A estratégia que o deputado Arthur Lira (PP-AL) tem empregado para conquistar votos na disputa pela presidência da Câmara é tentar contemplar tanto a base do presidente Jair Bolsonaro quanto partidos de esquerda, como o PT.
Considerado o candidato do Planalto, Lira tem a governabilidade como seu principal trunfo para ganhar o apoio do governo e dos governistas. O deputado é líder do Centrão, bloco de partidos que hoje é o principal eixo de sustentação de Bolsonaro na Câmara. Implicitamente, o apoio do Planalto a Lira garante que o Centrão permanecerá fiel ao governo.
Além disso, sua campanha pela presidência da Câmara tem como um dos principais eixos indicar, aos diferentes partidos, que as legendas ocuparão espaços de destaque na Casa se ele for eleito.
Lira também tem prometido que, embora tenha o apoio de Bolsonaro, não comandará a Câmara em pleno alinhamento com o Palácio do Planalto. Esse foi um dos motivos que tem possibilitado que o deputado posso fechar aliança para sua eleição até mesmo com o PT, de oposição ao governo.
Segundo o jornal O Globo, o deputado prometeu ao PT propostas como a discussão de um projeto de financiamento a sindicatos, a revisão de pontos da Lei da Ficha Limpa e o "combate ao lava-jatismo". Lira é investigado pela Operação Lava Jato, que atingiu também figuras de destaque do PT, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Outro ponto que aproxima Lira da esquerda é a distância que ele mantém da agenda de costumes e da pauta conservadora – ponto relevante para os apoiadores de Bolsonaro, mas que é alvo de contestação pela oposição.
"Acho que é um pouco de 'forçação' de barra acreditar que pelo fato de Lira ser apoiado pelo governo ele será um presidente submisso ao governo. Rodrigo Maia [atual presidente da Câmara] também teve apoio do partido de Bolsonaro em sua eleição e nem por isso foi um presidente submisso ao governo. Não vejo em Lira cacoete para a submissão", afirmou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), que desistiu de concorrer à presidência da Câmara para apoiar o líder do Centrão.
No ato público em que Arthur Lira lançou oficialmente sua candidatura em cerimônia, na quarta-feira (9), o deputado não mencionou o nome do presidente da República em nenhuma ocasião – o que foi interpretado como um sinal de que pretende ter independência em relação ao Planalto.
Lira também destacou, durante o seu discurso nesta quarta, que costuma ter diálogo com todas as forças políticas da Câmara, sugerindo que vai manter esse comportamento se for eleito. Ele lembrou que é o atual líder do PP, sugerindo diálogo interno em seu partido. Também afirmou que foi presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), a mais importante da Casa e que exige negociação permanente com as legendas.
Lançamento da candidatura de Lira teve presença de 8 partidos
O lançamento da candidatura de Arthur Lira contou com a participação de representantes de oito partidos, cujas bancadas somam 160 deputados – mostrando sua força.
Até agora, o líder do Centrão é o único concorrente à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) que já formalizou seu nome para a disputa, agendada para fevereiro.
A eleição para o comando da Câmara ganhou um novo cenário após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que Maia não pode concorrer a um novo mandato. O atual presidente da Casa ainda não indicou quem será o candidato que receberá seu apoio - entre os nomes cotados estão os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rossi (MDB-SP) e Elmar Nascimento (DEM-BA). Marcos Pereira (Republicanos-SP), que compunha o grupo de Maia, deve romper com o grupo e lançar uma candidatura autônoma.
Posições de destaque na Câmara atraem deputados
O deputado Marcelo Ramos (PL-AM) esteve na cerimônia de lançamento da candidatura de Arthur Lira. Sua presença no ato foi mencionada pelo líder de seu partido na Câmara, Wellington Roberto (PB), como um "ato de grandeza". Isso porque Ramos era também pré-candidato ao comando da Câmara, e só recentemente anunciou a desistência e o apoio a Lira.
Ramos retirou sua candidatura por causa de um acordo que o posicionou como nome de Lira para ser o primeiro vice-presidente da Câmara. "Tive que fazer uma escolha. Ou tinha a possibilidade de ser candidato e romper com meu partido, ou desistir da candidatura e partir para a possibilidade de ocupar um espaço na Mesa Diretora", declarou à Gazeta do Povo.
O primeiro vice-presidente da Câmara hoje é o deputado Luciano Bivar (PSL-PE) – que chegou à posição também por meio de uma costura política, já que à época da votação que elegeu Rodrigo Maia, em fevereiro de 2019, Bivar era o presidente do partido que tinha Jair Bolsonaro como filiado mais ilustre.
No lançamento de sua candidatura, Lira declarou também que gostaria que um dos postos da Mesa Diretora da Câmara no próximo biênio fosse ocupado por uma mulher. Atualmente, a única mulher no corpo diretivo da Casa é Soraya Santos (PL-RJ), primeira-secretária.
O aceno à bancada feminina foi celebrado pela deputada Margarete Coelho (PP-PI): a parlamentar disse que o candidato tende a "abrir espaço a pautas que estão negligenciadas" e que "não tem mais de um Arthur", numa alusão ao fato de que Lira não adotaria posturas diferentes no comando da Câmara e no seu cotidiano como deputado.
Para além da disputa de vagas na Mesa, Lira tem adquirido a simpatia de diferentes partidos por sinalizar que garantirá a eles espaços de poder nas rotinas de trabalho da Câmara.
Líder do Solidariedade, o deputado Zé Silva (MG) disse esperar que o candidato do PP "atenda à proporcionalidade". "Dentro das regras da proporcionalidade, nós temos uma comissão e temos também mais espaço para colocar em prática nossas demandas. Queremos espaço em relatorias, em projetos de lei", disse.
A proporcionalidade, na Câmara, determina que os partidos terão o comando de comissões e a relatoria de projetos de acordo com o tamanho de suas bancadas. A regra nem sempre é cumprida, o que desperta contestações de deputados.
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