Deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que construiu relações com parlamentares americanos e membros do futuro governo Donald Trump, espera investida dos EUA contra abusos de Alexandre de Moraes, do STF.| Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados
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Parlamentares de direita próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – sobretudo os seus filhos Flávio Bolsonaro, senador pelo PL-RJ, e Eduardo Bolsonaro, deputado pelo PL-SP – apostam em medidas vindas do exterior, aguardadas até o começo de 2025, para constranger ou até mesmo enfraquecer a posição do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em diversos inquéritos encadeados.

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As movimentações vindas particularmente da Argentina e dos Estados Unidos animam líderes conservadores do Brasil, que vêm buscando apoio internacional desde 2023 para criar um contraponto às decisões do STF consideradas por eles uma clara perseguição ao seu espectro político.

Entre as expectativas dos congressistas que fazem oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), destaca-se a possibilidade de uma negativa do presidente argentino Javier Milei ao pedido da Justiça brasileira para extraditar dezenas de envolvidos no 8 de Janeiro que estão asilados na Argentina. Embora a detenção tenha sido acatada por juízes do país vizinho, o clã Bolsonaro acredita que a palavra final será mesmo de Milei.

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A Justiça da Argentina emitiu este mês mandados de prisão contra 61 foragidos brasileiros condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, sendo que muitos já foram detidos no solo estrangeiro. Em outubro, Moraes solicitou a extradição do grupo, atendendo demanda da Polícia Federal (PF). O magistrado notificou o Ministério da Justiça, que encaminhou a requisição às autoridades judiciais do país vizinho.

“A expectativa que temos é que da Argentina venha mais um sinal claro para o Brasil de que lá se respeita tratados internacionais e perseguidos políticos, dando guarida a pessoas que não têm mais a quem recorrer aqui no Brasil”, disse Flávio Bolsonaro. Segundo o senador, mesmo que a defesa dos asilados sofra derrotas na Justiça argentina “com juiz de primeira instância de viés esquerdista”, a palavra final sobre a extradição caberá ao presidente da República, Javier Milei.

Deputada pede que Milei cancele prisão de asilados do Brasil na Argentina

Em suas redes sociais, a deputada Bia Kicis (PL-DF) publicou mensagem da deputada argentina Maria Celeste, que se pronunciou contra a prisão de asilados brasileiros e pede intervenção definitiva de Milei no caso. A parlamentar argentina, que já realizou audiência pública na Câmara dos Deputados de seu país sobre os condenados do 8 de Janeiro, alertou que a lei local protege refugiados que pediram asilo. “É alarmante e inconcebível que essas prisões ilegais tenham ocorrido”, protestou.

A defesa dos asilados brasileiros na Argentina deverá explorar o fato de a Interpol ter se recusado em outubro a incluir presos do 8 de janeiro em sua “lista vermelha” de procurados. A corporação policial global considerou que as acusações contra eles configuram “crimes políticos” e sua prisão poderia representar perseguição. Em maio, a Procuradoria geral da República (PGR) solicitou a inclusão de quase 70 brasileiros na lista, acusados de suposta tentativa de golpe de Estado.

Oposição aposta que Imigração dos EUA revelará armação com Felipe Martins

Em outra frente, os congressistas de direita do Brasil esperam que o Departamento de Imigração dos Estados Unidos seja pressionado a divulgar informações que, segundo eles, revelariam inconsistências e contradições relacionadas à falsa entrada de Filipe Martins, ex-assessor de Jair Bolsonaro, em território americano. O deputado e o senador filhos do ex-presidente sugerem que haveria uma suposta colaboração entre o governo de Joe Biden e o STF para fabricar um fato necessário para justificar outros atos ilegais.

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“Dos Estados Unidos está vindo uma resposta ao caso concreto da armação que fizeram com Filipe Martins, em que se fundamentou a manutenção da sua prisão como se ele quisesse fugir do país. Alguém na imigração americana, possivelmente com ligação com autoridades do STF, forjou uma prova de que ele teria tentado entrar naquele país, o que não ocorreu. Portanto, lá há um processo real para apurar em que circunstâncias isso aconteceu e que pode ter consequências no Brasil”, alertou Flávio Bolsonaro.

O senador lembra que as questões migratória e de asilo político são temas críticos nos Estados Unidos e uma prova disso foi o veto à extradição do jornalista Allan dos Santos.

Parlamentares esperam questionamentos do novo governo Trump a ações do STF

Ao comentar sobre a recente aprovação de um requerimento na Câmara dos Deputados para convidar parlamentares americanos a participar por videoconferência de audiência pública acerca da censura à plataforma X, Eduardo Bolsonaro disse esperar que um crescente um debate nos EUA sobre abusos judiciais seja conhecido pelos brasileiros e engajem novas reações. "Tivemos mais uma pequena conquista nessa gigante luta pela nossa liberdade. O mundo inteiro irá saber dos abusos cometidos por Alexandre de Moraes”, disse o parlamentar.

Outro ponto de expectativa é o avanço de ações promovidas pela futura gestão de Donald Trump na Casa Branca, que tomará posse em 20 de janeiro, bem como por congressistas americanos, em retaliação a Moraes por sua perseguição a cidadãos daquele país e contra direitos universais. Entre as possíveis sanções estão a de bloqueio de bens ns EUA e a cassação do visto para entrada naquele país.

Nesse contexto, os parlamentares brasileiros esperam o protagonismo dos hoje congressistas republicanos Marco Rubio, senador, e Maria Elvira Salazar, deputada, ambos filhos de cubanos exilados, que já criticaram publicamente o Moares por sua atuação contra aliados de Bolsonaro. Rubio irá assumir o posto de secretário de Estado, que é o equivalente ao de chanceler. Eduardo Bolsonaro tem enaltecido suas relações com esses políticos, família Trump e outros membros do futuro governo americano.

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Inelegível e suspeito de tramar golpe, Bolsonaro está em três inquéritos da PF

Declarado inelegível pela Justiça Eleitoral, o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta três indiciamentos da PF, ampliando suas dificuldades políticas e legais. No mais recente, foi acusado de encabeçar suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu vice Geraldo Alckmin (PSB), com plano de assassinar esses e Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no fim de 2022.

Em outro caso, Jair Bolsonaro é investigado por venda irregular de joias sauditas presenteadas ao governo, configurando lavagem de dinheiro e apropriação indevida. Além disso, está indiciado por fraude em registros de vacinação contra a Covid-19, com alegações de associação criminosa. Essas acusações complicam suas ambições para voltar a se candidatar a presidente nas eleições de 2026, além de poder resultar em sanções judiciais significativas.