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Medicamento

Qual é o risco de faltar cloroquina para pacientes de Covid-19 no Brasil?

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Cartelas de comprimidos contendo cloroquina e hidroxicloroquina, medicamentos que mostraram sinais de eficácia contra o coronavírus (Foto: Gerard Julien/AFP)

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Os medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina não têm a sua eficácia comprovada no tratamento da Covid-19, mas a cada dia ganham defensores dentro da classe médica. Embora controversas, as substâncias até agora são a principal esperança de cura de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Mas, diante da alta procura mundial pelo medicamento, os hospitais do Brasil têm quantidade suficiente para atender a todos os casos graves da Covid-19?

Usadas originalmente para tratar doenças como malária, artrite reumatóide e lúpus, a cloroquina e a hidroxicloroquina são medicamentos da mesma família. O governo não costuma distinguir em seus pronunciamentos oficiais uma da outra. Mas a hidroxicloroquina é um derivado menos tóxico da cloroquina.

O presidente Jair Bolsonaro é um entusiasta do medicamento, tendo tratado do tema junto ao Ministério da Saúde e a outros chefes de Estados, como em reunião recente do G-20, o grupos dos país mais ricos do planeta. O uso experimental da droga em pacientes graves de Covid-19 no Brasil está autorizado desde o dia 21 de março.

Ministério da Saúde diz que não faltará cloroquina

O Ministério da Saúde garante que haverá unidades suficientes da hidroxicloroquina para todos os potenciais casos graves da doença no Brasil. Segundo dados da pasta, o país terá 3,4 milhões de unidades disponíveis de cloroquina e hidroxicloroquina nos próximos meses.

Em pronunciamento para rádios e TVs na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que os laboratórios químico-farmacêuticos militares vão produzir 1 milhão de comprimidos de cloroquina em 12 dias. O Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx), citado por Bolsonaro, diz que “intensificou a produção do medicamento Cloroquina 150 mg, apoiado pelo Laboratório Farmacêutico da Marinha (LFM) e pelo Laboratório Químico Farmacêutico da Aeronáutica (LAQFA)”. O aumento na produção ocorre desde o dia 23 de março.

Em coletiva de imprensa também na terça, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, disse que não deverá faltar cloroquina no Brasil para o tratamento de pacientes com sintomas graves do novo coronavírus.

“Para tranquilizar a população: o Brasil tem uma quantidade de IFA (insumo farmacêutico ativo) para produzir cloroquina suficiente para atender a toda nossa demanda, exatamente porque nós produzimos cloroquina. É o país que mais produz cloroquina para usar para malária. A malária só existe, fundamentalmente, no Brasil”, afirmou Gabbardo.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cortou a fala do secretário para fazer uma ressalva: “Não podemos esquecer que vamos ter casos de malária. Não podemos esquecer que vamos ter lúpus, que vamos ter artrite reumatóide. Mas nós temos um bom excedente.” Mandetta é resistente ao uso da cloroquina em pacientes de Covid-19 antes que haja comprovação científica dos efeitos terapêuticos.

Gabbardo garantiu, contudo, que “a quantidade que nós temos para produzir cloroquina é suficiente para atender a demanda que vamos ter pela frente”.

Recentemente, o governo da Índia, que é o país com maior exportação de remédios genéricos do mundo, determinou que não vai mais exportar a cloroquina. O secretário garantiu que isso não representará um problema para o Brasil.

No final de semana, o presidente Jair Bolsonaro conversou com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e pediu o desbloqueio da exportação de insumos farmacêuticos para a produção da hidroxicloroquina. A Índia é produtora de insumos e havia paralisado a exportação. O governo brasileiro fez um apelo pedindo a liberação de ao menos 31,6 toneladas de ingredientes usados na fabricação de remédios pela indústria farmacêutica no Brasil.

Produção pela indústria farmacêutica privada também aumentou

Além de ser produzida por órgãos do governo, a cloroquina é fabricada também pelo setor privado da indústria farmacêutica nacional. A empresa brasileira que mais fabrica o produto, a Apsen, anunciou planos de triplicar a produção do medicamento por causa da crise do coronavírus.

A Apsen é responsável por 95% da hidroxicloroquina produzida no mercado farmacêutico brasileiro. A indústria não revela os dados absolutos de sua produção, mas afirma que implantou “um plano emergencial visando o aumento da produção do medicamento que será, neste primeiro momento, triplicada”.

A empresa também diz que, em caso de necessidade, poderá “aumentar ainda mais a produção do medicamento”, mas que dependerá do apoio do governo para importar a matéria-prima do produto. Parte do estoque do medicamento da Apsen será doada ao Ministério da Saúde.

Apesar disso, segundo a empresa, os pacientes que já usavam o remédio antes da crise por causa de doenças crônicas e autoimunes podem ficar tranquilos, porque há estoque suficiente para atendê-los.

Ministério alerta: cloroquina não deve ser usada sem prescrição médica

Um dos argumentos mais frequentes a favor do uso cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes graves com coronavírus, por enquanto, é o de que não custa tentar: se for ponderado o bem que a substância pode fazer e os possíveis efeitos colaterais de seu uso, a tentativa compensa.

Mas o Ministério da Saúde, mesmo depois de ter liberado o uso da hidroxicloroquina para casos graves, não tem poupado alertas sobre os riscos do uso da substância sem apoio médico, já que ela pode produzir efeitos colaterais indesejados em pacientes de coronavírus com um quadro menos grave.

Em face da alta procura pelo medicamento em farmácias depois que começaram os rumores sobre sua eficácia, membros da pasta falaram diversas vezes sobre o risco da automedicação e de que a droga se tornasse indisponível para pacientes de doenças como malária, artrite, reumatóide e lúpus.

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