Os três comandantes das Forças Armadas decidiram entregar seus cargos e serão substituídos. É o que informou nesta terça-feira (30) o próprio Ministério da Defesa, em nota oficial divulgada à imprensa. A entrega dos cargos de forma conjunta entre os três comandantes é inédita.
Os comandantes do Exército, general Edson Leal Pujol; da Marinha, almirante Ilques Barbosa Júnior; e da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Bermudez, decidiram deixar os postos após a troca do ministro da Defesa em meio à reforma ministerial promovida pelo presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira (29). O general Fernando Azevedo e Silva deixou a Defesa e quem assumiu a pasta foi o também general Braga Netto – que até então era ministro da Casa Civil.
Quem serão os novos comandantes das Forças Armadas
Os substitutos dos antigos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica ainda não foram divulgados. De acordo com o site O Antagonista, os favoritos são o general José Luiz Freitas (para o comando do Exército), o almirante Leonardo Puntel (Marinha) e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior (Aeronáutica). Os nomes ainda serão submetidos a Braga Netto.
Dentro das Forças Armadas, a expectativa é que que seja mantido o critério de hierarquia e antiguidade nas nomeações. Ou seja, que os comandantes sejam militares "quatro estrelas", com mais tempo na carreira em cada uma das Forças Armadas. No Exército, na Marinha e na Aeronáutica, a tradição da escolha dos comandantes prevalece sobre aqueles com mais tempo no topo da carreira.
Bolsonaro queria demitir comandante do Exército
As trocas nas Forças Armadas são reflexo de desavenças entre Azevedo e Silva e Bolsonaro, que já havia manifestado a intenção de substituir Pujol no Exército. Em nota de despedida o ex-ministro da Defesa disse que, no período em que exerceu o cargo, preservou as "Forças Armadas como instituições de Estado".
A postura institucional, de não misturar o Exército com o governo, teria desagradado Bolsonaro em outras ocasiões. Foi o caso quando o presidente pediu, nos bastidores, manifestações do então ministro em apoio a posições do governo, o que caracterizariam o envolvimento direto das Forças Armadas com a política de governo.
Pujol, por sua vez, entrou em rota de colisão com Bolsonaro em diversas oportunidades nos últimos meses. Durante visita ao Comando Militar do Sul (CMS), em Porto Alegre, o presidente estendeu a mão, mas recebeu cotovelos – seguindo a recomendação médica para cumprimentos, a fim de evitar a contaminação pela Covid-19.
Outro atrito entre o ex-comandante do Exército e Bolsonaro ocorreu durante o episódio em que o presidente falou sobre o uso de "pólvora" quando "acaba a saliva". Era uma referência de Bolsonaro a um possível abandono do Brasil à diplomacia para recorrer à guerra se os EUA do hoje presidente Joe Biden decidissem intervir na Amazônia. À época, Pujol disse, em referência à declaração de Bolsonaro, que a estrutura militar do Brasil não era condizente com o tamanho do país.
Houve então reação de Bolsonaro. O presidente cobrou de Azevedo e Silva uma postura por entender que o comandante do Exército falou em nome de todos os militares. E que o único representante político e institucional de todas as forças seria o próprio ministro da Defesa.
Pujol também provocou insatisfação de Bolsonaro quando chamou o esforço contra a Covid-19 de "maior missão de sua geração" em um vídeo publicado na conta oficial do Exército no Twitter. A publicação ocorreu em um momento em que Bolsonaro minimizava o problema representando pela pandemia.
Em outra ocasião, o general Pujol também chegou a afirmar que os militares tinham que ficar fora da política. "Não queremos fazer parte da política governamental ou política do Congresso Nacional e muito menos queremos que a política entre no nosso quartel, dentro dos nossos quartéis. O fato de, eventualmente, militares serem chamados a assumir cargos no governo, é decisão exclusiva da administração do Executivo", disse Pujol. A declaração foi entendida como um recado para Bolsonaro não tentar politizar os quartéis.
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