.
O apoio à queda de Dilma não afastou Nogueira, na época, do governador do Piauí, o petista Wellington Dias. A parceria entre eles se manteve até mesmo durante o segundo turno da eleição presidencial de 2018, quando Bolsonaro enfrentou e venceu Fernando Haddad (PT) – que contava, na ocasião, com o apoio do presidente do PP. O Piauí foi o estado em que Bolsonaro registrou seu pior desempenho no segundo turno de 2018, com menos de 23% dos votos válidos.
Atualmente, Ciro Nogueira e Wellington Dias estão rompidos. O afastamento entre eles não se explica apenas pela proximidade de Nogueira com o governo Bolsonaro, mas também por pretensões eleitorais do senador. Ele pretende concorrer ao governo do estado em 2022. Em abril, anunciou sua pré-candidatura ao posto. Na ocasião, chamou Bolsonaro de "presidente mais bem-intencionado que já tivemos no nosso país" e disse que Lula busca retornar à Presidência não "para tentar erradicar a miséria e a fome", mas sim "apenas para ser uma bandeira política de um partido político. Para tentar trazer esse partido de volta ao comando do país".
Proximidade com Bolsonaro se intensificou em indicação ao STF
Ciro Nogueira foi fundamental para que Bolsonaro escolhesse Kássio Nunes Marques para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em outubro do ano passado. A indicação surpreendeu a quase todos, pois Nunes Marques não aparecia entre os nomes cotados para o STF e nem preenchia um dos requisitos mencionados por Bolsonaro para o cargo, o de ser evangélico.
O senador foi o responsável por apresentar o presidente da República ao hoje ministro do STF. Bolsonaro ficou impressionado com Nunes Marques e resolveu convidá-lo. Nogueira minimizou seu impacto no processo e disse que a indicação se deveu a méritos do próprio magistrado, mas sua influência ficou evidente. Tanto Ciro Nogueira quanto Nunes Marques são do Piauí.
A proximidade com Bolsonaro fez de Nogueira um dos membros governistas na CPI da Covid do Senado. O parlamentar, porém, tem tido atuação discreta no desenrolar da comissão. Caso seja oficializado como ministro da Casa Civil, deixará o posto de titular da CPI para Luís Carlos Heinze (RS) – que, mesmo como suplente, tem tido na comissão atuação mais aguerrida que a do presidente do PP.
Futuro ministro da Casa Civil é acusado de corrupção
Além de conviver com políticos de diferentes ideologias, outro aspecto que marca a trajetória política de Ciro Nogueira são as denúncias de corrupção.
O senador foi um dos integrantes do chamado "quadrilhão do PP", grupo denunciado em 2017 pelo Ministério Público Federal (MPF) pela Operação Lava Jato. No núcleo estava também o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Eles foram acusados de comandar um esquema de corrupção na Petrobras. Em março de 2021, porém, a acusação foi arquivada pelo STF, por falta de provas.
Nogueira consta ainda como citado em três inquéritos relacionados à Lava Jato que tramitam no STF, e que ainda não tiveram a denúncia aceita ou recusada pela corte. As acusações abordam fraude em licitações e pedido de propina a donos de empreiteiras. Em abril de 2018, a casa e o gabinete de Nogueira foram alvo de operação de busca e apreensão, por parte da Polícia Federal.
O senador sempre negou as acusações.
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