Apesar de ter escolhido o presidente Jair Bolsonaro para ser o seu principal adversário público, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vive hoje um embate direto com outro político: o deputado Aécio Neves (PSDB-MG). Com interesses antagônicos, os dois tucanos travam uma disputa interna por controle de poder e espaço dentro da legenda. Para Doria, perder essa briga interna pode significar deixar de disputar a Presidência em 2022.
Aécio Neves passou a atuar nos bastidores em Brasília depois da derrota em 2014 na disputa pela Presidência e após ter sido flagrado em conversas com o empresário Joesley Batista, da JBS, pedindo cerca de R$ 2 milhões em 2017.
Com a popularidade em baixa, o mineiro deixou o Senado em 2018 para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Na época, muitos adversários creditaram o “rebaixamento” que Aécio Neves se propôs, passando de senador para deputado, como fruto da decadência que o político passava. No entanto, cerca de quatro anos depois do escândalo da JBS, o tucano começa a ocupar espaços e a medir forças por poder dentro do PSDB.
A disputa pelo comando dos tucanos é histórica e sempre houve rodízios entre políticos mineiros e paulistas. No entanto, a ascensão de João Doria desde que foi eleito prefeito de São Paulo em 2016 incomodou velhos caciques do partido.
Com antigos nomes da sigla envolvidos em denúncias de corrupção e com o discurso da nova política em alta, Doria promoveu uma reorganização dentro do PSDB e colocou seus aliados em cargos estratégicos dentro dos diretórios.
No entanto, a postura que adotou durante a disputa pelo governo de São Paulo em 2018, quando abandonou a candidatura do seu correligionário Geraldo Alckmin para apoiar Jair Bolsonaro na disputa pelo Planalto, acabou lhe rendendo inimigos dentro do PSDB.
“Ele [Doria] chegou com a popularidade em alta e, depois de ter sido eleito prefeito, começou a ocupar ainda mais espaço dentro do PSDB. Com o ímpeto de limpar quadros antigos do partido acabou colecionando alguns adversários, entre eles o Aécio Neves, que ainda tinha forte influência interna”, explica um integrante do PSDB.
As tentativas de Doria de expulsar Aécio Neves
Já com o controle de boa parte do PSDB, Doria começou a investir nas articulações para tentar expulsar Aécio Neves do partido. No entanto, todas foram sem sucesso até o momento.
Em 2019, por exemplo, dois processos internos contra o mineiro acabaram sendo arquivados. Um dos pedidos tinha sido apresentado pelo diretório do PSDB na cidade de São Paulo. O outro, pelo diretório do partido no estado de São Paulo. Na época, Doria afirmou que o “velho PSDB escondia sujeiras” e que iria “até o fim” para expulsar Aécio.
Internamente, tucanos admitem que, apesar da impopularidade externa, nos bastidores o deputado mineiro atua em “prol dos interesses do coletivo” e que sua interlocução com as demais bancadas é “essencial nas costuras de acordos” dentro do Congresso.
E foi justamente essa atuação interna que provocou o último revés entre Aécio Neves e o governador de São Paulo. Durante a disputa pela presidência da Câmara, em fevereiro, João Doria trabalhou para que o PSDB apoiasse a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP). No entanto, quase metade dos 33 deputados tucanos acabou apoiando a candidatura de Arthur Lira (PP-AL), por influência de Aécio Neves.
Para tentar frear o deputado, ainda em fevereiro João Doria reuniu aliados em um jantar na sede do governo de São Paulo para traçarem uma nova estratégia de expulsão de Aécio.
De lá pra cá, o governador manobrou para tentar assumir a presidência da executiva nacional do PSDB. No entanto, a maioria dos tucanos acabou rejeitando a proposta e mantendo o atual presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, no cargo.
Mais uma vez Aécio Neves reagiu e, por meio de nota, classificou a tentativa de Doria de tirá-lo do partido como "lamentável" e "autoritária".
“O destempero do governador se deve, na verdade, à sua fracassada tentativa de se apropriar do partido, como ficou explicitado no jantar promovido por ele, que tinha como objetivo afastar o atual presidente Bruno Araújo, para que ele próprio assumisse a presidência do PSDB. Se o Sr. João Doria, por estratégia eleitoral, quer vestir um novo figurino oposicionista para tentar apagar a lembrança de que se apropriou do nome de Bolsonaro para vencer as eleições em São Paulo, através do inesquecível Bolsodoria, que o faça, sem utilizar indevidamente e de forma oportunista outros membros do partido”, afirmou Aécio na nota.
Deputado volta aos holofotes e "descarta" Doria como candidato a presidente
Agora, com Arthur Lira na presidência da Câmara, Aécio Neves já começa a colher os primeiros frutos das suas articulações e acordos. Conseguiu se eleger presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) da Casa.
Segundo aliados, o acordo para a presidência da comissão foi fechado entre Aécio Neves e Lira ainda durante a disputa pelo comando da Câmara. O fato irritou integrantes do PSL, que comandava o colegiado com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O posto tem visibilidade na Casa, já que a comissão tem interlocução com o Ministério das Relações Exteriores e com embaixadas de países estrangeiros.
Outro avanço de Aécio Neves na disputa pelo poder interno do partido ocorreu com a indicação do seu aliado, o deputado Rodrigo de Castro para a liderança do PSDB na Câmara. Segundo tucanos, a mudança aumentou a influência da bancada mineira na Casa e um recuo da bancada paulista, próxima de João Doria.
Na segunda-feira (15), em entrevista ao site Congresso em Foco, Aécio alfinetou Doria. "Reconheço o mérito do governador [Doria]. Acho que a questão da vacina, sem dúvida alguma, [em] boa parte se deve ao esforço dele. Mas eu digo e repito: a obsessão pelo marketing do governador de São Paulo é tão grande que até as virtudes dele acabam não trazendo os ganhos e apoios que ele poderia ter", disse Aécio, "O velho Tancredo [Neves, avô de Aécio] dizia que é preciso a gente 'sargentear' antes de ser general."
Aécio ainda disse não ver, atualmente, Doria como uma opção viável para ser o candidato do PSDB à Presidência. O deputado mineiro disse que o partido pode inclusive abrir mão de ter um candidato a presidente para apoiar algum nome do que chamou de "centro ampliado". Um dos presidenciáveis citado por Aécio foi Ciro Gomes (PDT).
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