CPI da Braskem foi instalada no Senado pelo senador Renan Calheiros, rival político do também alagoano Arthur Lira, presidente da Câmara.| Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados
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O risco de colapso em uma mina de sal-gema da Braskem em Maceió (AL), que levou a Defesa Civil a retirar cerca de cinco mil pessoas de um bairro da cidade, pode acelerar o andamento da CPI da Braskem no Senado – e opor os dois principais políticos alagoanos que disputam poder e influência no Congresso.

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A Defesa Civil alagoana decretou emergência pelo risco e afirmou que o afundamento do solo no bairro do Mutange pode ocorrer ainda nesta sexta (1º). Se isso ocorrer, outras escavações podem ser afetadas na região.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse que está em curso na capital alagoana o “maior crime ambiental do mundo”. Maceió tem como prefeito João Henrique Caldas (PL-AL), aliado do deputado Arthur Lira (PP-AL), de um grupo político rival do senador.

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“Medo, pânico, remoções tardias e caóticas, evacuação de hospitais, restrição de circulação e previsões sombrias para o maior crime ambiental do mundo, cometido pela Braskem, cujas ações afundaram após pedirmos o socorro federal. Alguns oportunistas só queriam faturar e, agora, perderam a credibilidade e isenção. Diante do colapso, despertaram já com a porta arrombada. CPI já”, disse Calheiros nas redes sociais.

A CPI da Braskem foi criada no final de outubro para investigar, inicialmente, os danos ambientais que a petroquímica provocou em Maceió, mas que ainda não havia evoluído para a possibilidade de colapso da mina. Até então, apenas alguns afundamentos foram registrados, mas nada com a gravidade desta nova ocorrência.

A companhia iniciou o preenchimento das minas com material sólido (areia) para estabilizar o solo, mas o início do desabamento do teto da mina 18 ocorreu antes da contenção ser terminada, o que a levou a ser interrompida.

Enquanto Calheiros criticou a demora na reação de Caldas, Lira adotou um tom mais moderado e pregou uma “união” para “evitar danos maiores”.

“O prefeito JHC comunicou-me do ocorrido e das providências urgentes adotadas para evitar acidentes e vítimas. Ele segue monitorando a situação em tempo real, em colaboração com os órgãos competentes. Precisamos estar todos unidos nesse momento e buscar todos os meios para evitar danos maiores”, escreveu o presidente da Câmara dos Deputados.

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No final da manhã, o prefeito de Maceió pediu apoio ao presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), para que "ampare a população que teve que sair de suas casas. É preciso novas moradias e que a Braskem seja responsabilizada".

A situação da mina é acompanhada, entre outras autoridades, pelos ministros Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) e Renan Filho (Transportes), que é filho de Renan Calheiros e preferiu adotar um tom mais contido sobre a possibilidade de colapso. Ele afirmou que “não é hora de atribuir responsabilidade a quem não deve”, e pediu que a Braskem seja responsabilizada civil e criminalmente.

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O coordenador-geral da Defesa Civil de Alagoas, Moisés Melo, afirmou que ainda não é possível prever qual será a intensidade do colapso da mina, mas que “é certo que grande parte da cidade irá sentir”.

“Se houver uma ruptura nessa região podemos ter vários serviços afetados, a exemplo do abastecimento de água de parte da cidade e também o fornecimento de energia e de gás. Com certeza, toda a capital irá sentir os tremores se acontecer essa ruptura dessas cavernas em cadeia”, afirmou.

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"Há previsão de formação de crateras em bairros centrais a qualquer momento", disse o governo alagoano em um fato relevante enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU), Procuradoria-Geral da República (PGR), Presidência da República, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL), Petrobras e o fundo árabe ADNOC.

O fundo árabe negocia com a Braskem a compra de parte da empresa, o que é contestado pelo governo alagoado que pede que a venda seja concretizada apenas após a compensação ambiental total pelos danos causados por conta da escavação das minas.

A Braskem informou que movimentações atípicas foram registradas em um local próximo ao Mutange, levando à paralisação preventiva das atividades de preenchimento de poços. A empresa diz qye acompanha os dados de monitoramento em tempo real e coopera com as autoridades competentes.

As minas da Braskem, criadas pela extração de sal-gema, estavam sendo fechadas desde 2019 após afundamentos do solo e tremores. O caso veio à tona em 2018 quando um tremor de terra afetou bairros em Maceió.

Rachaduras, afundamentos e crateras surgiram, levando à interdição de áreas. A Braskem concordou com uma indenização de R$ 1,7 bilhão à prefeitura em julho de 2021.

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