O presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (à dir.).| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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O presidente Jair Bolsonaro demonstra desde antes da posse seu apreço por Israel e seu desejo de aumentar a parceria do Brasil com o governo israelense. Nos últimos meses, algumas de suas decisões e declarações mostram que essa afinidade pode ter consequências importantes na política externa e interna do Brasil.

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Israel foi o segundo país ao qual Bolsonaro fez uma visita bilateral (isto é, somente para discutir interesses entre dois países), em março, logo depois dos Estados Unidos.

Nas últimas semanas, dois acontecimentos trouxeram à tona a importância da relação com os israelenses. O primeiro deles foi a polêmica do vídeo de Roberto Alvim, ex-secretário de Cultura, com referências nazistas.

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Um dos principais motivos da exoneração de Alvim teria sido o impacto do acontecimento entre pessoas próximas do presidente que pertencem à comunidade judaica, principalmente o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley. O segundo foi o retorno dos rumores sobre o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel.

Bolsonaro prevê transferência de embaixada para Jerusalém em 2021

Durante sua visita à Índia, em entrevista a um canal de TV, Bolsonaro reafirmou sua intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que sinalizaria que o Brasil reconhece a cidade como capital israelense. O presidente prevê que isso poderá ser feito em 2021.

Em dezembro de 2019, o governo fundou em Jerusalém um escritório voltado à relação comercial entre Brasil e Israel, coordenado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O escritório foi prometido em março de 2019, durante uma visita do presidente a Israel, e é considerado um primeiro passo antes da transferência da embaixada.

"Eu acho que no próximo ano deveremos estar na posição para possivelmente transferir nossa embaixada para Jerusalém", afirmou Bolsonaro na entrevista. O presidente disse que tem conversado com líderes árabes sobre o assunto e que, até o momento, não houve nenhuma oposição à proposta. "Os Estados Unidos mudaram a embaixada para Jerusalém e não houve problema, e nós pretendemos fazer o mesmo, sem nenhum atrito", acrescentou.

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Embora o presidente afaste a hipótese de atrito, o próprio anúncio da criação do escritório de negócios do Brasil com Israel em Jerusalém, em março do ano passado, gerou mal-estar com o mundo árabe. O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, precisou agir para evitar uma crise, que ameaçava afetar a boa relação do Brasil com os árabes no setor agropecuário.

O Itamaraty mandou missões para países árabes logo depois da visita a Israel, com o objetivo de apaziguar as relações diplomáticas. O resultado dessas missões foi um convite para que Bolsonaro visitasse os países do golfo pérsico. A visita foi feita em outubro.

Comunidade judaica cobrou demissão de Roberto Alvim

No dia 17, Bolsonaro demitiu o dramaturgo Roberto Alvim da Secretaria Nacional de Cultura, depois que ele parafraseou o ministro da propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels. Políticos governistas e opositores avaliaram que a principal pressão veio da comunidade judaica no Brasil.

A Confederação Israelita do Brasil disse que considera "inaceitável o uso de discurso nazista pelo secretário da Cultura do governo Bolsonaro" e cobrou a demissão de Alvim. "Uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a Cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente", afirmou a entidade, em nota. "Quem recita Goebbels e o nazismo não pode servir a governo nenhum no Brasil", endossou a Federação Israelita de São Paulo.

Próximo do presidente e de seus filhos, o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, conversou com ele, mas preferiu a discrição e não fez comentários públicos. Ao jornal O Estado de S. Paulo, a representação do governo israelense em Brasília endossou a demissão de Alvim. "A comunidade judaica e o Estado de Israel estão unidos no combate a todas as formas de antissemitismo. Por esta razão, a embaixada de Israel apoia a decisão do governo brasileiro de exonerar o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim. O nazismo e qualquer uma de suas ideologias, personagens e ações não devem ser utilizados como exemplo em uma sociedade democrática sob nenhuma circunstância", disse a embaixada em uma nota.

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A Confederação Israelita do Brasil (Conib) divulgou comunicado em que afirma que a fala "é um sinal assustador" da visão de cultura de Alvim. "Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, é um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida."

Afinidade com Trump é incentivo para boa relação com israelenses

Além de manter boas relações com o governo israelense, Bolsonaro é parceiro de um grande defensor de Israel no cenário internacional: o presidente dos EUA, Donald Trump, principal aliado global do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Há poucos dias, o israelense fez uma viagem aos Estados Unidos e afirmou ter “laços estreitos com Trump”. Disse que, nos últimos três anos, encontrou “um ouvido receptivo na Casa Branca para as necessidades essenciais do estado de Israel”.

É inegável que a própria ideia de transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém não teria sido levantada como uma possibilidade por Bolsonaro em 2018 se os EUA já não tivessem reconhecido Jerusalém como capital de Israel um ano antes. Trump, em sua relação com o governo israelense, é um modelo para Bolsonaro.

Embaixador de Israel no Brasil é amigo pessoal de Bolsonaro

Yossi Shelley, embaixador de Israel no Brasil, já foi visto com Bolsonaro em várias ocasiões fora de compromissos oficiais. O diplomata mantém amizade com o presidente e sua família.

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Em junho, por exemplo, foi com o presidente ao estádio Mané Garrincha, para ver um jogo do Brasileirão entre Flamengo e CSA. No mesmo mês, esteve com Bolsonaro em São Paulo, na Marcha para Jesus.

Shelley também acompanhou o presidente na final da Copa América, no Rio de Janeiro, entre Brasil e Peru, em julho de 2019. Antes da partida, tirou uma foto com o presidente em que ambos pareciam estar comendo um lagostim e acabou sendo alvo de uma polêmica. Judeus não podem se alimentar de frutos do mar desse tipo. O diplomata não confirmou que tenha comido o lagostim, mas explicou ao jornal Folha de S.Paulo que não é praticante de nenhuma religião.

Presidente quer alguém “mais afinado” na embaixada do Brasil em Israel

Em dezembro de 2019, Bolsonaro disse que deve trocar o embaixador do Brasil em Israel – atualmente, o cargo é ocupado pelo diplomata Paulo Cesar de Vasconcellos.

Bolsonaro afirmou que "está no radar" indicar o coronel do Exército, da reserva, Paulo Jorge de Nápolis, ex-adido militar em Israel. "Não quer dizer que seja ele. O coronel está no radar. Foi adido militar por três anos lá", disse o presidente. "O que está lá, acho que está há mais de dois anos. É natural trocar."

Bolsonaro ressaltou querer embaixadores "mais afinados" com o governo. Também afirmou que pretende enviar mais jovens brasileiros para estudar em Israel. "Ver questão de agricultura, piscicultura, tecnologia. Quero uma garotada nossa sempre em Israel para fazer intercâmbio e voltar" disse ele.

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