Presidente Luiz Inácio Lula da Silva| Foto: EFE/Andre Borges
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Uma comitiva composta por quase 250 pessoas e liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca na próxima semana na China. Isso ocorre em meio à ampliação dos esforços do líder chinês, Xi Jinping, para criar um bloco ideológico de países unidos por um sentimento antiocidente.

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Nesta terça-feira (21), Xi Jinping se reuniu em Moscou com o presidente russo Vladimir Putin, que está isolado internacionalmente após determinar a invasão da Ucrânia no ano passado. Ele é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (órgão ligado à ONU) por participação em crimes de guerra. Mesmo assim, Putin ainda foi convidado por Jinping a retribuir a visita e viajar à China em breve.

Essa foi a mais importante ação diplomática entre as duas nações desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022. A visita de Jinping mostrou a disposição de Pequim e de Moscou para reforçar sua parceria. Essa união pode ser a base de uma frente de países unidos ideologicamente pelo ressentimento contra os Estados Unidos e seus aliados europeus, segundo analistas ocidentais.

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China e Rússia dizem estar sendo pressionadas por forças militares do Ocidente. A Otan (aliança militar ocidental) estaria cada vez mais exercendo influência sobre países e mares que Pequim e Moscou consideram suas áreas de influência, especialmente no sudeste asiático e no leste europeu. Mas, um documento conjunto foi divulgado afirmando que a parceria não é uma aliança político-militar.

No início do mês, Jinping havia negociado a retomada do diálogo entre outras duas ditaduras: Irã e Arábia Saudita. Segundo analistas, o presidente chinês trabalha para atrair os dois países para o bloco formado por governos autoritários, que também conta com a Coreia do Norte, que é aliada da China. Outro país que vem sendo cortejado é a África do Sul, embora seja uma democracia.

A comitiva de Lula chegará à China cinco dias após a visita de Jinping a Putin. Portanto, é nesse contexto de consolidação de um cenário que analistas vêm chamando de "Guerra Fria 2.0" que o Brasil vai a Pequim. O argumento brasileiro é negociar acordos comerciais e atrair investimentos, mas não está claro se Xi Jinping tentará trazer Lula para próximo de seu grupo ideológico.

Comitiva de Lula minimiza rivalidade da China com países do Ocidente 

Desde que voltou ao poder neste ano, o presidente Lula tenta retomar a política externa de seus primeiros governos. Ela era focada em tornar o Brasil um país mais relevante no cenário internacional.

Na época, Lula costurou a participação do país na missão de paz da ONU no Haiti. O objetivo de conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU nunca se concretizou, mas o Haiti recebeu ajuda importante de militares brasileiros durante 13 anos consecutivos.

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Lula também tentou mediar um fracassado acordo para tentar impedir que o Irã desenvolva armas nucleares, financiou a reforma do Porto de Mariel, em Cuba, e tentou aumentar a presença de empresas brasileiras na África, entre outras ações internacionais.

Neste ano, o presidente já visitou os Estados Unidos, a Argentina e o Uruguai. Mas, a relevância dos resultados práticos dessas viagens é questionada por críticos. Isso porque nenhum acordo de grande envergadura foi firmado.

A comitiva do Palácio do Planalto vê agora a viagem para a China como estratégica para o Brasil e minimiza o fato do governo anfitrião ser uma autocracia comunista.

Lula desembarca em Pequim no próximo dia 26 à frente de 240 pessoas. Entre elas estão 90 representantes do agronegócio, 24 deputados e seis senadores, além de governadores e ministros.

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Balança comercial brasileira depende de comércio com a China

A avaliação do governo brasileiro é de que seria preciso estreitar as relações com o gigante asiático, principal parceiro comercial do país desde 2009. Em 2022, o Brasil registrou um superávit no comércio com a China de cerca de US$ 30 bilhões (R$ 157 bilhões), principalmente por causa da exportação de produtos como soja, carne e minérios.

No ano passado, o superávit total da balança comercial brasileira foi de aproximadamente US$ 60 bilhões (R$ 314 bilhões). Ou seja, a grosso modo, o comércio com a China foi responsável pela metade desse resultado positivo.

Agora, a expectativa do governo brasileiro é de que pelo menos 20 acordos devem ser celebrados nas áreas de agronegócio, ciência e tecnologia, comércio, educação e cultura.

Além disso, o governo petista acredita que a aproximação com Pequim pode pressionar o governo dos Estados Unidos a oferecer ao Brasil novas parcerias de investimento, comércio e cooperação.

Isso porque, tradicionalmente, a política externa do Itamaraty adota uma postura de não alinhamento com nenhuma potência. Por isso, o Brasil é visto no exterior como um país pêndulo - que se alinha momentaneamente com a nação que oferecer mais vantagens.

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Para o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixador Eduardo Paes Saboia, a visita de Lula à China, logo após o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em fevereiro, não implica em um mal estar diplomático.

“Não há desconforto diplomático, Lula foi aos Estados Unidos, outros líderes irão à China. É natural, visitas e contatos entre os líderes ajudam a melhorar as coisas”, disse Saboia.

De acordo com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o governo vai trabalhar em acordos comerciais e na simplificação de processos de importação e exportação por meio da digitalização. Outro objetivo é abrir mercado para novos produtos brasileiros junto às autoridades chinesas.

“É uma comitiva bastante eclética, contemplando a diversidade do agronegócio brasileiro, não só daqueles que estão interessados em vender seus produtos, mas também em comprar, para que possamos avançar na agroindústria”, explicou Fávaro.

Mas, o grupo também deve ter viajantes controversos, como os empresários Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS. Flagrados por corrupção relacionada ao Partido dos Trabalhadores, eles firmaram um acordo de delação premiada com a Justiça em 2017.

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Influência da China sobre o Brasil vira alvo de questionamentos dos EUA 

Apesar da estratégia do Itamaraty para tentar minimizar as críticas por conta de uma eventual aproximação com o regime de Xi Jinping, senadores dos EUA questionaram autoridades do governo Joe Biden sobre a dependência do Brasil em relação a Pequim.

Na semana passada, no Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA, os parlamentares receberam Brian Nichols, secretário-assistente de Estado para Hemisfério Ocidental, e Richard Duke, vice-enviado especial para o Clima. O objetivo era discutir o estado das relações diplomáticas entre Brasil e EUA.

"A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil e o maior mercado para muitas das commodities brasileiras. Também é o maior investidor em projetos de infraestrutura. A China investiu em construir fortes relações com legisladores e com outros líderes brasileiros. Há uma forte base pró-China no país", disse Duke, assistente de John Kerry, ex-secretário de Estado que esteve no Brasil recentemente.

O governo norte-americano tem mostrado preocupação com a expansão da influência chinesa na América Latina, sobretudo pela chamada Nova Rota da Seda. Trata-se de uma iniciativa de financiamento de projetos de infraestrutura em nações em desenvolvimento que atingiu seu ápice em 2016 e vem declinando nos últimos anos. Ela deve ser substituída gradualmente por um programa chamado Iniciativa de Desenvolvimento Global.

O Brasil oficialmente não faz parte formalmente do projeto chinês, mas ainda assim recebe investimentos de Pequim por meio de empresas chinesas que se estabeleceram no país.

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Além disso, os senadores cobraram que o governo dos EUA aumente a pressão sobre o Brasil para condenar a Rússia na guerra da Ucrânia. "A verdade é que o Brasil não tem apoiado muito as sanções contra a Rússia", disse o senador o democrata Ben Cardin. O republicano Ricketts lembrou do pleito do Brasil de se tornar um membro permanente no Conselho de Segurança da ONU e questionou a "falta de apoio à integridade territorial da Ucrânia", bem como a recusa em enviar ao país munições de defesa antiaérea.

Como fica o "clube da paz"de Lula após posicionamento chinês sobre a guerra?

O Brasil depende da importação de fertilizantes da Rússia e tem evitado criticar Moscou abertamente. O presidente Lula chegou a afirmar que conseguiria resolver a guerra da Ucrânia convidando Putin e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky para "tomar cerveja".

Depois, Lula defendeu para o presidente americano e para o próprio Zelensky a ideia de formar um "clube da paz", que envolveria diversos países para mediar uma solução pacífica da invasão russa. A ideia chegou a ter o apoio do presidente francês Emmanuel Macron.

Mas, apesar de ter lançado a ideia, Lula nunca se pronunciou objetivamente sobre o ponto chave que tem frustrado todas as tentativas de mediação da paz na Ucrânia. A proposta de paz defendida por Zelensky e apoiada pelo Ocidente está baseada na premissa da retirada de todas as tropas russas do território ucraniano invadido. Já a Rússia quer um cessar-fogo que consolide as fronteiras do momento sem a retirada das tropas. Isso significaria que a Ucrânia teria que abrir mão de parte de quatro de suas províncias e da península da Crimeia.

Nesta terça-feira (21), Putin apoiou uma proposta de paz chinesa apresentada na semana passada por Xi Jinping. Apesar de tentar alcançar o fim das hostilidades, essa proposta favorece a Rússia ao não requisitar a retirada das tropas do Kremlin do território invadido na Ucrânia. O Ocidente avalia que um cessar-fogo nesses moldes só daria mais tempo para a Rússia preparar novas ofensivas armadas no futuro.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]