O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai decidir nesta terça-feira (28) se acolhe pedidos para afastar do cargo o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro e relator dos processos da Operação Lava Jato no estado, que levaram a condenações de figurões da política nacional, como o ex-governador Sergio Cabral (MDB), solto recentemente após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
O principal pedido, que contém acusações mais abrangentes contra o magistrado, foi apresentado em 2021 pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e a tendência é que a medida seja aprovada pelos membros do CNJ.
Bretas nega todas acusações e a Associação dos Juízes Federais (Ajufe) emitiu nota sobre o caso, dizendo que entende se tratar de um movimento "orquestrado por alguns detentores de poderes político e econômico, atingidos por investigações" de corrupção.
Acusações da OAB contra Bretas envolvem delações da Lava Jato
A OAB lista uma série de suspeitas envolvendo a atuação de Bretas na condução das ações da operação, envolvendo o ex-governador Sergio Cabral e sua mulher, Adriana Anselmo; o prefeito do Rio, Eduardo Paes; o empresário Fernando Cavendish, delator da Lava Jato que chegou a ser preso pela operação; e dezenas de advogados de elite, que foram alvos, em 2021, de uma busca e apreensão determinada por Bretas.
Com base num acordo de delação premiada entre um advogado que defendia réus em processos conduzidos por Bretas, a OAB o acusa de “negociar penas, orientar advogados e combinar estratégias com o Ministério Público, em descumprimento aos deveres de imparcialidade, tratamento urbano com as partes, desrespeito às prerrogativas dos advogados”. Marcelo Bretas nega todas essas acusações.
O advogado é Nythalmar Dias Ferreira Filho, que, segundo alguns réus da Lava Jato no Rio, teriam proximidade com Bretas, agindo sob sua orientação, mas que, depois, passou a acusá-lo após ser, ele mesmo, alvo de uma busca e apreensão. Ele negociou um acordo de delação na Procuradoria-Geral da República (PGR), para denunciar supostas irregularidades de Bretas.
Nythalmar diz ter uma gravação em que conversa com Bretas e um procurador da República em 2017 para tratar da delação de Cavendish. No diálogo, o juiz teria dito que poderia aliviar a pena do empresário, sendo que a lei proíbe que o magistrado negocie o acordo. Bretas nega participação, e diz que na época ligou para o procurador a pedido do advogado, que teria se queixado por causa de uma demora na formalização da colaboração.
Com base nas acusações de Nythalmar, a OAB ainda acusa Bretas de atuar para livrar Adriana Anselmo de investigações por corrupção. O advogado diz que, em 2018, procurou o juiz “a pedido do filho de Cabral”, para poupar a ex-primeira-dama. Bretas teria acertado detalhes com um procurador e o acerto envolveria que Adriana e o filho abririam mão de bens. Sobre isso, Bretas diz que “reunião, acordo ou conversa nesse sentido jamais existiu”.
OAB cita "manobra" para constranger ministro Gilmar Mendes; Bretas nega
A OAB também acusa Bretas de divulgar depoimento de Alexandre Pinto, um ex-assessor de Eduardo Paes, para prejudicá-lo na disputa eleitoral pelo governo do Rio de Janeiro, em 2018. No depoimento, Pinto acusava o prefeito de fraudar licitações e receber propina. O juiz diz que o depoimento foi tomado em audiência pública.
Outra acusação da OAB diz que Bretas teria tentado transferir de São Paulo para sua vara, no Rio, a investigação contra Paulo Preto, ex-diretor da estatal paulista Dersa. Segundo a OAB, o objetivo seria “conseguir um elo entre o investigado e o ministro Gilmar Mendes, por razões políticas. O intuito da ‘manobra’ seria, além de constranger o ministro, a mudança de jurisdição e a escolha de um novo relator [no STF] para os casos da Lava Jato no Rio de Janeiro”. Bretas nega e diz que partiu da Justiça Federal de São Paulo a decisão de transferir o caso para o Rio.
Gilmar Mendes é o relator da Lava Jato do Rio no Supremo Tribunal Federal (STF) e já fez diversas críticas à atuação de Marcelo Bretas na condução da operação no estado.
Em 2020, a pedido da OAB, o ministro suspendeu ações penais, abertas por Bretas, contra dezenas de advogados famosos em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo, investigados por suposto desvio de ao menos R$ 151 milhões da Fecomércio.
Entre os advogados estariam Cristiano Zanin, que defende o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); Frederick Wassef, que trabalha para a família do ex-presidente Jair Bolsonaro; além de filhos de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Todos receberiam recursos da entidade para supostamente influenciar julgamentos nos tribunais superiores de Brasília.
Em agosto de 2021, a Segunda Turma do STF anulou toda a investigação, batizada de Operação E$quema S, por considerar que Bretas não tinha competência para analisar o caso, transferido para a Justiça Estadual do Rio de Janeiro.
No CNJ, a OAB também acusa Bretas de violar prerrogativas dos advogados ao autorizar busca e apreensão em seus escritórios e residências, em 2020.
A OAB pediu o afastamento de Bretas em junho de 2021, após a revista Veja publicar reportagem com as denúncias de Nythalmar. Na época, a então corregedora-nacional de Justiça, Maria Thereza de Assis Moura, que é ministra do STJ, rejeitou o pedido. Afirmou que faltavam provas robustas de todas as acusações.
Ajufe denuncia "movimento orquestrado" contra juízes que atuam em casos de corrupção
O processo agora está sob a responsabilidade do ministro do STJ Luís Felipe Salomão, hoje titular do cargo de corregedor-nacional. No ano passado, ele mesmo determinou uma correição na vara de justiça de Bretas, para averiguar as suspeitas.
Em 2021, quando a representação da OAB contra Bretas foi apresentada ao CNJ, a Associação dos Juízes Federais (Ajufe) defendeu a atuação do magistrado.
“A entidade manifesta ainda sua preocupação com as sucessivas tentativas de atacar e desqualificar o trabalho que vem sendo feito por Juízes e Juízas Federais em todo Brasil contra a corrupção. A Ajufe entende, no entanto, que esse movimento vem sendo orquestrado por alguns detentores de poderes político e econômico, atingidos por investigações. A Ajufe espera que as acusações sejam apuradas rigorosamente e que os fatos sejam esclarecidos dentro da legalidade e com total transparência. O Juiz Federal Marcelo Bretas, que é titular da 7ª vara federal do Rio de Janeiro, refuta, de forma veemente, todas as ilações e inverdades desferidas pelo advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho contra a sua reputação”, disse, em nota.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF